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908 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 106

zela foi afrontada, foi ferida, nesses metanos alicerces da sua longa vida de grandeza, de honra e de glória?
Pondo desta fornia perante o País o caso da extinção da comarca da minha terra, pergunto se é assim que os sentimentos pátrios se dignificam e fortalecem, desafio quem quer que seja a encontrar argumentos capazes de justificar a injustiça que atingiu Vouzela.
Apoiados.
Apelo para os sentimentos de nacionalista, sem mácula, do Dr. Cavaleiro, de Ferreira, ilustre Ministro da Justiça de Portugal, para quem, ao contrário de muitos, de quase todos, nesta época de monstruoso materialismo, uma pedra de armas vale mais do que uma pepita de ouro, Cavaleiro do Ressurgimento, que, para honra minha, a meu lado já teve a vida em perigo, sob os golpes da anti-Nação, para se debruçar um instante sobre este caso da minha terra - e fazer justiça!
Apoiados.
Apelo para S. Ex.ª o Presidente do Conselho, para Salazar, o timoneiro da nau, por mercê de Deus, a quem ouvi um dia que alguma coisa há que os canhões não destroem, certamente pensando nos altos valores que a minha terra se orgulha de possuir, para que se digne consagrar uns instantes do seu precioso labor ao caso de Vouzela.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas porque foi extinta a comarca de Vouzela, quando esta terra foi durante séculos e séculos a cabeça de Lafões?
Por economia?
Então extinguissem as de S. Pedro do Sul e de Oliveira de Frades, suas filhas. Seria mais económico e mais justo.
A comodidade dos povos exigia que fosse extinta antes a de Vouzela, a do centro, ouvi dizer então.
Qual centro?
A comarca de Vouzela não está no meio da de Oliveira de Frades e da de S. Pedro do Sul. Isso é um erro grosseiro de corografia, que seria ridículo rebater aqui, nesta Assembleia de homens de bem e que conhecem a nossa terra, erro que bondosamente se pode suportar, tolerar, ao turista burguês endinheirado, que só sabe que para se deslocar, em confortável automóvel, de S. Pedro do Sul para Oliveira de Frades tem de passar por Vouzela
Também se disse então que houve necessidade de extinguir a comarca da minha terra para não ficarem três tão próximas umas das outras. O mesmo erro do corografia já referenciado se observa nesta afirmação. Ficam próximas as três vilas, isso é verdade, mas as regiões dos três concelhos é que devem ser consideradas. Além disso, sendo esse o critério estabelecido, porque não se verificou tal medida em relação a outras terras? Entre as vilas de Lafões há maior distância do que a que separa, por exemplo, Vila do Conde da Póvoa de Varzim e Penafiel de Paredes. E nenhuma destas terras sofreu o desgosto de ver extinta a sua comarca.
Houve ainda quem afirmasse, quem segredasse aqui e ali, que o movimento judicial de Vouzela não justificava a existência da sua comarca. Mentira! Até o julgado municipal que hoje é tem maior, muito maior movimento, do que o de várias comarcas. Basta citar como exemplo o facto, que as estatísticas comprovam - e que é verdadeiramente chocante-, de já ter tido mais do dobro, mais do dobro, repito, do da comarca de Oliveira de Frades, sua filha - emancipada, como já disse, desde 1906.
Por este ligeiro resumo se verifica que não é só o aspecto sentimental que há a considerar no que respeita à comarca de Vouzela. Quis descer, embora o caso da
minha terra tenha de ser analisado em plano mais alto, até àqueles que só sabem tratar assuntos da vida através do «deveB e do «haver». Julgo que também esses concordarão que foi injusta medida a extinção da comarca de Vouzela. Brada aos céus tamanha injustiça r

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Representa negra ingratidão pêlos serviços que Vouzela prestou à Pátria e à civilização cristã; define a incoerência dos homens que nos pergaminhos históricos encontram o mais sólido argumento em defesa dos direitos de Portugal, face às ambições dos poderosos e dos grandes; é uma afronta a todos os portugueses que ensinam seus filhos a rezar e a dar u vida pela Pátria, afronta que afecta até quem a consente.
Só mais algumas palavras. Devo-as à memória de um homem que foi soldado da Revolução Nacional.
Porque trato agora publicamente, apenas agora, o caso da extinção da comarca de Vouzela?
Fiz parte da comissão nomeada em 1926 pela minha terra para defender a nossa comarca. Pouco fiz, muito pouco, mas, todavia, o que me foi possível, para que justiça fosse feita a Vouzela.
Ouvi então muitas barbaridades, sofri muitos ataques, à Revolução Nacional. Foi-se longe demais nas diatribes, nas ofensas ao Governo e, em especial, ao Ministro da Justiça Dr. Manuel Rodrigues - tão longe que foi ultrapassado aquele mínimo de elegância de linguagem e atitudes que exijo a quem comigo convive.
Ao Dr. Manuel Rodrigues prendiam-me laços de respeito pelo seu real valor, de gratidão por ser nosso companheiro na marcha de 1926 e pêlos serviços que prestou à Revolução Nacional -nada mais. Os seus defeitos... Quem os não tem? O maior que lhe conheci, tomara-o eu: um grande coração, unia bondade que o levava tão longe ... que chegava ao erro.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - Pois bem: a quem ofendeu esse homem público de tal forma que considerei esse procedimento como falta de respeito por si próprio proibi que tornasse a falar-me; e, como a questão comarca não só estava a ser tratada no plano de enxovalho rasteiro e mesmo a ser aproveitada, como alimento de desordem ..., afastei-me.
Que estas palavras rudes de uni soldado sejam tomadas como preito de homenagem à memória de um outro soldado da Revolução Nacional que bem serviu o País, embora tão cruamente ferisse a minha terra e os meus sentimentos nacionalistas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Publicamente, nunca voltei a falar na comarca de Vouzela, mas muitos sabem da ferida aberta, ainda a sangrar, na minha alma de vouzelense e de português.
Hoje, Deputado da Nação, não tendo em vista, como nunca tive, conseguir a menor importância local, obter interesses de qualquer ordem, como o demonstra a minha já longa vida de servidor, aproveito esta oportunidade para cumprir o que considero dever sagrado - como lafonense e como português.
Sr. Presidente: peço a V. Ex.ª paira ser intérprete, junto do Governo, do meu pedido de justiça para Vou-