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176 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 63

Portugal não tem que modificar a sua acção tradicional na matéria. Ao mesmo tempo que se esforça por difundir a língua metropolitana, não esquece o interesse, quer moral, quer material, que existe no conhecimento e no estudo das línguas indígenas.
Desejo ainda dirigir daqui um apelo ao Sr. Ministro das Colónias para que o mais rapidamente possível seja solucionada a questão do provimento da cadeira de Língua e Cultura Árabes no mesmo Instituto.
Apoiados.
Nós, portugueses, mercê da nossa história e da nossa geografia, temos uma tradição magnífica de estudos arabísticos. É natural por vários motivos. De facto, possuímos nos territórios portugueses de além-mar massas consideráveis de população muçulmana e temos dentro do nosso próprio território metropolitano monumentos e tradições várias do domínio árabe. Estou evocando essa bela cidade de Silves, em que os antigos príncipes árabes declaravam guerra uns aos outros em verso e onde existia a bela «varanda dos rouxinóis».

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Tenho bem vivas as minhas impressões de uma curta estada, há dias, no Egipto, que não é hoje um país adormecido, como muitos erradamente supõem, não é somente o berço de uma grandiosa civilização milenária. É uma pátria viva e desperta, um pais que vibra e se agita, talvez ainda suspenso sobre alguns caminhos do porvir. E há a considerar o facto de que, o Egipto se encontra num ponto nodal entre a Ásia, a África e a Europa. A sua posição material e moral não interessa apenas o mundo árabe ou o mundo islâmico, mas o mundo inteiro, especialmente o Ocidente.
Visitei ali instituições culturais das mais interessantes e progressivas e estive em grato contacto com elementos preponderantes da cultura e da política. Visitei, especialmente, o Instituto Fuad I do Deserto, que se dedicará a estudos científicos e técnicos sobre a desertificação e seu combate e o qual será inaugurado dentro de poucos dias, suponho, felizmente, com a assistência de um delegado oficial português.
É evidente o labor fecundo e elevado que está em marcha naquele país.
Presenciei directamente os bons efeitos da acção desenvolvida pelo pais vizinho, pela Espanha, no intuito de estreitar o mais intensamente possível os laços culturais e de afecto com o Egipto.
No ponto de vista da defesa da cultura e da língua portuguesa, quero também salientar a importância do recente Colóquio Luso-Brasileiro em Washington, e da mesma maneira os efeitos salutares, vibrantes e entusiásticos da presença da Missão Cultural Portuguesa junto dos excelentes núcleos de emigrantes lusitanos na América do Norte.
Termino, Sr. Presidente, renovando as minhas expressões de agradecimento ao Sr. Ministro das Colónias, e, ao mesmo tempo, fazendo um apelo a S. Ex.ª e a todas as entidades governativas de quem os assuntos expostos dependem, para que rapidamente se intensifiquem os esforços no sentido que defini.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Borges, para se ocupar do aniversário, que passa hoje, da morte do Presidente Sidónio Pais.
Convido S. Ex.ª a subir à tribuna.

O Sr. Carlos Borges: - Sr. Presidente e Srs. Deputados : é muito grande a figura que tenho de evocar e são muito escassos os recursos que me empresta a minha formação intelectual para levantar mais uma vez a minha voz perante a Assembleia Nacional e o País.
Em 14 de Dezembro de 1918 caiu, tombou no seu posto de chefe, uma das mais nobres, das mais altas figuras de português e de político.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O homem que, com um punhado do rapazes sem ambições pessoais, sem a ânsia do Poder e sem desejo de conquistar qualquer vantagem para si, logrou dominar a demagogia que avassalava o País e conseguiu incutir nos corações um pouco de esperança - que já parecia perdida e apagada para sempre - em todos quantos viveram essas horas de desordem, de confusão, de prepotência e de feroz demagogia, que nos arrastaram a todas as misérias, a todas as vergonhas e a todas as transigências, não pode, não deve ser esquecido.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sidónio Pais surgiu no meio dessa desordem e dessa miséria como uma figura impecável, de uma elevação, de um aprumo, de uma dignidade e de um patriotismo que não há palavras para bem os traduzir.
Era o homem que todos ambicionávamos, era o chefe que conseguiu dominar e conquistar o País, e principalmente os humildes, os fracos, os deserdados, os desprotegidos, impondo-se mesmo aos seus adversários, pela valentia, pela coragem moral e pelo desassombro.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E foi assim que ele morreu; por não ter medo, por não querer defender-se dos inimigos que o espreitavam e que armaram um braço para o abater na estação do Rossio.
Creio que, neste país, ainda não foi prestada a devida homenagem a esta grande figura da história contemporânea.
Creio que está em aberto a dívida e espero que esta situação, que tantas reparações tem feito, que tantas injustiças tem corrigido, também saberá pagar condignamente a dívida contraída para com a memória inolvidável de Sidónio Pais.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não posso esquecer que Sidónio Pais nos últimos momentos, quando se lhe apagava para sempre a luz da vida, murmurou ainda estas palavras: «Rapazes: salvai a Pátria!».
Foi, pois, a salvação da Pátria o seu último pensamento, o seu último anseio, a sua última recomendação aos amigos que o choravam e que devotadamente o acompanharam sempre.
Perdeu-se durante algum tempo, no tumultuar das paixões, a recomendação suprema de Sidónio Pais. Mas no 28 de Maio o Exército tomou-a para si e fê-la triunfar.
É para a salvação da Pátria que tudo se tem feito na reconstituição financeira, económica, moral e política do País.
Ao recordar a grande figura de Sidónio Pais mais uma vez me curvo perante a sua memória, com a imensa gratidão que todos os portugueses sinceramente lhe devem.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.