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12 DE JANEIRO DE 1951 237

O Orador: - Quero dizer publicamente a V. Ex.ª, com toda a sinceridade, que, como ontem expliquei, se me ocorreu a ideia de que havia uma certa extemporaneidade na sua intervenção, foi porque me recordei do artigo que António Sardinha tinha escrito a respeito de Junqueiro. Senão nem sequer tinha feito essa referência.
Portanto, peço a V. Ex.ª, Sr. Deputado Ricardo Durão, que creia que nem de longe duvidei que V. Ex.ª - um velho batalhador do nacionalismo - tenha pensado melindrar a nossa sensibilidade de nacionalistas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Ricardo Durão: - Agradeço as explicações de V. Ex.ª, mas, como podia transparecer a alusão, por isso acusei o touché.

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Ricardo Durão, ao fazer reclamações sobre o Diário da sessão de ontem, lamentou a omissão no mesmo Diário de palavras que eu teria proferido, ontem, depois do seu discurso.
Efectivamente, ao referir-me à intervenção do Sr. Deputado Ricardo Durão sobre Junqueiro, eu assinalei p interesse com que a Câmara tinha ouvido o seu brilhante e sincero discurso; e quero que fique registada no Diário esta rectificação e a muita consideração pelo Digno Deputado.

O Sr. Ricardo Durão: - Agradeço a generosa explicação de V. Ex.ª

O Sr. Presidente: - Considero aprovado o Diário com as reclamações apresentadas.

Pausa.

O Sr. Presidente: - Vai ler-se o

Expediente

Exposições

Cópia de uma, dirigida a S. Ex.ª o Presidente do Conselho por um numeroso grupo de autores e críticos teatrais, referente a alguns dos aspectos da crise que atravessa o teatro.
Outra a propósito do discurso do Sr. Deputado Abel Lacerda relativo à prioridade da resolução dos melhoramentos rurais e pedindo a actualização do estudo e acabamento da abertura do troço de estrada entre Águeda e Cambarinho, do concelho de Vouzela.

O Sr. Presidente: - Está na Mesa uma carta do Sr. Deputado Francisco Higino Craveiro Lopes, comunicando que foi nomeado comandante da 3.ª Região Militar e que, portanto, não lhe é possível fazer parte do actual quorum desta Assembleia.
A comunicação do Sr. Deputado vai baixar à Comissão de Legislação e Redacção, para ela se pronunciar sobre o assunto, e oportunamente será presente à Câmara o seu parecer.

Pausa.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra antes da ordem do dia o Sr. Deputado Bartolomeu Gromicho.

O Sr. Bartolomeu Gromicho: - Sr. Presidente: em 10 de Julho de 1920 faleceu em Évora o grande arcebispo D. Augusto Eduardo Nunes.
A memória de tão ilustro prelado foi consagrada pelo Município no nome que deu à rua onde D. Augusto viveu a última fase da sua atribulada existência.
Também uns tantos admiradores, por subscrição pública, erigiram um mausoléu, que fora colocado, com autorização governamental, na capela do claustro, ao lado do túmulo do fundador, o bispo D. Pedro.
Com o desenvolvimento das obras de restauro da Sé e, em especial, com a reintegração do claustro na sua traça original, foi resolvido pelos funcionários dos Monumentos Nacionais que o túmulo do arcebispo D. Augusto Eduardo Nunes fosse removido do claustro, por não condizer arquitectònicamente com o ambiente restaurado.
Instalado provisoriamente numa capela da Sé, com a demolição desta posteriormente foi o arcaz tumular transferido para uma pequena cripta existente na formosa Capela do Esporão, substituindo-se o alçapão de mármore por uma pequena entrada por dentro da sacristia.
É de justiça dizer-se que na ocasião parecia o problema resolvido satisfatoriamente, porquanto houve o assentimento do próprio cabido.
O primeiro Inverno, porém, demonstrou o inconveniente da acomodação fúnebre, pois as águas pluviais ou de nascente invadem periodicamente a cripta, transformando-a numa contramina de nora.
A imprensa já se tem feito eco desta situação afrontosa para a memória de quem foi naquela catedral o maior entre os maiores.
Realmente, a sua voz de ouro, se alguma coisa de eterno existe nas vibrações da voz humana, ainda ecoa naquelas majestosas naves, por onde ele passou como um verdadeiro príncipe da Igreja - príncipe pelas suas virtudes e pelo seu talento.
Não é despropositado recordar que D. Augusto Eduardo Nunes, nascido na humildade, ascendeu por méritos próprios a uma cátedra de Coimbra e que em Évora, sagrado arcebispo de Perga, como coadjutor cinco anos e depois efectivo em 1890, empunhou durante trinta e cinco anos o báculo da arquidiocese com dignidade difícil de igualar.
O seu maior título do glória, a par de excelsas virtudes, foi, como toda a gente sabe, a oratória. A Trilogia da Imaculada - três notáveis sermões pregados em Braga, Évora e Vila Viçosa - é peça literária digna de um padre António Vieira.
As conferências dominicais da Quaresma na Sé de Évora atraíam multidões de fiéis e de simples curiosos.
Os próprios discursos profanos - e ocorre-me lembrar os que lhe ouvi proferir no claustro do liceu pelas festas do 1.º de Dezembro- tinham sempre foros de grande acontecimento. Na verdade, as majestosas arcarias do pátio nobre da velha Universidade eram o mais adequado cenário para aquela voz e para aquela nobre figura, que se agigantava em vibrações patrióticas.
Ora, Sr. Presidente, não é numa desolada e obscura cripta, transformada em nora periodicamente, com. entrada misteriosa e afastada da vista do público, que se guardam condignamente os restos mortais da ínclita figura da Igreja e das letras pátrias que foi D. Augusto Eduardo Nunes.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O problema merece e deve ser revisto por quem de direito, no sentido de novo túmulo, estudado de harmonia com as características do local apropriado nas naves da Sé ou no claustro anexo, ser projectado de forma a resolver o duplo aspecto da arte e da merecida e permanente homenagem.
Sr. Presidente: vem a propósito referir-me ao restauro da Sé de Évora, obra meritória dos Edifícios e Monumentos Nacionais, mas que se tem arrastado há bastantes anos, sem se vislumbrar quando será o seu acabamento.