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26 DIÁRIO DAS SESSÕES-N.° 110

E de prever é também que um ou outro vasto plano de acção que o Diário do Governo não arquivou, mas que marcam o rumo de alguns Ministérios, destacadamente daqueles em que o comando está entregue a ilustres técnicos, isto é, a engenheiros muito distintos, venham a ser aqui glosados, no empenho de se transmitir ao Governo o seu reflexo na vida nacional, concorrendo assim para a sua indispensável adaptação ao imperativo das realidades.
Outros acontecimentos da maior transcendência se verificaram fora da influência directa do Governo.
De entre tantos, Sr. Presidente, eu entendo dever destacar, pela sua incontestável importância, pelo seu altíssimo significado e porque se verificou há poucos dias, isto é, a 21 de Novembro último, a inauguração do Centro de Estudos Económicos e Financeiros na antiga e prestigiosa Associação Comercial do Porto, a que actualmente preside a figura por muitos títulos ilustre do Sr. António Calem, representante de uma distinta família à qual o Porto e a Nação devem assinalados serviços, especialmente no campo da assistência e no importantíssimo sector económico-financeiro.
Sr. Presidente: na minha qualidade, que muito aprecio, de sócio honorário daquela utilíssima e patriótica Associação, eu fora convidado para assistir à sua assembleia geral realizada em Julho próximo passado.
Esperava-me uma surpresa confortadora, porque, entre outros assuntos importantes e de marcada actualidade, foi logo no início da sessão apresentada, com o apoio de todos os componentes da ilustre direcção daquela colectividade, uma proposta da iniciativa do muito distinto portuense Sr. Pedro Maria da Fonseca, continuador do espírito dinâmico e construtivo dos mercadores que desde tantos séculos vêm notabilizando aquele antigo mas sempre valoroso burgo.
Referia-se a proposta à organização, por aquele tão prestante organismo, do Centro de Estudos Económicos e Financeiros.
Em breves mas eloquentes palavras foi a proposta justificada como prosseguimento da tradição desde sempre seguida pela Associação Comercial do Porto, órbita onde brilham iniciativas- excelentes e, muito particularmente, nos domínios da instrução; e, também, porque visa a preencher uma lacuna com que as actividades económicas daquele importantíssimo burgo vêm lutando, notoriamente depois que os privaram do seu Instituto Superior do Comércio.
À proposta correspondeu o entusiasmo de toda a assembleia, ouvindo-se a seguir discursos de congratulação de vários ilustres sócios.
Sr. Presidente: também eu usei da palavra, não só para me congratular com um acontecimento que ficará a brilhar nos fastos associativos, mas para informar que na última sessão legislativa, durante os debates sobre a proposta de lei relativa ao ensino técnico, o assunto fora, com aplauso da Assembleia Nacional, tratado por mim e, no dia seguinte, pelo nosso distinto colega Sr. Dr. Couceiro da Costa, conforme está registado nos n.°s 78 e 79 do Diário das Sessões, tendo-se então demonstrado a justiça, indispensabilidade e urgência da criação de uma Faculdade de Ciências Económicas e Financeiras na Universidade do Porto.
Referi-me então às valiosas e oportunas iniciativas dos burgueses portuenses de que resultaram a Aula de Náutica e a seguir a Aula de Debuxo e Desenho, que o nortenho Passos Manuel veio a transformar na Academia Politécnica do Porto.
Por iniciativa da Associação Comercial do Porto foram também criadas escolas elementares, com larga frequência- do rapazes do comércio, e a cadeira de Economia Política, que veio depois a integrar-se na Academia Politécnica e que hoje faz parte da Universidade do Porto.
Sr. Presidente: como venho de informar V. Ex.ª, a criação do Centro de Estudos Económicos e Financeiros foi votada por aclamação em 2 de Julho último.
Logo a seguir foi constituída pêlos Sr s. António Calem, Pedro Maria da Fonseca, Dr. Vasco Mourão e professores Dr. António de Mendonça Monteiro e Dr. Domingos Rosas da Silva a comissão organizadora.
Pouco tempo volvido eram elaborados os estatutos do novo Centro de Estados e o respectivo programa.
Seguiu-se logo a abertura da matrícula, mas teve de ser encerrada pouco depois, porque já passavam de 500 os alunos matriculados e não havia sala com capacidade para maior frequência.
Finalmente (milagre do conhecido dinamismo portuense), no dia 21 de Novembro, isto é, cerca de quatro meses após a referida votação, inaugurava-se solenemente o 1.° ciclo escolar daquele magnífico instituto, com a presença das autoridades, das pessoas mais categorizadas do Porto e de muita gente, que se apinhava na sala, corredores e escadaria, onde alto-falantes levaram a voz dos que então discursaram, bem como a primeira lição, ouvida com a maior atenção por toda a assembleia e, muito particularmente, pêlos 550 alunos que ali se comprimiam.
Finda a sessão, perto da meia noite, fui subindo a Rua Ferreira Borges, o Largo. de S. Domingos, a Rua das Flores, os Lóios, até à Praça da Liberdade, a marcar passo ao lado de numeroso grupo de alunos, entre os quais se contavam figuras muito conhecidas do meio comercial e industrial do Norte, cujos comentários à lição magistral eu ia ouvindo embevecidamente.
Interessava-os toda a prelecção, mas iam glosando os períodos com que se encerrara a primeira lição, alusivos à desmaterialização da moeda, e mostravam-se interessados em adivinhar a resposta a certas interrogações feitas pelo conferente e prometidas para a próxima lição.
Detrás dos balcões que se alinham ao longo das ruas do velho burgo do Porto não vive apenas, como injustamente alguns supõem, o espírito, aliás legítimo, do lucro.
Quem lidar de perto com a laboriosa população que ali se aglomera logo encontrará, além do mais acendrado civismo e de comprovada generosidade, um grande anseio de conhecimentos de toda a natureza. Frequentemente ouvirá referências tristes à supressão da sua Faculdade de Letras, que ainda não foi restaurada, apesar de já funcionarem os Institutos de Coimbra e Lisboa, que foram suprimidos juntamente com ela.
Da mesma forma registará grande desgosto por não ter sido criada a Faculdade de Ciências Económicas e Financeiras logo após a supressão do Instituto Superior do Comércio, supressão que geralmente se interpretava como o primeiro passo para a instituição daquela Faculdade, tão justificada e precisa num meio essencialmente económico como o do Porto e de toda a vasta e importante zona nortenha.
Sr. Presidente: os alunos que dispõem de recursos para frequentarem em Lisboa e Coimbra os institutos portuenses que foram suprimidos lá se vão deslocando, só Deus sabe com que sacrifícios, que fácil seria evitar.
Mas os restantes, e que são muitos, vão-se aglomerando noutros estabelecimentos de ensino que mal comportam a actual frequência.
A Faculdade de Ciências é frequentada por perto de 1:000 alunos, a de Engenharia por quase 600, na de Medicina andam por 600 e na de Farmácia passam de 300.
Nos institutos e escolas industriais regista-se autêntica pletora de alunos.
Pois o anseio da cultura é tal que o Centro de Estudos Humanísticos, anexo à Universidade do Porto, recentemente criado por iniciativa foi?? da Câmara Muni-