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1000 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 111

que havia a seu respeito e, a propósito disso, soube o seguinte:
1.° Que os doentes pobres se inscrevem num dos dispensários;
2.° Que esse dispensário verifica se se trata de um caso curável;
3.° Que, embora não abandone o seu tratamento, pelo que diz respeito a medicamentos, só neste caso - no de se admitir a possibilidade de cura - o dispensário indica a entrada no Sanatório da Ajuda, onde, após um estágio de alguns meses, se indica também, por sua vez, se o doente deve ir para um sanatório de altitude;
4.º Que o dispensário manda o processo para o Instituto; e, finalmente,
5.º Que o doente entra no sanatório logo que lhe chegue a vez se, após esses longos meses - porque, em geral, há uma demora de muitos meses -, se verificar que está ainda em condições de cura.

O Sr. Marques de Carvalho: - Depois disso tudo vem a certidão de óbito...

A Oradora: - Tem V. Ex.ª razão.

O Sr. Formosinho Sanches: - Depois da entrega dos papéis no Sanatório da Ajuda há ainda uma demora mais ou menos de catorze a quinze meses.

A Oradora: - Imaginem V. Ex.ªs o que representam esses catorze ou quinze meses de espera!

O Sr. Formosinho Sanches: - Mas é que aquele sanatório tem apenas cento e vinte e uma camas.

A Oradora: - Não conhecia esse rapazinho, que nunca tinha visto antes; sei que é novo e que podia viver; lembro-me de que, nas suas condições, muitos outros hão-de esperar também a sua vez, de coração amargurado, vendo a lentidão do tempo a passar, desse tempo que lhes vai minando os pulmões e abrindo a sepultura, arriscando também a vida daqueles que o não afastarem do seu convívio.
Ora todos nós entendemos que o Estado tem obrigação de se desfazer em dinheiro, sem nos importarmos com a forma por que o há-de obter.
Pedir custa muito menos que dar, tanto mais que todos estamos sobrecarregadíssimos; mas seria, com efeito, muito bom que, entre as múltiplas despesas do Estado, se pudessem pôr estas num lugar de destaque, para que, reduzidos os casos da tuberculose, desaparecessem os perigos do contágio, e uma juventude forte e saudável surgisse em breve, para verdadeira tranquilidade do lar e para bem dos destinos da nossa Pátria.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Mas se cada um de nós, dentro do pouco que pudesse fazer, colaborasse com o Estado nesta grande obra de amor, auxiliando-o voluntariamente com o seu dinheiro ou com o seu trabalho, quantas coisas úteis se poderiam fazer já!..
Bis dat qui cito dat, diziam já os latinos. Não nos demoremos, pois, a dar, que pode ser demasiado tarde.
Nos liceus, por exemplo, há festas educativas, que, bem orientadas, poderiam contribuir para melhorar a condição de muitos tuberculosos pobres.
No Liceu Infanta D. Maria, em Coimbra, têm-se realizado, em benefício da sua caixa escolar, algumas festas educativas, que foram bem aceites pelo público, como o provaram as lotações do teatro, sempre excedidas, e a autorização, com palavras de louvor, concedida em 1940 por S. Ex.ª o então Ministro da Educação Nacional para se ir repetir em Braga, em benefício da creche, a nossa festa, carinhosamente ensaiada.
Ora então aqui, num meio como Lisboa, em que uma peçazinha infantil, bem apresentada, poderia ser levada vezes sem conto em matinée, uma vez por semana, sem o menor prejuízo do rendimento escolar, que grande lição de amor se podia dar às crianças, habituando-as a divertir-se com nobreza, na execução de peças morais, cujo fundo ficaria gravado na sua alma, e cujo desempenho poderia levar algumas dezenas de contos, todos os anos, aos tuberculosos pobres!...
Apoiados.
A minha grande colaboradora em Coimbra, então lá professora de Canto Coral e actualmente no Liceu D. Filipa de Lencastre, alma de verdadeira artista, que me ensaiava os coros e bailados, foi a Sr.ª D. Sara de Sousa, e penso bem que, se o Estado quisesse aproveitar-se dos nossos trabalhos, ela me não negaria mais uma vez a sua colaboração; também muito me auxiliou no mesmo sentido, quando esteve em Coimbra a exercer as mesmas funções no Liceu, a Sr.ª D. Sara Navarro Lopes, agora no de Maria Amália, e as Sras. D. Deolinda Martins e D. Encarnação Alcântara, que apresentaram, com enlevo do público, lindíssimos números de ginástica rítmica.
A antiga reitora, D. Elisa Figueira, agora professora no Liceu D. Filipa de Lencastre e a actual reitora, D. Dionísia Camões, souberam compreender o grande papel educativo das festas escolares.
E nunca esquecerei o trabalho intenso, a verdadeira dedicação e carinho que a estas festas, nitidamente artísticas, foram dedicados por todas as professoras, especialmente as Sras. D.as Ilda Figueiredo, Sara Figueiral, Gracinda Mateus, Dozinda Alcântara e Maria Júlia Antunes, bem como a delicadeza, altruísmo e bondade com que todas as peças foram musicadas pelo ilustre professor P.e Tomás Borba.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Ora, que coisa linda, instrutiva e útil, sem prejuízo dos trabalhos escolares, se poderia ir ensaiando lentamente, com o consentimento das respectivas reitoras e a colaboração de todos os elementos que por isto se pudessem interessar!
Numa cidade como Lisboa, onde, neste sentido, há tão bons elementos nos liceus, como a Sr.ª D. Olímpia Bastos, cujo nome é já bem conhecido; numa cidade onde não faltam as melhores professoras de canto e de ginástica, porque se não há-de dar às festas escolares, cujo valor educativo é universalmente reconhecido pomo absolutamente necessário, o seu verdadeiro carácter educativo e artístico?

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - E porque se não hão-de orientar estas festas num sentido humanitário, destinando o seu produto a uma das maiores obras de beneficência?
Ao meu alcance penso que não está mais nada. Se o Estado entender que lhe serve a minha colaboração, dar-lha-ei com toda a minha alma, certa de que muitos contos entrarão nos cofres do Estado e suavizarão as angústias dos tuberculosos pobres, para quem os meses que precedem a sua sanatorização se contam quase por séculos.
Temos este período legislativo quase no fim. Contudo, penso que se podia já começar a trabalhar, sem pressas, vagarosamente, para não haver depois prejuízos escolares.
Os coros das peças poderiam ser ensaiados, em conjunto, nas respectivas aulas de canto coral; a declama-