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1002 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 111

O Sr. Quelhas Lima: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: sinto quase o dever de cometer perante V. Ex.ªs um acto de contrição por na sessão da manhã de hoje não ter respondido imediatamente, dentro de certo terreno seguro e do meu firme conhecimento, às considerações vibrantes, metálicas, do Sr. Deputado Pinto Coelho a propósito de problemas que importam às terras de Cabo Verde.
Não o fiz porque senti certo atordoamento pela matéria versada, e, como era desconhecedor dos seus aspectos de carácter técnico, a perplexidade paralisou momentaneamente o espírito de reacção pronta, embora possa dizer, sem jactância, que não me escassearam reflexos mentais de valor modesto para fulminantemente repor em devido e digno lugar, e com o mais rigoroso jus, o homem que governa Cabo Verde.
A forma com que o Sr. Deputado Pinto Coelho, ora aqui, ora ali, aludiu ao governador de Cabo Verde tocou a minha sensibilidade, e nesta matéria tenho a que tenho e dela sou inteiramente responsável.
Repito que as considerações do Sr. Deputado Pinto Coelho sobre a actuação da Saga em matéria económica são inteiramente estranhas ao meu conhecimento e não sei se entendimento - e ainda bem -, mas o que não desconheço é a alta estatura intelectual e moral do homem que sacrificariam ente se encontra à testa da governação daquela colónia.
Se, Sr. Presidente, como primeiro magistrado desta Assembleia, se V. Ex.ªs, Srs. Deputados, me solicitassem para depor sobre o comandante João de Figueiredo, governador de Cabo Verde, não poderia responder sob a fórmula consagrada: "Aos costumes disse nada". Não! Teria de dizer, confessar com orgulho e altivez, que sou amigo fraterno, medular sentimento de bem querer a esse homem, aliás como todos aqueles que o conheceram no meio onde essencialmente desenvolveu o seu espírito nobre e adulto e que o seguem no seu caminho público como os seus mais rigorosos e inflexíveis censores e ainda aqueles outros que privaram de perto com ele nos altos cargos públicos que nas colónias tem desempenhado e onde a sua capacidade administrativa e integridade de carácter falam bem alto-rectamente ao serviço da Pátria, a quem ama e serve com exaltação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Dotado de uma coragem física e moral do primeiro plano, de uma austeridade de costumes exemplar, honestidade e escrúpulo nas acções de um companheiro de Catão, solidíssima cultura técnica e humanista, exerce no momento a governação de Cabo Verde com sacrifício pessoal inegável, pondo, como sempre, nas suas acções a seriedade e serenidade do justo e a mais enternecedora, mas decidida, saudável, nobilitante compreensão por todas as desgraças e misérias que afligem e assolam as gentes daquelas terras.
Cabo Verde, que conheço geogràficamente de forma sofrível, mas sem entendimento particular ou intrínseco da sua geografia humana que conscientemente me autorize a pronunciar com rigor, sei, e sabemos, contudo, que de quando em quando o agregado insular é flagelado por ventos áridos, quase mortais, que geram fomos periódicas e até, Sr. Presidente, quer-me parecer, fomes técnicas...
Diante do pungente drama estou a ver erguer-se como um Hércules o comandante João de Figueiredo de cordas na mão, clava, se tanto for necessário, para correr os vendilhões do templo e proteger dentro das suas forças o primário preto, ser humano simples e em geral bom, e incapaz de consentir um momento sequer o tratamento daquelas gentes como escória, objecto ou simples e desprezível instrumento.
Quando assim me refiro ao comandante João de Figueiredo, governador de Cabo Verde, não me limito exclusivamente à sua pessoa.
Não sou homem de colónias, infelizmente, mas tenho absoluto respeito por todos aqueles que lá lutam e se dessangram por uma Pátria sem vassalagem, porque por aqui já temos de remexer as entranhas da terra para ir vivendo sem solavancos de maior.
Não poderia, Sr. Presidente, dentro do meu conhecimento próprio, deixar de apontar vivamente, e até com emoção, os caracteres de eleição que se abrigam no comandante João de Figueiredo, e lamento não ter conhecimento efectivo, desapaixonado, das questões técnico-administrativas e dos chamados erros que, de envolto com outras considerações, o Sr. Deputado Pinto Coelho fustigantemente produziu na sessão desta manhã. Mas julgo poder afirmar que a ordem económico-administrativa que rege a tal Saga foi sancionada, ou até determinada, pelo Ministro das Colónias, Sr. Marcelo Caetano. E então pergunto: sendo da responsabilidade deste Ministro a actuação da tal Saga, porque não toma o Sr. Deputado Pinto Coelho posição em lógica oportunidade com a entidade que julgamos responsável?
Anuncia com fragor o Sr. Deputado Pinto Coelho um aviso prévio sobre a matéria. Benvindo seja o apregoado aviso, porque estou certo cie que o digno Ministro das Colónias, Sr. Teófilo Duarte, galhardamente não deixará de apresentar à Assembleia Nacional tudo quanto se passa para os efeitos de justiça integral.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Vou apenas até aqui, e consoante os elementos de que disponho, para o que não tive necessidade de catedrática partitura ou galeriante auditório na defesa rija dos valores humanos, como o comandante João de Figueiredo, que ainda temos ou, melhor, nos restam.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, paru explicações, o Sr. Deputado Pinto Coelho.

O Sr. Pinto Coelho: - Sr. Presidente: eu sei bem como o tempo urge para os trabalhos da Assembleia e vou, portanto, ser o mais breve possível.
Estas minhas explicações tornaram-se necessárias, como certamente já foi compreendido por todos os presentes, pelas palavras que acabam de ouvir ao nosso ilustre colega Sr. Quelhas Lima.
Quero crer que S. Exa., com aquela amizade por S. Ex.ª o governador de Cabo Verde que eu invejo e que muito desejaria alguém tivesse para comigo, confundiu, ao ouvir-me falar esta manha, a vivacidade da minha expressão com o conteúdo das minhas palavras.
Não era minha intenção, e disso não me acusa a consciência, atacar ou diminuir a pessoa do Sr. governador de Cabo Verde. Nada disse que pudesse brigar com a sua honestidade, não me referi à sua inteligência, que não ponho em dúvida, não pus em dúvida a sua cultura, pela qual tenho respeito; apenas referi aquilo que eu considero erros de administração em matéria económica, cometidos pela Saga.
Portanto, se eu estou enganado, se o que eu disse pôde deixar em quem me ouviu a impressão de que eu sou capaz de pôr as pessoas adiante dos problemas, se