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304 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 134

çadoramente, que me oiço a perguntar: o que virá depois de nós? Que ficaria se a anti-Nação voltasse às cadeiras do Poder?
Destruídas as fontes monumentais pelo abandono ou pela desordem, restará do esforço dos cavaleiros do Ressurgimento o bastante para que a nossa geração não fique perdida numa encruzilhada da História?
Tem a mocidade o pulso rijo e a alma temperada para erguer o facho que dia a dia mais custosamente empunhamos?
Sr. Presidente: as perguntas que acabo de formular cruzam a minha mente muitas vezes, mas não representam, de forma alguma, falta de fé e confiança no futuro.
Querem, sim, significar que é preciso que todos nos preocupemos mais em temperar a alma do nosso povo, especialmente a alma da nossa juventude, para os duros combates da vida.
É sempre neste sentido que tenho erguido a voz nesta Casa.
Hoje faço-o mais uma vez, começando por afirmar a minha gratidão ao autor do projecto de lei n.º 170 e apresentando as minhas homenagens, de português e e de soldado, ao autor do parecer da Câmara Corporativa, pelo desassombro, pela coragem, pela verticalidade moral que representa o seu trabalho.
É assim que se segue Salazar, que se mostra o real valor daquilo que, como ele diz, o poder material não esmaga e os canhões não podem destruir.
Há quase quarenta anos, em momentos sombrios que Portugal vivia então, já Salazar falava assim, envolto na armadura da sua capa e batina, acompanhado de Pacheco de Amorim, João Pereira Ramos de Castro e outros mais.
Não quero perder esta oportunidade para agradecer a esses homens o que então fizeram para a formação do meu espírito, afirmando-lhes - perdoem-me a irreverência- que, mais do que pelas suas altas qualidades de professores, de jurisconsultos, de políticos, me sinto sempre emocionado ao recordar as suas atitudes de apóstolos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quem continuou esse labor?
Quem doutrina assim a mocidade de hoje?
Quem fortalece a alma nacional com a sua fé nos destinos da nossa terra?
Tudo o que acabo de dizer, Sr. Presidente, tem sómente esta finalidade:
Afirmar que considero o projecto de lei n.º 170 como valioso contributo para o fortalecimento da alma portuguesa;
Afirmar que tal diploma não deve ser considerado, como muitos cuidam, de secundária importância nacional, principalmente nesta hora em que no segredo dos laboratórios da política e da técnica se queimam energias e se gastam vidas, se manipulam e pesam valores materiais, como se deles dependesse o futuro da Humanidade;
Afirmar, finalmente, que o projecto de lei em discussão representa mais uma cadeia a estreitar entre si os portugueses, tornando dessa forma mais homogénea, mais sólida, a fortaleza da Pátria.
Sr. Presidente : sugere, porém, a Câmara Corporativa uma redacção diferente da do projecto de lei, da autoria do ilustre Deputado Sr. cónego Mendes de Matos, limitando a questão ao dia de descanso semanal e aos dias santificados.
Na verdade, as realidades de momento tornam difícil englobar num diploma único tudo o que respeita a feriados nacionais, isto é, a dias de guarda dos portugueses.
A proposta da Câmara Corporativa perderia de facto altura se nesse diploma fossem incluídas certas datas que só representam paixões sem grandeza, divisão entre portugueses.
Julgo todavia conveniente que no diploma II promulgar seja incluído um feriado que até agora não tem existido, mas que reputo absolutamente necessário fixar.
Refiro-me ao dia de Portugal - ao nosso dia.
Quem tem servido o Pais em terras estranhas tem sentido muitas vezes essa falta.
É vulgar perguntarem-nos, quando querem honrar em nós a nossa Pátria: qual é o seu dia?
Ninguém está habilitado, evidentemente, a responder com precisão.
É raro o país que não tenha incluído nos feriados nacionais o dia da sua pátria.
Portugal não o possui.
Julgo oportuno que se encare este problema.
Tal dia não ficaria mal fixado, mesmo no diploma proposto pela Câmara Corporativa.
Seria o dia santo da nossa Pátria.
Pensando neste assunto, julgo ter encontrado a melhor solução, escolhendo uma data em que todos os portugueses comunguem, sejam quais forem os credos políticos ou religiosos que possuam.
Refiro-me ao dia de Nun'Alvares, ao dia do Santo Condestável.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Passando em revista as horas de grandeza da nossa história, os heróis e os santos que fizeram de Portugal a luz do Mundo, ninguém me pareceu definir melhor o espírito da Raça, ninguém me pareceu mais estreitamente ligado à alma do povo, ninguém achei que fosse exemplo mais edificante para bem viver, em contacto com a vida, e melhor findar a viagem, de olhos em Deus e na Pátria, do que Nun'Álvares Pereira, o Santo Condestável.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não me proponho fazer aqui agora um estudo minucioso da vida do nosso maior herói, que, no dizer de Alfredo Pimenta, «é talvez a figura mais representativa, a figura mais exemplarmente típica do povo português, enquanto ideologias intrusas a não abastardarem e corromperem».
Nem o tempo nem o local o permitem.
Depois, há nesta Casa quem religiosamente se tenha debruçado sobre a sua vida com especial interesse e eu ficaria longe, por muito que trabalhasse, de apresentar um estudo como Pacheco de Amorim ou João Aineal, ficaria até distante, porventura, do luminoso quadro que a simples invocação do nome do herói e do santo faria desenhar no espírito brilhante e cultivado dos ilustres membros desta Assembleia.
Permita, todavia, V. Ex.ª, Sr. Presidente, que, como preito de homenagem de português e soldado, me curve, uns instantes, perante aquele que em tantos passos da vida tenho invocado como fonte de energia, de confiança e de fé.
Nenhum grande da História vive tanto na alma do povo como Nun'Alvares.
Parece que tem um pouco de nós próprios; parece que nos nossos sonhos mais altos, nos vários momentos da caminhada, o nosso espírito se ergue até ele como se constituísse a suprema ambição da vida poder alcançar a altura a que sé guindou.
Talvez, por isso mesmo, se passe com a figura do Santo Condestável um curioso fenómeno:
«Não se consegue deter o pensamento na visão duma imagem definitiva sua».