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3 DE ABRIL DE 1948 427

tro do País, frequentemente, competências entre as várias regiões vinícolas, o que torna muito mais difícil a resolução dos diferentes problemas ligados à cultura desta preciosa ampelídea.
Desde as videiras engrinaldadas em árvores ou cultivadas em extensas latadas, passando pelas que guarnecem escadarias monumentais no vale do Douro, até às que cobrem algumas terras do Ribatejo, sujeitas às inclemências das cheias, e às que procuram o chão rijo nos areais de Colares, todas elas revestem aspectos tão diferentes que o cultivo em cada caso determina problemas especiais de difícil solução.
Porém, a agronomia lusitana, nas grandes crises derivadas dos ataques da filoxera, do míldio e noutras que afectaram duramente a economia nacional, soube sempre obter solução proveitosa para os interesses da viticultura. E não me consta que tivéssemos de recorrer a conselho ou experiência de técnicos estrangeiros para resolução das nossas dificuldades.
Antes, pelo contrário, são esses técnicos estrangeiros que nos visitam, como ainda recentemente o professor Mendes da Fonseca, um dos grandes nomes da ciência brasileira, que afirmam ser a organização dos nossos serviços vitivinícolas a melhor da Europa.
Não devo esquecer neste capítulo os grandes nomes de Ferreira Lapa e Bernardino Cincinato da Costa, entre os mortos, e os de Luís Cincinato da Costa, José da Costa Lima, Tavares da Silva, Mário Pato, Antunes Júnior e o do nosso ilustre colega e antigo Subsecretário de Estado da Agricultura, Homem de Melo, este último como principal responsável pelo prestígio atingido presentemente pela Junta Nacional do Vinho.
A esse organismo e a todos os que estão dispersos pelo País, desde o modelar Instituto do Vinho do Porto à Estação Vitivinícola da- Bairrada e de Dois Portos, todos eles tom contribuído, de uma forma notável, para a melhoria da produção vinícola portuguesa, que hoje podemos afirmar não se encontrar em inferioridade de condições, quando comparada com a dos países vinícolas mais progressivos.
Se deixarmos o caso do vinho e considerarmos o do azeite, chegaremos a idênticas conclusões.
Antigamente existiam, com efeito, belos olivais, alguns deles multisseculares, mas a técnica seguida era normalmente defeituosa.
Mas, se percorrermos hoje o Baixo Alentejo, o Alto Alentejo, a Beira Alta, a Beira Baixa, o distrito de Santarém e Trás-os-Montes, encontraremos explorações oleícolas admiráveis, em nada inferiores às da nossa vizinha Espanha ou às da Itália.
Em relação à produção oleícola, é ainda interessante lembrar que o antigo Ministério da Agricultura, hoje Subsecretariado da Agricultura, preparou em alguns anos de intenso trabalho milhares de podadores.
E, assim, quem percorrer as regiões oleícolas nacionais facilmente verificará o notável progresso já conseguido na melhoria desta técnica de cultura da oliveira.
Esse melhoramento notável deve-se não só ao departamento de agricultura, mas também à Junta Nacional do Azeite, que tem colaborado proveitosamente nesta meritória campanha.

O Sr. Proença Duarte: - Mas o que ainda não se realizou foi a estação de oleicultura, que só está no Diário do Governo e que muito profícua seria para o fabrico do azeite.

O Orador: - Estou de acordo com V. Ex.ª, esses são também os votos de todos os responsáveis do departamento de agricultura.
Como a hora já vai adiantada, e para não abusar da atenção que amavelmente VV. Ex.ªs me têm dispensado,
passaremos, sem qualquer referência, pelos grandes progressos já conseguidos, mercê do trabalho dos técnicos oficiais, no repovoamento das serranias, na fixação das dunas, no melhoramento dos nossos gados, na produção de fibras vegetais, como o cânhamo, na cultura do arroz, da batata de consumo e de semente, na defesa fitopatológica das culturas, etc., terminando com uma pequena alusão da obra já realizada na melhoria dos nossos pomares e do comércio das frutas e dos produtos hortícolas.

O Sr. Carlos Borges: - Aí é que há uma grande deficiência, porque, se todos sabem podar as oliveiras, não há ninguém que saiba podar, em Portugal, as árvores de fruto.

O Orador: - Isso representa dentro de certos limites um beneficio, porque na técnica americana domina hoje a orientação de tocar o menos possível nas árvores de fruto.
É errada a prática de se podarem as árvores, permitam-me a expressão, à garçonne.

O Sr. Carlos Borges: - Acabei de receber uma lição de V. Ex.ª, na realidade muito interessante. Fiquei sabendo que nas árvores de fruto se deve mexer muito pouco. Não é a minha opinião do pessoa ignorante e a de muitas pessoas ignorantes como eu. Nem se devem tirar os ramos secos?

O Orador: - Mas isso não se chama poda, é uma simples limpeza.
A exportação das frutas representou em épocas passadas, depois da do vinho, o valor mais importante da nossa exportação de produtos agrícolas.
Nos fins do século XIX, porém, mercê do ataque de vários agentes parasitas e da concorrência dos países novos, essa indústria entrou em rápido declínio.
Mas, após alguns anos de trabalho, levado a cabo pelo departamento de agricultura e pela Junta Nacional das Frutas, pode dizer-se hoje que Lisboa é das cidades da Europa a que apresenta uma capitação de fruta mais elevada e que o comércio de exportação das frutas e produtos hortícolas nacionais se encontra novamente elevado ao prestígio do passado.
Antes da guerra Portugal tinha reconquistado mesmo a maior parte dos seus antigos mercados de frutas, exportando quantidades apreciáveis de ananás, melão, uvas, cebolas e outros produtos, alguns deles já há muitos anos não figurando nas estatísticas do nosso comércio de exportação. Admito mesmo que, dentro de poucos anos, Portugal poderá vir a ocupar um lugar de grande relevo como exportador de frutas, especialmente uvas de mesa, melão, pêssegos, ananases, além de frutas secas e de alguns produtos hortícolas, como a cebola.
Vou terminar. O que fica dito permite-me negar o valor da afirmação do Sr. Deputado Araújo Correia quando diz que:

Não parece que a acção do Estado se faça sentir apreciavelmente nesta matéria, embora se tenham feito esforços, pelo menos no ponto de vista orçamental,...

Teremos contudo de dotar com os meios necessários o departamento de agricultura, por forma a que ele possa vir a desempenhar ainda com mais proveito a sua difícil missão de fomento da nossa agricultura.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.