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11 DE MARÇO DE 1948 303

linhas dos eléctricos que já se encontram dos lados oriental e ocidental da Praça do Comércio por um troço de linha que, passando em frente do Cais das Colunas, chegasse até ao largo da estação. Depois bastava estabelecer horários às carreiras dos eléctricos que já passam por esta Praça e se dirigem para os pontos orientais, ocidentais e centrais da cidade, de forma que passassem por aquela linha ou fizessem em frente da estação o término ou início de zonas e carreiras a estudar. É claro que esta linha devia ter uma paragem em frente do Cais das Colunas, para serviço do grande número de passageiros que, principalmente de Verão, embarcam e desembarcam naquele Cais. Assim, com mais uns 250 metros de linha dos eléctricos e uma revisão e ajustamento dos horários de algumas carreiras, ficaria resolvido um problema de tanta importância para os passageiros do Médio e Baixo Alentejo e Algarve que vêm a Lisboa e, de uma maneira geral, para quem tem de atravessar o Tejo e provém ou se destina a pontos da cidade afastados do velho Terreiro do Paço.
E, já que falei da travessia do Tejo entre o Barreiro e o Terreiro dó Paço, permita-me ainda, Sr. Presidente, que para terminar me refira a um outro atraso que não se coaduna com os progressos dos meios de comunicação e velocidades da época actual. Refiro-me à deficiente sinalização para navegação dos barcos da C. P. que fazem esta travessia, tão deficiente que a não permite em noites de nevoeiro. Ainda há pouco vim de Beja a Lisboa num esplendido comboio, que honra os serviços da C. P., o «rápido» que vem de tarde do Algarve e deve chegar a Lisboa à meia-noite. Fiz o trajecto de Beja ao Barreiro em cerca de duas horas e meia; os passageiros entraram no barco, mas, como se formou um forte nevoeiro, aquele não pôde desatracar da muralha e só fez o trajecto de dia, chegando cerca das 8 horas ao Terreiro do Paço.
E parece que isto se dá algumas vezes durante o Inverno. Vir de Beja ao Barreiro em duas horas e meia é bom, mas ficar num barco oito horas por não poder atravessar o rio devido ao nevoeiro é muito desagradável e incómodo, porque só perde uma noite, e denota um grande atraso no sistema de sinalização que protejo e orienta a navegação num trajecto tão curto.
Parece que o problema está sendo estudado e poderá ser resolvido com o emprego de bóias luminosas e sonoras em maior número. Seja por este ou por outro qualquer processo que os técnicos julguem eficiente, os meus votos são para que o assunto seja também estudado e resolvido até ao próximo Inverno, para maior eficiência dos transportes entre as duas margens do rio.
Recomendamos por isso à ilustre vereação da Camará Municipal de Lisboa, à Companhia Carris e mais entidades a quem os assuntos competirem o estudo e resolução destes problemas, de tanto interesse para os milhares de pessoas que diariamente embarcam e desembarcam no Terreiro do Paço.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - Continua a discussão do projecto de lei sobre feriados e dia de descanso semanal.
Estão na Mesa duas propostas de alteração, apresentadas pelo Sr. Deputado Mário de Figueiredo.
Foram lidas. São as seguintes:

Artigo 2.º do projecto

Proponho que se substitua a frase «que os serviços de interesse público justificarem» por esta: «que não resultarem directamente da lei».

Artigo 3.º do projecto

Proponho que a frase «preceituados pela Igreja Católica» seja substituída por esta: «que a Igreja Católica julgar não dever dispensar».

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Ribeiro Cazaes.

O Sr. Ribeiro Cazaes: - Sr. Presidente: em boa hora é presente à Assembleia Nacional, para discussão, o projecto de lei n.º 170, sobre feriados e dia de descanso semanal, da autoria do ilustre Deputado Sr. cónego Mendes de Matos.
No douto parecer da Câmara Corporativa, de que foi relator o ilustre professor da Faculdade de Direito de Lisboa, Dr. Manuel Gomes da Silva, frisa-se a oportunidade da reforma preconizada, afirmando-se que «hoje, mais do que nunca, é necessário fortalecer a alma das nações, a fim de não as deixar soçobrar na idolatria da matéria, na barbárie comunista».
E, para reforçar a opinião sobre a oportunidade do projecto de lei n.º 170, numa análise judiciosa da tormenta que paira sobre a Terra e numa visão clara e segura do futuro, afirma-se ainda no referido parecer a imperiosa necessidade da restauração do espírito e dos costumes cristãos, para a reconstrução do Mundo, salientando que tal caminho tem para a Nação Portuguesa alcance mais vasto do que para muitos outros países, porque «não recebeu do cristianismo apenas a sua razão final e o fundamento da sua vida colectiva, antes hauriu nele um dos traços essenciais da sua personalidade: a missão de cruzada e de evangelização».
Bem haja quem assim fala!
É pregando desta maneira que se contribui para que a alma da Pátria possua a têmpera indispensável para resistir aos duros embates da tormenta que assola o Mundo, hoje curvado sob o poder da bomba atómica e do deus milhão, envolto em egoísmo insaciável e criminoso, norteado por um materialismo sem peias e que tudo procura esmagar.
Portugal sente, como não poderia deixar de ser, as funestas influências do exterior, sofre - só os cegos o não vêem - da luta violenta que no Mundo de hoje se desenrola, drama angustiante em que só a certeza da vitória do bem sobre o mal, que todas as almas cristãs possuem, permite encarar serena e confiadamente.
Daqui a insatisfação constante que domina o meu espírito de soldado da Revolução Nacional perante a obra realizada - que é grande, que é enorme, mas que eu queria maior ainda, sobretudo no que diz respeito ao fortalecimento da alma nacional.
Olhamos em redor, nós os homens de 26, e sentimos que muito pouco se tem feito nesse sentido.
Há duas dezenas de anos que se vive em Portugal uma vida de paz e de delicioso bem-estar, ignorando-se ou não se querendo acreditar o que antes disso se sofreu; tem-se melhorado dia a dia a vida dos indivíduos e das famílias; tem-se procurado dar ao povo â confiança no futuro pelas horas de abastança e de sossego do presente; mas, por isso mesmo, parece que tudo gira na nossa terra à roda de contas, de números, enfim, da matéria.
É debruçado sobre a fogueira que abrasa a Terra, é vendo ao longe a «cortina de ferro» deslocando-se amea-