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15 DE DEZEMBRO DE 1950 173

ções de 28 de Junho de 1950, publicada no Diário do Governo n.º 150, 2.ª série, de 30 do mesmo mês e ano, fui nomeado, nos termos do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 37:190, de 24 de Novembro de 1948, presidente do Conselho de Administração dos Portos do Douro e Leixões, lugar de que tomei posse no dia 1 de Julho de 1950.
Como este facto, segundo me parece, implica a perda do meu mandato de Deputado, muito agradeço que V. Ex.ª se digne considerá-lo em seu superior critério e submetê-lo à elevada e esclarecida apreciação da Assembleia.
Enquanto o problema não tiver definitiva resolução, permitir-me-ei, com a devida vénia de V. Ex.ª, não comparecer às sessões.
Aproveito esta oportunidade para, e enquanto me não é possível fazê-lo pessoalmente, apresentar a V. Ex.ª os mais vivos agradecimentos por todas as imerecidas atenções que V. Ex.ª me dispensou o renovar a V. Ex.ª a expressão muito sincera do meu alto apreço e muita consideração.
Digne-se V. Ex.ª aceitar os meus melhores e mais respeitosos cumprimentos.

Antão Santos da Cunha, Deputado pelo círculo de Braga».

O Sr. Presidente: - Estão na Mesa dois ofícios do juiz de direito da comarca de Monção pedindo autorização para que o Sr. Deputado Elísio Pimenta possa prestar depoimento naquele tribunal nos dias 13 e 21 do corrente.
A audiência marcada para o dia 13 foi adiada para 19.
Vou submeter à decisão da Assembleia o pedido de autorização para o Sr. Deputado Elísio Pimenta prestar o depoimento solicitado nos dias 19 e 21 do corrente.
O Sr. Deputado Elísio Pimenta não vê qualquer inconveniente para a sua acção parlamentar em que a Assembleia o autorize a prestar esse depoimento.

Consultada a Assembleia, foi concedida a autorização.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, antes da ordem do dia, o Sr. Deputado Carlos Moreira.

O Sr. Carlos Moreira: - Sr. Presidente: não vou proferir uma conferência literária, nem entrar nos domínios de uma apreciação crítica à volta de um assunto ou de um vulto da literatura.
Nem o momento nem a função da Assembleia em que nos encontramos o justificam. Vou tão-sòmente afirmar uma posição que pretendo definir como professor e Deputado. Posição pessoal, evidentemente, mas que coincide, tenho a certeza, com a de muitos espíritos, cultos e menos cultos, da terra portuguesa.
Tenho, Sr. Presidente, o culto pela tradição e pelos que, através das gerações, têm nobilitado e nobilitam o nome português. A inteligência e o trabalho ao serviço da grei, em exemplar esforço de hoje e de ontem, como o heroísmo e a fé, merecem o louvor das gerações e as memórias que se lhes levantam. Admiro a contrição e o arrependimento que rasgam auroras de luz, como abomino a mudança de ideias ou de posição, por conveniências mais ou menos calculadas. Emprego sempre a minha vontade (se me não engano comigo mesmo) no sentido de ser tolerante, compreensivo e justo. Mas, ao mesmo tempo, nunca me arreceio do dizer o que penso, agrade ou desagrade. Cumpro um mandato imperativo da minha consciência.
Vem isto a propósito das comemorações há pouco iniciadas, e que estão decorrendo, do nascimento do poeta Guerra Junqueiro. Do poeta, digo eu propositadamente, porque só nesse aspecto compreendo a ideia de tais comemorações.
Acrescentarei: do poeta, na forma e brilho dos seus versos. Já não digo, seguindo a corrente fácil dos louvadores académicos e não académicos, já não digo, repito, da essência moral da obra, do seu aspecto educativo e da sua projecção política e social.
Custa ser discordante no coro dos ditirambos laudatórios que surgem, mesmo onde menos se podia esperar. Mas o caso é público: vestiram a Junqueiro a toga imaculada de amigo e guia da juventude; com a alta responsabilidade do seu cargo no mais elevado organismo de projecção nas Letras e nas Ciências, o escritor e académico Júlio Dantas, elemento responsável da Alta Cultura Portuguesa, dadas as marcantes intervenções que em tal campo lhe têm sido confiadas, apresentou uma antologia de Junqueiro para a juventude, que depositou oficialmente nas mãos do Sr. Ministro da Educação Nacional, acompanhando o acto com as seguintes palavras:

Quem é hoje recebido no Palácio da Educação Nacional com provas de tão particular deferência não somos na verdade nós; é o próprio Junqueiro. Não aquele Junqueiro rebelde que encarnou o espírito negativista, as cóleras proféticas, o génio saturniano da poesia universal do século XIX, mas o poeta amorável que exaltou a família, que enalteceu as virtudes do lar, que cantou as crianças, que cultivou a literatura infantil e cujo doce panteísmo cristão, tocado de claridade e de imortalidade, é uma escada refulgente erguida para Deus.

Há portanto dois Junqueiros? Não. Há apenas duas facetas da sua obra, aliás com o mesmo fundo informativo.
Não me foi dado ainda conhecer essa obra do escolha e compilação! Uma coisa, porém, é certa, aliás vincada já nas palavras de agradecimento proferidas pelo Sr. Ministro: a dificuldade de seleccionar a obra de Junqueiro.
É natural que o seleccionador tenha joeirado cuidadosamente as composições, mas receio que, mesmo assim, o crivo tenha sido largo e haja passado algum joio para o campo de sementeira da juventude ou então que a antologia represente tudo menos a obra de Junqueiro, pela insuficiência e parcelamento das suas composições.
E, depois, quem nos diz que os jovens se limitarão a conhecer somente os pedaços de antologia que lhes ministram? E o resto da obra? Quem lha oculta ou lha destrói?
E toda a literatura crítica que se produziu em torno da obra junqueiriana?
Rasgavam-se as páginas de Sena Freitas, esse gigante camiliano da polémica, de Leonardo Coimbra, de António Sérgio, de Fidelino de Figueiredo, do padre Moreira das Neves e tantas outras?
Que se havia de ensinar à juventude para explicar a amputação da obra?
Do muito que se tem dito e escrito quase parece pretenderem envolver o poeta no rude e pobre burel de S. Francisco de Assis. Quiseram assim trazer perante os nossos olhos um Junqueiro compassivo e sereno, exortador de virtudes patrióticas, pregando, a resignação, a paz e a pobreza, aquela Irmã Pobreza do excelso Poverello!
Mas quem conhece esse Junqueiro? Antes violento, sarcástico, ia mesmo a dizer satânico, demolidor das aras de Deus e das grandes forças construtivas e mantenedoras da Nação, Junqueiro foi totalmente diferente daquele que agora querem apresentar-nos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!