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24 DE MARÇO DE 1947 1001

cão, logo que se acerte com a escolha dos elementos que nela deverão tomar parte - o que é sempre o trabalho mais ingrato e mais extenuante - , vai depois relativamente depressa.
E assim poderíamos ter, já nos fins do próximo mês de Novembro, quando começasse o terceiro período legislativo, um teatrinho infantil que, desviando as crianças do mau cinema que as perverte (Apoiadas), lhes satisfizesse as legítimas aspirações artísticas e desse asas à sua imaginação, divertindo-as nos momentos em que o espírito carece absolutamente de qualquer coisa que o distraia.

Vozes: - Muito bem !

A Oradora : - E essas mesmas crianças, que se divertiriam divertindo outras, ficariam com a ideia salutar de que o seu trabalho infantil, orientado num sentido humanitário, tem já um grande valor - e tão grande que é capaz de arrancar às garras da morte os que estavam condenados!...
Sr. Presidente: com a ajuda de Deus não tenho medo nenhum do resultado desta tentativa. Tenho visto todas as peças infantis que se têm representado em Lisboa, e vejo sempre o teatro cheio de gente; sei que as crianças que têm feito as suas representações em Coimbra, espalhadas mais tarde pelas diferentes terras do País, têm conseguido repeti-las por lá e que, embora cheias de deficiências - como é fácil de ver, porque são ensaiadas por crianças que muitas vezes nem sequer desempenharam os principais papéis nas peças - , essas representações conseguem interessar o povo, angariando-se dinheiro para obras de beneficência.
Recebi muitas cartas dessas antigas alunas, em que me pediam conselhos ou relatavam o seu êxito.
Gostava tanto de que o Estado me autorizasse a realizá-las em Lisboa e de encontrar, da parte das Exmas. reitoras e colegas dos liceus femininos, essa comunhão de ideais que nos leva a uma colaboração desinteressada e sincera, sem emulações mesquinhas, num verdadeiro sentimento de arte e caridade cristã!...
Tenho a impressão de que seria um bom auxílio para o triste caso a que me referi, do internamento destes infelizes.
Ponho este alvitre, num preito de homenagem, nas mãos de S. Exas. os Ministros da Educação Nacional e do Interior, e toda a minha boa vontade, o meu trabalho, a minha alma, nas dos tuberculosos pobres.
Disse.

Vozes : - Muito bem, muito bem!

A oradora foi muito cumprimentada.

O Sr. Pastor de Macedo: - Sr. Presidente: no dia 22 do próximo mês de Outubro faz 800 anos que Lisboa moura capitulou. No dia 25 do mesmo mês faz 800 anos que o primeiro Rei de Portugal entrou vitorioso na cidade com o seu exército e com os dos cruzados estrangeiros que das suas terras saíram com destino a Jerusalém. É esse acontecimento, da maior importância para a consolidação do reino então nascente, que dignamente vai ser comemorado por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa e com a cooperação do Governo.
E como o período destinado às comemorações decorrerá quando esta Assembleia tem já os seus trabalhos suspensos, aqui venho hoje lembrar o facto, eu que, como Deputado por Lisboa, não poderia deixar de o lembrar.
E nesta evocação da tomada da cidade aos infiéis, desses primeiros passos da Nação, que se formava e que procurava o seu rumo, não posso deixar de a evocar,
alcandorada primeiro no monte principal, estravazando depois as suas muralhas por uma e por duas vezes, alastrando em todos os sentidos, ao sabor de todos os gostos, cortando almoinhas e hortejos, até tornar-se a Princesa do Mar Oceano, e depois, até nós, alastrando mais e muito mais, embonecando-se, amaneirando-se, até tornar-se a cidade que todos conhecemos - essa cidade cheia, de história e de luz, cheia de encanto e de pitoresco, que a todos prende e cativa, lisboetas, nados e criados nos seus bairros tão característicos, portugueses vindos do aquém e de além-mar.
Uma das capitais mais antigas da Europa, pode-se dizer que a sua história é a história da Nação. Nela se defendeu e restaurou a independência pátria, nela se armaram exércitos para a conquista e ocupação africana, nela se aparelharam armadas para a descoberta de novas rotas, marítimas e cujas caravelas que as seguiram, a tonas as partes da terra, juntamente com o nome português, levaram a palavra de Cristo. Nesse momento Lisboa é o grande porto da Europa, o maior entreposto comercial e, mais ainda, a capital do Mundo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Nela nasceram santos e papas, reis e príncipes, heróis e artistas e uma infinidade de homens notabilíssimos em todas as actividades. E quantos nomes estreitamente ligados à existência da nossa cidade haveria a recordar! Mas na impossibilidade de recordá-los a todos - seria um nunca acabar - lembremos aqueles que em qualquer circunstância teriam sempre de ser lembrados: D. Afonso Henriques, que a conquistou; D. Afonso III, que fez dela a capital do Reino; D. Dinis, que a dotou com o Estudo Geral; D. Fernando, que a protegeu com muralhas; D. João I, que a defendeu do invasor; D. Afonso V, que assegurou os seus destinos imperiais; D. João II, que planeou a sua grandeza; D. Manuel I, que fez dela a grande cidade cuja fama reboou por todos os cantos do Mundo; Sebastião José de Carvalho e Melo, que a reconstruiu depois do terramoto de 1755. E quantos e quantos mais!
Sr. Presidente e Srs. Deputados: neste momento, em que a capital completa os seus 800 anos de cidade cristã e portuguesa, evoquemos, a memória de todos, grandes e pequenos, que para a sua grandeza contribuíram, que por ela morreram, que a ela votaram o seu labor e que, nascidos nela, por qualquer maneira levantaram o prestigiaram o nome português. E não deixemos também de falar nesse povo lisboeta, que através dos tempos soube viver e sentir as horas de regosijo e de angustia da cidade, que, pacífico de seu natural, foi guerreiro e valoroso quando teve de o ser, que, cioso das suas liberdades, desde sempre outorgadas pelos nossos reis, soube apreciá-las e usá-las com dignidade.
Lisboa, que gozou a paz quando outras cidades não puderam furtar-se aos horrores da guerra, pode por isso, em consciência, promover a realização das comemorações centenárias. Mas não pode fazê-lo sem agradecer a Deus tão grande benefício sem vincar a circunstância de o Governo da Nação ter estado entregue a quem da guerra nos preservou.
Eu, por mim, como português e lisboeta, agradeço a Deus e registo a circunstância, e faço votos pela eternidade desta mui nobre e leal cidade de Lisboa, rainha do majestoso Tejo e gloriosa capital do Império Português.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.