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198 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.° 128

compelidas a substituir estes cereais pelo trigo, e o consumo deste, que sempre fora apanágio das populações vivendo em aglomerados de certa importância, acabou por penetrar as massas profundas da Nação.
A instabilidade do clima, a circunstância do nos não acharmos na área geográfica do trigo e o cansaço de muitas das nossas terras, empobrecidas no seu fundo de fertilidade, obstando a quo as «fundas» acompanhem os progressos culturais, criaram à Nação, em impressionante acréscimo demográfico, o maior dos seus problemas.
Portugal metropolitano e colonial, ou encontra maneira de criar dentro das suas extensas fronteiras um tipo de pão nacional, ou fica à merco de todas as perturbações internacionais que impeçam o seu normal abastecimento em trigo, como casa sem pão... e sem ordem.
Mas nem só os aspectos político e social interessam. A cultura do trigo praticada em conceito extensivo o generalizada às terras declivosas e pobres está comprometendo irremediavelmente a mais valiosa parcela do nosso património - a terra arável sobre que amanhã hão-de viver os nossos filhos!
O trigo de que carecemos, num quantitativo de cerca do 550 milhões e do que produzimos aproximadamente 400, constitui um sector da nossa economia que justificadamente preocupa o Governo e se salda anualmente com um prejuízo, resultante do importações, da ordem dos 580:000 contos.
O pão nosso de cada dia, tal como o produzimos, ó amassado com o suor das nossas populações rurais, em cujas mãos deixa, sob a forma de salários, uns escassos 500$ por hectare, enche de desilusões a lavoura portuguesa, cada vez mais endividada, e deixa em aborto o abastecimento do País em cerca de 150 milhões de quilogramas.
Se é certo que uma profunda diferença de riqueza divide os países industriais dos países agrícolas, também nestes últimos o nível geral de vida da população se mede pêlos índices do interesso económico das suas culturas. Produzir trigo fora das regiões de regular capacidade produtiva e em permanente luta com o meio, verificadamente adverso, significa, quanto ao presente, uma medida de emergência, que sabemos necessária, mas reclama, no futuro, uma ponderada revisão do problema.
Portugal não necessita do despender tão avultadas quantias para obter o pão necessário à sua população. Também não necessita de inovar nesta matéria. Basta que procure na tradição a solução deste, como do quase todos os seus problemas.
Se, tendo em consideração os centros populacionais, o trigo e o milho contribuíam antigamente em partes sensivelmente iguais para alimentar cerca de 85 por cento da população, cabendo ao centeio os restantes 15 por cento, não parece inviável procurar fixar de futuro o consumo do trigo, não já na proporção de 42 por cento, que antes registávamos, mas à volta de 50 a 55 por cento do consumo geral dos cereais panificáveis.
Bastaria paru tanto que reconduzíssemos ao consumo do milho e do centeio uma parte razoável das populações que anteriormente, deles se utilizavam exclusivamente e que, no tocante aos restantes portugueses, só substituíssem as farinhas estreme de trigos por farinhas mistura, em que o trigo e os outros cereais panificáveis participem em proporções adequadas.
Podíamos argumentar desde já em favor desta solução com o raciocínio de que o número de unidades nutritivas postas à disposição do conjunto da população portuguesa não seria inferior, antes se avantajaria àquele que em conceito médio lhe cabia antigamente, apenas se verificando uma deslocação da média aritmética a favor das populações rurais, pelo seu maior contingente actual de
consumo do trigo, tornado realidade merco de uma infeliz orientação feita de improvisações.
Preferimos contudo observar mais de perto o problema o determinar analítica e experimentalmente em que medida o pão mistura, que preconizamos é inferior ao do trigo estreme sob o tríplice aspecto: valor nutritivo, paladar o aspecto.
Determinados, num e noutro caso, os correspondentes valores alimentares, levaríamos em linha de conta, dum lado, a possível economia na importação de trigo e, do outro, o quo a mais houvéssemos de consumir para se obter o mesmo número do unidades nutritivas. O saldo verificado tê-lo-íamos finalmente por um ganho na balança de pagamentos o no conceito do segurança que deriva de dependermos menos do estrangeiro.
Este raciocínio completá-lo-íamos estudando em que medida a solução encontrada sorvia os restantes aspectos do interesso nacional, expressos, quanto às populações rurais, empresários agrícolas e economia geral da Nação, nos índices do interesso social, do interesse industrial da exploração e do interesse económico das culturas que praticássemos.
Escolhida para padrão a farinha estreme do trigo na proporção do 80 por cento de trigo mole e de 20 por cento de trigo rijo, e do extracção igual ao específico, que no caso estudado foi do 82 por cento, comparamo-la com farinhas mistura obtidas pela incorporação na farinha estremo do trigo do farinhas de milho, cevada e, nalguns casos, do arroz nas proporções seguintes:

QUADRO N.º 1

Tipos de farinha mistura

[Ver Quadro na Imagem]

A convicção do que, ou por interpolação de valores ou simples raciocínio, as conclusões obtidas com um dos tipos de farinha mistura há pouco mencionados se aplicam com ligeiras correcções aos restantes levou-me a utilizar nas experiências a que procedi o tipo de farinha da hipótese n.° 3, quadro n.° 1, ou seja o de 70 por cento de farinha estremo do trigo, de 82 por cento de extracção, o 30 por cento de farinhas do milho, cevada e arroz, com os teores de extracção de 60, 50 e 70 por cento e nas proporções respectivamente de 15, 10 e 5 por cento.
Estando desde o início convencido de que não é necessário irmos tão longe quanto à percentagem de inclusão do farinha dos três cercais mencionados, as conclusões a que no meu estudo fosse conduzido conteriam em si uma larga margem de segurança.
Posto em equação o problema, importava:
1.° Determinar, considerando o aumento previsível da população portuguesa, as necessidades crescentes de pão ao longo de um determinado período de tempo;