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814 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 101

cia dos humanos perante a fatalidade de um destino irremovível e implacável.
Periodicamente Espinho é alvo destas tragédias; e pode por isso dizer-se que o problema da defesa da costa de Espinho é um problema crónico.
Mas, Sr. Presidente, porque é um problema, comporta uma solução.
Há quarenta ou cinquenta anos que o mar investe contra Espinho, anos mais, anos menos, mas deixando sempre, de uma maneira geral, vestígios indeléveis e danos irreparáveis dessas investidas.
Há poucos anos ainda o mar atingiu fortemente o bairro dos pescadores, deixando a muitos na maior miséria.
A essa desoladora situação acudiu pronto e presto o Governo do Estado Novo, mandando construir um amplo e asseado bairro de pescadores, a cuja inauguração, que teve lugar em fim de Dezembro de 1945, tive a honra de assistir, na companhia do então Ministro das Obras Públicas, engenheiro Cancela de Abreu, e de outros membros do Governo, e a cujos esforços, de colaboração com o Sr. Ministro das Finanças, se deve sem dúvida a iniciativa e construção daquela bela obra.
A população de Espinho está, seguramente, grata ao Governo da Nação pela realização daquele importante melhoramento.
O problema, porém, não ficou totalmente resolvido; atenuaram-se os seus efeitos mas não se atacaram as suas causas.
Após as primeiras arremetidas do mar, há perto de meio século, que fizeram desaparecer uma grande, senão a maior, parto da então povoação de Espinho, pensou-se pôr cobro a novas arremetidas, estudando-se, segundo a melhor técnica da época, a forma mais eficiente, mais prática e mais económica de opor uma barreira capaz de conter ou, ao menos, de quebrar a violência e o ímpeto das ondas, preservando a praia e acautelando os restos, ainda de pé, da povoação mártir.
Vem de então o conhecido - e ainda não igualado nem ultrapassado em eficiência - plano Von Haffe, que, em sua essência mais elementar, consistia na construção de esporões dirigidos perpendicularmente à linha de maior força das ondas e por forma a que estas, ao embater com esses escolhos, perdessem uma grande parte da sua força e da sua violência.
No desenvolvimento deste plano, que se afigurou capaz, construíram-se três paredões ou esporões -um a norte, outro a sul e outro ao centro da zona mais atacada-, e não há dúvida de que durante anos essas obras de defesa, embora rudimentares, mas ainda assim dá certo vulto para a época, desempenharam a sua útil função, impedindo por algum tempo o avanço impenitente do mar.
Mas com o decurso do tempo e devido, especialmente, ao contínuo assoreamento dos espaços intercalares, esses esporões quase desapareceram, submersos pelo areal.
Por isso pôde o mar, de novo, galgando-os facilmente, atingir outra vez a povoação, e, de há uns anos para cá, de cada vez com mais ímpeto, maior violência e mais funestos resultados.
Mau grado aquele assoreamento, os esporões como que deixaram de prestar, desde então, a sua função útil e normal.
Reconheceu-se, por via disso, a necessidade imperiosa de se prolongarem e altearem essas construções, já agora com o emprego de um novo material -o cimento-, que, em colaboração com a pedra, possibilita a formação de grandes blocos, sem dúvida mais eficazes, em todos os sentidos, do que a pedra a granel.
Neste sentido se fizeram nos últimos anos algumas obras; e até ultimamente se tentaram novos métodos pela construção de palissadas de pedra e madeira, sem contudo se pôr de parte, e, pelo contrário, aproveitando-o, o primitivo plano de defesa, da autoria do engenheiro Von Haffe.
Para aqueles que conhecem de perto o mar de Espinho há a crença fundamentada, sem melindre para os técnicos, de que o plano Von Haffe e o seu completo desenvolvimento é ainda o que deverá constituir de futuro a melhor defesa da praia de Espinho.
Como se sabe, o engenheiro Von Haffe, além de um profissional de subidos méritos, conhecia como poucos a costa de Espinho e os segredos e caprichos do seu mar.
Os seus estudos assentam, pois, em bases não puramente teóricas, mas principalmente em bases de experiência e de conhecimento directo do local e das circunstâncias peculiares da costa e do mar dessa região.
E o facto de até hoje a nova técnica ter tentado outros métodos, sem contudo abandonar aquele, antes prosseguindo-o, demonstra que o plano Von Haffe se tornou, por assim dizer, clássico.
Ora, Sr. Presidente, se assim é, se a experiência tem demonstrado que esse sistema de defesa da praia é o mais capaz e o mais eficaz, porque se não prossegue nele até sua completa conclusão por forma a por-se cobro, de uma vez para sempre, ao drama que continuamente atormenta a população de Espinho?
Eu sei que essas obras são de elevado custo; mas também sei que em tentativas falazes e não prosseguidas metodicamente se tem desperdiçado muito trabalho e algum dinheiro - esforços que, se fossem enquadrados num plano, não custariam talvez mais e poderiam vir a atingir a desejada finalidade de útil e eficaz defesa.
Há muito a vila de Espinho solicita dos Poderes Públicos a execução desse plano e a realização dessas obras, cuja necessidade se impõe de cada vez mais, tão certo, como se vem mostrando, aquela importante praia estar de novo ameaçada pela fúria do mar.
É-me grato, Sr. Presidente, pelas relações tão amistosas que me ligam a Espinho, fazer-me aqui, nesta Assembleia onde se faz ouvir perante o Poder a voz do povo, eco desse apelo e permitir-me chamar para ele a atenção do Governo nacional, que nunca se mostrou insensível aos rogos, às queixas e às reclamações justas.
E neste momento em que o mar mais uma vez atingiu a integridade da praia, danificando seriamente uma das suas mais monumentais construções -a Piscina Solário-Atlântico-, não podia eu ficar insensível a esse facto e deixar de juntar o meu rogo e o meu apelo aos daqueles que de Espinho rogaram e apelaram para o Governo.
Mas também não devo, porque seria imperdoável falta, deixar de agradecer deste mesmo lugar ao Governo a maneira carinhosa como acudiu a essa solicitação por intermédio de S. Ex.ª o Ministro das Obras Públicas.
Oxalá que desta feita se encete e se prossiga corajosamente a obra que urge fazer: a do prolongamento dos esporões começados, no pleno desenvolvimento do plano do engenheiro Von Haffe.
Sr. Presidente: a realização desse plano, além da vantagem de defesa da praia, podia comportar uma utilidade de outra ordem, que não é seguramente uma utopia.
Tem-se advogado na imprensa local, com justificadas razões, a ideia da construção de um porto de pesca em Espinho como um dos melhoramentos mais necessários ao desenvolvimento e progresso da vila e da região.
Terra eminentemente progressiva, com uma indústria em franco desenvolvimento, com enormes possibilidades, Espinho é também uma das pontas do caminho de