36 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 116
encontrou um dos elementos primaciais da sua riqueza e do seu progresso, confia e crê que os seus recursos e dons naturais voltarão a desempenhar função preponderante no conjunto da sua economia logo que o permitam as condições gerais do Mundo.
A Madeira deve à acção conjugada do Governo e da Junta Geral Autónoma do Distrito um conjunto verdadeiramente notável de benefícios e melhoramentos. Entre tantos, merecem referência especial a construção de uma larga rede de estradas e as obras de aproveitamentos hidráulicos, agora em plena efectivação.
Mas é necessário dar mais um passo em frente, para a Madeira ver cabalmente satisfeitas e realizadas as suas mais legítimas e importantes aspirações da nossa época.
Disse.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi cumprimentado.
O Sr. Figueiroa Rego: - Sr. Presidente: envio para a Mesa o seguinte requerimento:
«Requeiro que, pelo Ministério da Economia, me seja fornecida, com a possível urgência, pela respectiva Secretaria Geral, cópia autêntica da sua circular n.° 102, de 24 de Março de 1939 (do antigo Ministério da Agricultura)».
O Sr. Antunes Guimarães: - Sr. Presidente: tive há dias a honra de, juntamente com os Srs. governador civil do distrito do Porto, presidente da Câmara Municipal daquela cidade, delegado da Direcção Geral dos Desportos, director dos serviços hidráulicos do norte e presidente da Associação Industrial Portuense, nosso ilustre colega Sr. engenheiro Mário Borges, a quem se deve a feliz e oportuníssima iniciativa da exposição com que se projecta celebrar o 1.° centenário daquela tão prestante e prestigiosa colectividade, foi-me dada a honra e satisfação, vinha eu dizendo, de ser recebido por S. Ex.ª o Ministro da Economia, ilustre filho daquela laboriosa e progressiva cidade.
Em breves, eloquentes e bem fundamentadas palavras, o Sr. engenheiro Mário Borges expôs a razão do certame com que se visa celebrar aquele centenário na cidade do Porto, isto é, no solar da indústria portuguesa, grande centro das actividades nortenhas, onde nasceram muitas das nossas artes e ofícios, contando algumas tantos séculos quantos os da nacionalidade, cujo 8.° centenário o País, em toda a sua vastidão imperial e com a presença de representantes de quase todo o Mundo, celebrou há meia dúzia de anos com o maior luzimento.
Sr. Presidente: com razão e aplauso geral, o Governo abriu os cofres do Estado para que as comemorações centenárias correspondessem em tudo à grandeza dos acontecimentos heróicos que serviram de pedestal à nacionalidade.
E todos conservamos recordação indelével das numerosas solenidades constantes do respectivo programa.
O que se passou na minha terra natal, em Guimarães, especialmente junto do castelo roqueiro, que então se elevava de uma montanha de flores para ali levadas processionalmente por milhares e milhares de raparigas de toda aquela pitoresca região, a missa rezada pelo eminente Cardeal Patriarca de Lisboa no altar de prata tomado aos espanhóis em Aljubarrota, o discurso do Sr. Presidente do Conselho, o hasteamento da bandeira pelo Sr. Presidente da República no alto da imponente torre de menagem, as manifestações entusiásticas do povo, enfim tudo o que nossos olhos viram e os ouvidos escutaram foi um deslumbramento que nunca mais pode esquecer aos que tiveram a fortuna de lá estar.
Pena foi que daquele programa grandioso, com tão avultado orçamento, notoriamente no que respeitava ao certame do Mundo Português, não tivesse ficado um monumento que perpetuasse pêlos séculos além a data então festejada, como, aliás, temos o conforto de verificar em Alcobaça, na Batalha, nos Jerónimos e em tantos outros cuja arquitectura, estilo, inscrições e outros elementos construtivos se adaptam à maravilha e vão recordando às gerações acontecimentos a cuja consagração foram votados.
Sr. Presidente: o Sr. engenheiro Mário Borges, que. prestigiosamente preside à Associação Industrial Portuense, a qual em 1949 completa o seu 1.° centenário, demonstrou ao ilustre titular da Economia as incontestáveis vantagens da celebração naquela data de uma grande exposição industrial, que não deixará de patentear, justamente quando todas as nações se apetrecham para o grande esforço industrial de que o Mundo tão carecido está, que Portugal, após uma longa marcha difícil e morosa, durante a qual lutou com factores adversos, destacadamente com a carestia de energia, por deficiência de carvão e precário aproveitamento do seu potencial hidráulico, já produz muitos artigos que não receiam confronto com os similares estrangeiros, apesar de muitas vezes confundidos lamentavelmente com eles, e não tardará que, mercê da política de fomento económico do Estado Novo, expressa em grandes centrais hidroeléctricas, em melhoramentos rodoviários, ferroviários e portuários, bem como no ensino técnico profissional, que uma recente lei manda aperfeiçoar, dando-lhe orientação mais prática, Portugal veja seus industriais e trabalhadores de aquém e de além-mar ocupar na produção mundial lugar de maior destaque.
Mas para que a projectada exposição esteja à altura do entusiasmo que o respectivo projecto despertou em toda a metrópole, nas ilhas e províncias ultramarinas teve de ser posta de lado a ideia de a instalar no Palácio de Cristal, cujas actuais dimensões seriam manifestamente insuficientes para os expositores que já se anunciam.
Surgiu então a ideia da demolição do actual edifício e construção no mesmo local de um novo palácio, completado por vários pavilhões, construídos no admirável bosque que ali existe e é por todos admirado, não só pelo seu inconfundível pitoresco, mas pêlos seus espécimes raríssimos e frondosos.
Com aplauso geral, a Câmara Municipal do Porto indeferiu o requerimento que lhe fora dirigido e sugeriu que o novo palácio fosse erguido junto do Castelo do Queijo, o que não foi julgado conveniente, por ficar longe da cidade, com transportes insuficientes e encostado ao mar, cuja atmosfera poderia ser nociva a muitos artigos que ali viessem a ser expostos.
A cidade aplaudiu o indeferimento da solução que implicava a demolição do velho Palácio de Cristal, porque sabe que ele nasceu da iniciativa ousada, mas desinteressada, de um grupo de bairristas portuenses, animados por D. Pedro V, que o fizeram erigir à sua custa, sem espírito de lucro, apesar de o grande empreendimento ter custado uma enorme fortuna, para que no Porto, solar da indústria nortenha, se pudessem organizar certames que constituíssem estímulo a todos os que trabalham na produção nacional.
Para os portuenses o Palácio de Cristal, manifestação do mais puro civismo, é um templo que importa conservar religiosamente, em homenagem aos ilustres tripeiros a quem a cidade o deve, para lição de alto bairrismo aos vindouros e continuação da multiplicidade de incalculáveis serviços que à totalidade das actividades económicas de todo o Norte vem prestando há