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302 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 134

Cacilhas ao Cais do Sodré, o grande movimento de passageiros é feito entre o Barreiro e a estação do Terreiro do Paço, nos barcos do caminho de ferro que fazem a ligação dos comboios provenientes do sul, sueste e leste com Lisboa.
Esse movimento é hoje enorme, pois, segundo me informaram os serviços competentes, regulam por 10:000 as pessoas que diariamente embarcam e outras tantas que desembarcam só na estação do Terreiro do Paço, o que bem justifica o que vou dizer e a construção da magnifica estação fluvial, uma das primeiras grandes obras de apetrechamento do porto de Lisboa realizada, pelo Estado Novo, velha aspiração dos povos do sul, que desde pequeno ouvi reclamar a substituição da velha e desmantelada estação de madeira, que, de provisória, se tinha tornado definitiva. Por ela se fez durante muitas dezenas de anos todo o tráfego fluvial conjugado com o caminho de ferro do sul.
Foi em 28 de Maio de 1932 que teve lugar a inauguração da nova estação, mas esta só foi posta, ao serviço em 30 de Junho do mesmo ano.
E, já que me referi a tão importante melhoramento, será bom lembrar que, apesar de haver só dezasseis anos que a estação foi inaugurada, há muitas pessoas que por ela passam diariamente que nem disso já se lembram, e assim não admira, que os rapazes até 20 anos ignorem que esta importante obra, como tantas outras, se deve aos primeiros anos de administração do Estado Novo. Foi também o Sr. Dr. Oliveira Salazar quem, como Ministro das Finanças, acabou com o enfadonho serviço-alfandegário naquela estação, como em todas as portas da cidade, o qual fazia pagar direitos de todos os produtos que nela entravam, vindos da província, como se estrangeiros fossem. Para isso havia a repugnante e incómoda, mas indispensável, revisão do conteúdo das malas e volumes que os passageiros transportavam. Pois nem mesmo os que agora reclamam «liberdade» em nome da Democracia se lembram que foi o Estado Novo que acabou com essa vergonhosa opressão, que mesmo os Governos da Democracia mantiveram até vir a actual Situação.
Mas, Sr. Presidente, se o Estado Novo acabou com essa imunda e vergonhosa estação, que era um perigo e ameaça constante para a segurança dos funcionários que nela trabalhavam e dos passageiros do sul que forçosamente nela tinham de embarcar e desembarcar, o que é certo é que na cidade, por parte da Câmara e das empresa de viação e transportes, nada se fez que tivesse em mira proporcionar aos habitantes da margem esquerda do Tejo umas certas facilidades de deslocação e conforto ao chegarem a Lisboa, que se encontram em todos os outros locais de desembarque fluvial ou terrestre da cidade.
Quer seja de dia ou de noite, quer esteja chovendo torrencialmente ou faça bom tempo, o passageiro do sul que desembarca na bela estação do Terreiro do Paço fica isolado da cidade e, quer vá só e sem bagagens ou com família e bagagens, só tem duas soluções para se transportar ao seu destino: ou pagar a um moço de fretes que lhe venha buscar um táxi à cidade ou pegar nas bagagens e marchar, mesmo que seja debaixo de chuva, até encontrar nas ruas da Baixa um táxi ou um eléctrico com lugar, o que também é muito difícil.
Os táxis não fazem estacionamento no largo fronteiro à estação ou raramente ali se encontra algum que conduziu alguém para lá, porque provavelmente, tendo sempre muito serviço na cidade, não lhes convém ir estacionar junto à estação à espera de fregueses eventuais, e julgo que não será possível nem humano obrigá-los a um tal serviço.
O sistema de mandar buscar um automóvel por um moço de fretes, além do mais, é primitivo e, quando chove, penoso para os moços, que para ganharem uns escudos ficam encharcados, e nem sempre este recurso é eficiente, porque, principalmente em dias e, pior ainda, em noites de chuva, é dificílimo os moços encontrarem um táxi disponível. Já tenho presenciado o espectáculo de famílias com pessoas idosas e crianças esperarem na estação uma hora por um carro que as conduza a suas casas ou ao hotel a que se destinam.
Acresce ainda a circunstância de uma grande parte dos passageiros que desembarcam principalmente dos barcos da manhã e dos que embarcam nos barcos da tarde serem estudantes, operários e empregados de escritório que habitam na margem esquerda e se destinam, com horários apertados, uns aos estabelecimentos de ensino que frequentam, outros às fábricas, escritórios ou obras, todos estes locais distantes e em diversos pontos da cidade. Tais passageiros não podem dar-se ao luxo e comodidade de mandar buscar um táxi nem têm tempo para esperar por ele, e mesmo debaixo de água têm de se meter a caminho, pelo menos até encontrarem uma linha de eléctricos e carros onde possam conquistar um lugar, o que, em certas ocasiões, é quase tão difícil como escalar o zimbório da Estrela. Para quem vai embarcar no Terreiro do Paço é a mesma tragédia.
Ou paga a um táxi, e isso seria o menos, ou carrega com as malas mesmo debaixo de água, e muitas, vezes tem de optar por esta solução, porque em chovendo os raros eléctricos que passam pela Praça do Comércio, e assim mesmo a uns 350 metros da estação, levam normalmente passageiros aos cachos e é raríssimo encontrar-se um táxi disponível, quer em trânsito quer nos locais de estacionamento, pelo menos na Baixa.
Sr. Presidente: todas as outras estações de Lisboa estão melhor servidas de transportes para os passageiros que nelas embarcam e desembarcam a qualquer hora do dia ou da noite, quer chova quer esteja bom tempo. Porque se encontra então a estação do Terreiro do Paço neste isolamento dos meios de transporte da cidade? Nada justifica, a meu ver, esta falta de comodidades a que estão sujeitos os passageiros que chegam a Lisboa por esta via, nem o esquecimento a que os tem votado a Câmara Municipal, tão cuidadosa em melhorar as condições de vida dos lisboetas e em aperfeiçoar outros serviços da capital, elevando-os ao nível dos de outras capitais dos países convencionalmente chamados mais civilizados do Mundo.
Esta é a crítica ao que se passa todos os dias; vejamos agora como remediar o mal.
Afigura-se-nos que este é um dos problemas de viação e trânsito da nossa capital de mais fácil solução. Basta que haja um pouco de boa vontade da parte da Câmara Municipal e das entidades que têm como obrigação, ou dever, resolvê-lo.
No meu modo do ver, de quase leigo neste assunto, duas soluções se podem pôr em prática para resolver este problema. Uma, e essa talvez possa ser de realização imediata, é estabelecer horários o trajectos para as carreiras de autocarros que a Companhia Carris ou outra empresa tem em circulação na cidade, passando pelo largo fronteiro à estação, ou mesmo considerando ali o início de zonas de diversas carreiras destes carros, que já passam pela parte norte da Praça do Comércio e que, com poucos mais minutos, podiam ir até à estação, principalmente em serviço combinado com os horários dos comboios.
Isto parece tanto mais fácil quanto é certo a Carris, segundo noticiaram os jornais do dia 9 do corrente, tencionar pôr ao serviço em breve os cento e dois autocarros encomendados em 1945 em Inglaterra.
A segunda solução, mais morosa e dispendiosa, mas certamente mais eficiente e duradoura, seria fechar as