194 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 128
tando-os uns com outros, como chego a, pedir-lhes, saibam o motivo por que são mais ou menos classificadas.
Pois em turmas de quarenta é muito difícil, senão impossível, ficar a conhecer bem os alunos. No primeiro período chega a ser aflitivo classificá-los: os exercícios é que no-los mostram melhor; mas há valores que não são nada para desprezar e que, julgados apenas pela parte escrita, seriam meras utilidades. É a oral que no-los revela, mas não pode nem devo ser reduzida a uns minutos atropelados. Tudo leva tempo, e o professor tem ainda de explicar a lição seguinte.
Na parte oral não podemos classificar o aluno somente por uma ou outra resposta acertada, ou porque se viu embaraçado e errou.
Pelo que respeita ao ensino oral do Português, a nota tem de ser função de diferentes factores - leitura e interpretação especialmente, forma de exprimir o pensamento, gramática em último lugar.
Se sempre os estudos gramaticais mereceram o meu melhor carinho, compreendo muito bem que a dupla função da gramática é justamente a de explicar a língua e de a fixar. Penso que às vezes se exige demais nos primeiros anos dos liceus.
Ora, se se visse o tempo que cada regra leva a ser explicada e assimilada!...
E o pior é que é preciso repeti-la, variar os exemplos e quebrar-lho, tanto quanto possível, a rigidez formal.
Tudo isto leva mais tempo do que se pode supor: é preciso, embora se julgue que não, para um bom rendimento da classe, que os alunos a repitam colectivamente, na sua forma mais explícita, após ter sido devidamente explicada por outros termos, e que a digam depois quase todos, um a um.
É claro que estou a referir-mo às primeiras classes; mas este modo do ensino, embora vá depois sucessivamente perdendo a intensidade, tem de se manter mais ou menos por todo o curso geral. Só quem não está habituado a lidar com crianças é que não sabe como coisas bem simples são para elas obstáculos insuperáveis.
Fazer-lhes vencer é o papel do professor.
Resolver este problema reduzindo os programas do curso geral seria baixar ainda mais o grau de cultura média, o portanto um erro gravíssimo.
Como professora de Português, e verdadeiramente crente nos grandes princípios pedagógicos, não posso conformar-mo com a supressão do Latim; guiada ainda pêlos mesmos princípios e pelo antigo amor que mo ligava às Ciências, lamento que se tenham perdido as aulas práticas; mas há, propriamente no meu campo, ainda outro assunto que não reputo monos grave: os alunos que seguirem Ciências passarão talvez toda a sua vida sem conhecerem Os Lusíadas - pelo menos sem serem obrigados a estudá-los; e o que Os Lusíadas representam na história da literatura universal sabem VV. Ex.ªs tão bem como eu.
Ora, se pensarmos ainda que essa obra grandiosa mostra ao Mundo inteiro o que foi o valor da nossa Raça; se meditarmos na lição de heroísmo e de virtude que cada verso encerra, não podemos ficar indiferentes ao ver que se excluiu da cultura média em Portugal o estudo da sua bíblia de amor, desse poema que o levanta aos olhos de todo o Mundo e nos incute a fé num Portugal maior!
Sr. Presidente: os gregos aprendiam a ler pela Ilíada, para que, com as primeiras letras, lhes ficasse gravado na mente o valor da sua raça. Não permite a pedagogia moderna que se ponham Os Lusíadas nas mãos da criança pequenina que aprende a ler, mas aconselha que meditem nessa obra os que já possam assimilar a sua lição de patriotismo, de fé, do valor e virtude.
Ora essa lição vemos nós surgir de cada estrofe, de cada verso do poema.
Era esto o terceiro ponto para o qual queria chamar a atenção do Governo, certa de que, resolvido com os outros, muitas apreensões abandonarão os pais e os professores, dando-se alento a milhares de crianças que se voem desanimar dia a dia.
Que S. Ex.ª o Ministro da Educação, com a sua esclarecida inteligência, queira meditar nas minhas simples considerações, que nada mais representam de que uma longa vida de prática e de trabalho honesto.
Disse.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
A oradora foi muito cumprimentada.
O Sr. Mendes Correia: - Sr. Presidente: no início desta legislatura, ao ter a honra de responder, em nome desta Assembleia, ao discurso de S. Ex.ª o Sr. Presidente da República, proferi, mais ou menos, estas palavras: «Somos homens independentes e queremos continuar a sê-lo». Essa independência subsiste, porque concórdia não significa concordância sistemática.
É uma independência dentro da fidelidade, da lealdade, da dedicação por princípios superiores de defesa da causa nacional e por princípios não menos sagrados de defesa da causa das classes menos favorecidas, dos humildes.
Mais tarde, ao tratar-se, nesta Assembleia, de certos aspectos da lei eleitoral, proclamei com funda convicção que era do maior interesse que esta Assembleia revestisse, sempre que possível, um carácter eminentemente político e que se abordassem livremente as questões mais controvertidas. E devo dizer a V. Ex.ª, Sr. Presidente, que, pelo que pude verificar, me congratulo terem decorrido muitas discussões de um modo elevado, muito imparcial.
Num dos seus últimos discursos na província, o Sr. Ministro do Interior declarou que dentro desta Situação havia numerosas ideologias. Eu registo esta declaração como a de um espírito rasgado e superior.
Outras declarações ministeriais recentes me levaram a pedir hoje a palavra para fazer aqui algumas considerações. Trata-se das declarações do Sr. Ministro da Economia. Ora o debate sobre essas declarações está na lógica sequência das palavras com que iniciei as minhas considerações. Devemos dar-lhes uma altíssima projecção política e social.
Conheço há muitos anos pessoalmente o Sr. Ministro da Economia. Trabalhámos dentro da mesma escola e habituei-me a ver nele um espírito sempre jovem, dinâmico, decidido, tenaz, desembaraçado, lúcido, competente.
Mas, elogiando o engenheiro Sr. Daniel Barbosa, eu seria injusto se esquecesse todos aqueles que, no Governo ou dentro desta Assembleia, têm trabalhado na grande tarefa de renovação nacional. Seria injusto se, por exemplo, esquecesse o nome ilustre do nosso colega Sr. Dr. Antunes Guimarães, que inaugurou a política dos aproveitamentos hidráulicos e que, na melhor das intenções, criou a Junta de Electrificação Nacional, a qual, infelizmente, não pôde corresponder ao altíssimo objectivo com que tinha sido constituída.
Seria injusto se esquecesse o nome, sempre saudoso, dessa grande figura portuguesa que foi Duarte Pacheco.
A todos, mesmo aos colaboradores mais modestos da grande empresa, dirijo neste momento - e julgo interpretar o sentir geral - os protestos da minha admiração e do meu reconhecimento.
Sr. Presidente: não fazia parte desta Assembleia quando se discutiu o problema da coordenação dos transportes, o do fomento e reorganização industrial e o da electricidade. Mas segui atentamente todos estes assuntos, sobretudo o úl-