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426 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 142

É errado também pretender que os nossos técnicos, que na maior parte das regiões agrícolas do País devem atender a viticultores, oleicultores, criadores de gado, pomicultores, horticultores, etc., sejam profissionais especializados num único ramo da agricultura. Esses técnicos, a não ser que tenham uma sólida cultura teórica, não podem estar em condições de poder, como de facto estão, dar conselhos proveitosos a quem os procura.
É muito difícil também no nosso País conseguir rapidamente a divulgação dos novos ensinamentos da técnica. O camponês dificilmente os assimila, por virtude de não possuir o nível de cultura do rural dinamarquês ou do belga. Estes últimos fazem, com facilidade e proveito, a leitura de folhetos técnicos, circunstância que faculta uma fácil difusão das boas normas de cultura. A maior parte dos rurais portugueses, pelo contrário, é avessa à leitura, não tendo, por isso, a receptividade dos cultos agricultores do Norte da Europa.
Teremos, por conseguinte, de avançar mais devagar. Julgo, por isso, que não tem sido errada a orientação seguida pela escola superior agronómica no sentido de dar boa preparação cientifica aos seus diplomados. A reforma do ensino técnico profissional, médio e elementar aprovada na última sessão legislativa permitirá, por outro lado, que dentro de poucos anos existam os técnicos necessários à boa execução dos problemas hoje equacionados ou que estão presentemente em via de solução.
Vejamos agora se é já longo o caminho percorrido pelo nosso departamento de agricultura no sentido de fomentai: a indústria agrícola nacional. E vejamos também se não tem sido produtiva a actividade dos técnicos desse departamento, já que ninguém lhes nega, e com justiça, a vontade de servir, digamos mesmo, o verdadeiro espirito missionário - tantas vezes revelado.
Consideremos apenas os casos mais salientes. A sua rápida análise facultar-nos-á uma visão aproximada do conjunto.
Figura, por direito de valor, em primeiro lugar a cultura dos cereais.
Vou repetir, em síntese, o que foi dito em relação ao problema do pão, quando do aviso prévio dos Deputados Nunes Mexia e Cortês Lobão.
O departamento de agricultura, logo que se começou na Europa a intensificar a cultura dos cereais, pelo uso racional dos adubos químicos, iniciou também trabalho experimental de excepcional valor. Os nomes respeitados dos agrónomos Tavares da Silva e Luís Eebelo da Silva, verdadeiras glórias da agronomia nacional, são responsáveis por admiráveis trabalhos de laboratório e de campo, que muito contribuíram para o resultado, já hoje muito generalizado, de adubação racional das culturas cerealíferas.
A estes trabalhos devemos acrescentar os levados a cabo pela Estação Agronómica Nacional, pelos agrónomos Amândio Seabra, João de Vasconcelos, Cunha Monteiro e D. Francisco de Vilhena e outros, realizando os primeiros estudos de sistemática e de melhoramento dos. diversos cereais. Foram introduzidos mais tarde em Portugal alguns trigos seleccionados italianos, que hoje estão largamente divulgados por todo o País. É o caso das variedades Mentana, Quaderna e tantas outras. E foram estabelecimentos oficiais da Direcção Geral dos Serviços Agrícolas que realizaram este meritório trabalho.

O Sr. Cortês Lobão: - Muito bem!

O Orador: - A Estação de Melhoramento de Plantas, que é um organismo modelar entre os mais modernos da Europa, dirigido pelo agrónomo Vitória Pires, representará, num futuro próximo, sólido fundamento da produção melhorada de cereais e de forragens.
Contam-se na Europa apenas algumas unidades que podemos considerar superiores a esta estação experimental e mesmo essas apenas por força de serem mais antigas.
A Estação Agronómica Nacional, de Sacavém, por outro lado, estabelecimento principal da investigação agronómica do departamento de agricultura, tem presentemente ao seu serviço uma verdadeira elite de investigadores, dirigidos por um sábio de renome mundial, o Prof. António de Sousa da Câmara.
O departamento dos solos, dirigido pelo agrónomo Luís Bramão, ao qual compete o levantamento da carta agrológica de Portugal, o de pomicultura, chefiado por um cientista de renome internacional, Vieira Natividade, e muitos outros formam o corpo desse excelente estabelecimento de investigação.
Para glória da ciência nacional, foi o director da Estação Agronómica Nacional escolhido, ainda há pouco, pelo Governo Espanhol para dirigir no país vizinho a instalação de um instituto de melhoramento de plantas.
Julgo que o que fica apontado é demonstração clara de que as nossas escolas preparam bons técnicos, capazes de colocarem bem alto o nome de Portugal.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas o trabalho do departamento de agricultura, na questão do trigo, não findou por aqui. Era necessário estudar as condições de adaptação de vários esquemas culturais às diversas regiões do sequeiro.
Instalaram-se, para este efeito, diversos campos experimentais.
Estes postos começam já hoje a dar resultados muito proveitosos. Com cerca de 150 hectares - o que já não é nenhum jardim nem nenhuma horta - , e dentro em pouco abrangendo 300 hectares, o campo de Pegões, por exemplo, permitirá desvendar o segredo do aproveitamento económico de 600:000 hectares dos territórios arenosos do sul do Tejo.
Não podemos classificar, com certeza, de pouco valiosa esta contribuição do departamento de agricultura!
Idênticos resultados têm sido obtidos nos campos experimentais do Alandroal, de Figueira de Castelo Rodrigo, de Évora, de Vila do Bispo, da serra do Caldeirão, etc., e de Castro Verde, este último orientado superiormente por um dos nossos mais distintos técnicos, o nosso colega Mira Galvão.
Contudo, diga-se aqui, e com certa tristeza, que podia o trabalho avançar com maior dinamismo. Mas a culpa não é das escolas, porque os técnicos lá estão em condições de bem servir o seu País, nem do departamento de agricultura, que utiliza, com o máximo de economia, as verbas que lhe são consignadas para efeito de fomento.
Sr. Presidente: eu tenho ouvido falar nesta discussão sobre as Contas Gerais do Estado em gastos da Direcção Geral dos Serviços Agrícolas. Julgo, porém, que a nossa crítica deveria incidir, exactamente, sobre o aspecto oposto - o das ínfimas dotações atribuídas a estes serviços, para que eles possam corresponder às exigências da lavoura do Pais.
Só assim se poderá realizar essa obra que todos os técnicos desejam ver erigida.
Julgo, por consequência, que, quanto ao problema dos cereais, não temos andado devagar, antes temos caminhado com passos bem seguros. E essa obra é fruto da boa preparação dada pelas nossas escolas nos vários graus do ensino técnico-agrícola.
Consideremos agora a produção vitivinícola.
Portugal apresenta tais contrastes na sua mesologia que esta circunstância ocasiona que se estabeleçam, den-