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196 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 128

Mas eu queria falar também da questão da mão-de-obra.
Todos conhecem o estado de subalimentação verificado por vários estudos na população portuguesa. O professor Maia de Loureiro calculava em 16 por cento, em média, o déficit alimentar da nossa população. Se pensarmos que há quem coma demais...

O Sr. Botelho Moniz: - Isso comparado com quê?
Esses 16 por cento são comparados com a alimentação dos operários na Inglaterra, na França, na Alemanha ou na Rússia?
Esses 16 por cento são a menos do quê?

O Orador: - Em relação ao necessário para uma ração fisiològicamente normal, tomada como igual a 100.
Infelizmente a própria ração alimentar, no ponto de vista da sua composição qualitativa, ó também bastante imperfeita, porque há um predomínio considerável de hidratos de carbono. Isto foi verificado pelo professor Maia de Loureiro.

O Sr. Botelho Moniz: - Cada um come do que gosta.

O Orador: - Devo dizer que me preocupa seriamente esta subalimentação, que, infelizmente, não é só de agora, mas secular, o que não pode deixar de se reflectir na condição física e psíquica da gente portuguesa.
Entendo que sem salário suficiente para uma boa alimentação não é legitimo exigir do trabalhador tudo aquilo que se lhe poderia exigir noutras condições.

O Sr. Botelho Moniz: - O nosso trabalhador é dos trabalhadores da Europa melhor alimentados, e quem disser o contrário não diz a verdade.

O Orador: - É uma opinião; mas o que eu digo é confirmado por estudos de fisiologia da alimentação.

O Sr. Botelho Moniz: - Em quase todas as empresas se está hoje fazendo uma obra social que ninguém deve esquecer.
Também não pode deixar-se em silêncio a obra social do Estado.
As condições de vida do trabalhador português melhoraram enormemente e são superiores às do resto da Europa.
Dizer o contrário é fazer demagogia ou propaganda comunista...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Desejaria estar de acordo com a opinião de V. Ex.ª, mas devo dizer que os números que citei os não colhi directamente do Sr. Prof. Maia de Loureiro, mas através dos escritos de autores como os Srs. Ferreira Dias, Ezequiel de Campos, etc., além de alguns informes pessoais insuspeitos de parcialidade política.
Quero salientar que não se pode exigir um trabalho considerável a quem não coma o suficiente e a quem não tenha o salário suficiente para comer razoavelmente. Só tenho, pois, que aplaudir toda a política de elevação justa de salários que tem sido feita nos últimos anos, assim como toda a obra social a que V. Ex.ª se referiu e que não é do desconhecimento de ninguém neste País.
O Sr. Subsecretário de Estado das Corporações proferiu em Viseu esta frase, que aplaudo calorosamente: «Não nos interessaria a riqueza se para a acumular e aumentar tivéssemos de escravizar os trabalhadores». Foi o Sr. Dr. Castro Fernandes quem proferiu ontem estas palavras justas.
Sr. Presidente: vou concluir, e o último assunto que desejo focar a propósito das declarações do Sr. Ministro da Economia é o que respeita à necessidade de uma intensa coordenação imperial.
Li recentemente um belo estudo económico do Sr. Valdês dos Santos sobre a colónia de Angola, estudo em que se mostra a necessidade da solução de muitos problemas de produção, e essa solução só pode obter-se conjugando todas as energias na metrópole e na colónia. Muitas outras questões não podem igualmente resolver-se de uma maneira feliz sem haver uma perfeita coordenação dos interesses metropolitanos e dos interesses coloniais.
Eu proporia que, se fosse possível, a Junta Nacional da Educação, os organismos técnicos, os quadros de pessoal especializado deste País não fossem apenas metropolitanos, não circunscrevessem a sua acção directa exclusivamente à metrópole. Esta e as colónias são um todo indivisível, não devem portanto ter economias independentes, ou até antagónicas, nem quadros técnicos distintos. Seria muito desejável, a exemplo do que se fez durante a guerra em alguns países com a constituição de gabinetes de guerra, que entre nós existisse um gabinete imperial, sob a presidência do Sr. Presidente do Conselho e do qual fariam parte o Sr. Ministro das Colónias e os de outras pastas Intimamente ligadas com as necessidades coloniais, e que nesse gabinete se tratasse dos problemas da metrópole e das colónias conjuntamente.
Era útil que no Conselho do Império e em várias juntas houvesse, ao mesmo tempo, representantes da metrópole e das colónias.
Dou o mais caloroso aplauso a um recente artigo do nosso ilustre colega Sr. Dr. Águedo de Oliveira, o qual afirma a profunda solidariedade do interesses entre as colónias e a metrópole, solidariedade que, infelizmente, é desconhecida ou postergada em muitos aspectos da vida nacional.
Estamos em maré alta de grandes afirmações. Lá fora: Bevin, Atlee, Churchill, o debate sobre o plano Marshall, etc.; cá dentro: Salazar no seu discurso de 5 de Novembro, os discursos subsequentes de outros homens de Governo e recentemente os discursos dos Srs. Ministros da Economia e do Interior e Subsecretário de Estado das Corporações.
Esperemos que da efectivação real de todas as aspirações e de todos os projectos enunciados nestes últimos discursos resultem a felicidade e o bem-estar das gentes de todo o Império.
Não nos deve mover a idolatria da riqueza, mas um alto ideal de bem humano o de grandeza nacional!
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Henrique Galvão: - Sr. Presidente: vou mandar para a Mesa o seguinte aviso prévio:
No impressionante discurso que proferiu perante os Deputados a esta Assembleia, em 25 de Novembro passado, S. Ex.ª o Presidente do Conselho expôs com notáveis precisão e clareza uma ideia palpitante de actualidade, de profundo senso político e flagrantemente realista.
S. Ex.ª disse:

Julgo que a crise de alguns países é, não só passageira, mas superficial, e que no fundo, nas raízes do seu ser nacional, há reservas de energia que podem ser despertadas uma vez quebrada a crosta de desânimo, de indisciplina, de horror ao trabalho que as asfixia. A Inglaterra, a França, a Alemanha e a Itália e as duas nações da península hispânica, para só falar nos agregados maiores, e sem esquecer o