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24 DE FEVEREIRO DE 1951 371

a justa medida que deverá e terá de existir, por exigências do bem comum, nas relações entre os vários factores da riqueza madeirense.
Espero seja atendida esta minha sugestão, que é um pedido instante.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

0 Sr. Mendes Correia: - Sr. Presidente: vou-me referir nesta Casa, que é da Nação, a um facto que considero do maior relevo e que não necessita, a meu ver, de trepes de retórica florida para ser devidamente enaltecido.
Vou referir-mo à comemorarão que hoje se efectua, como li nos jornais desta manhã, do primeiro quarto de século de vida de uma organização que reputo sabidamente meritória: o Instituto de investigação Científica Rocha Cabral.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

0 Orador: - Em 1921 dava-se um facto quase sem precedentes (na expressão do director daquele Instituto) na nossa terra: um homem possuidor de uma grande fortuna - Bento da Rocha Cabral- falecia e no seu testamento consagrava a maior parte dos seus bens à fundação de um estabelecimento de investigação científica em Lisboa, designando para a sua organização o Prof. Ferreira de Mira, que, na realidade, imediatamente tratou de assumir a tarefa tão honrosa de que ora investido. E porquê esta designação? Porque entre o Prof. Ferreira de Mira e Bento da Rocha Cabral houvesse qualquer velha amizade, existissem velhas relações? Não, pois nem sequer se conheciam pessoalmente, mas sim porque Bento da Rocha Cabral tinha ma sua vida ao trabalho pousado os olhos atentamente e com inteligência sobre artigos de propaganda da investigação científica publicados pelo Prof. Pereira de Mira.
É um aspecto curioso e impressionante do facto que hoje se comemora: este de uma feliz propaganda jornalística dar estimulo a uma iniciativa alevantada e patriótica.
Ferreira do Mira aceitou a incumbência e foi o organizador o primeiro director do Instituto de Investigação Cientifica Rocha Cabral.
Em 1925 tinha aquele professor concluído a adaptação do prédio em que vivera Bento da Rocha Cabral depois das suas viagens o dos seus trabalhos pelo Mundo o rodeava, se duma falange notável de colaboradores.
Ele próprio interpretara os objectivos de Rocha Cabral no sentido de que era sobretudo à biologia, e mais ainda à biologia para do que à biologia aplicada, que tio deveriam dirigir os trabalhos de investigação do novo estabelecimento científico. E rodeou-se de naturalistas e médicos, de todos os quais não vou citar. os nomes - são em número superior a cinquenta os que trabalharam no Instituto Rocha Cabral -, mas citarei, com a homenagem' devida, os nome.4 daqueles que infelizmente já desapareceram do número dos vivos. Citarei em primeiro lugar o de Ferreira de Mira (Filho). Morreu prematuramente, quando era uma justificada esperança, quando todos os seus entusiasmos e o seu talento se encaminhavam na investigação, ao lado de professores muito distintos, como seu pai e o Prof. Lopo de Carvalho.
Cito o nome de Carlos França, espírito nobre, elevado, parasitalogista insigne, epidemiologista notável, alma do importante Congresso de Medicina Tropical realizado há anos em Luanda e um dos nossos mais ilustres historiadores científicos. A ele se deve muito especialmente o relato de que os portugueses fizeram na investigação científica, no século XVI, nos territórios brasileiros.
Citarei também o padre Silva Tavares, figura gloriosa de zoólogo e de sacerdote, antigo director dessa magnífica revista, que honra a cultura nacional, a Brotéria.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

0 Orador: -0 P.e Silva Tavares é uma das figuras mais luminosas da cultura e da ciência portuguesas.
Simões Raposo, médico e investigador, uma promessa magnífica que a norte prematuramente arrancou aos seus admiradores, aos seus amigos, à ciência e á cultura portuguesa. Era ele o secretário dedicado da antiga Junta Nacional, da Educação, hoje Instituto para a Alta Cultura. Foi um dos mais activos e talentosos impulsiona. dores daquele organismo.
Devo dizer, mona senhores, que tenho conhecido pouca gente dotada como Simões Raposo de um tão forte poder de atracção pessoal, de uma tão irradiante simpatia, de tanto talento vivo o ao mesmo tempo simples.
Foi um dos espíritos mais gentis e mais nobres que eu tenho encontrado.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

0 Orador: - E cito, finalmente, Mark Athias, o insigne professor e fisiologista, figura eminente da inteligência e do saber desta terra portuguesa.
Estes já desapareceram, mas ficaram os seus esforços, as suas recordações, como que pairando tutelarmente sobre o Instituto Rocha Cabral e, de uma maneira geral, sobro a investigaç1o científica portuguesa.
Como poderia o Prof. Ferreira de Mira esquecer a colaboração que naquele Instituto lho deu o seu filho, um filho desaparecido?! Que laço maior podia unir o Prof. Porreira de Mira ao seu Instituto? Duplamente essa união se estabeleceu: como fundador o como pai.
Meus senhores: há muito pouca gente neste país que compreenda o amor desinteressado que qualquer pessoa tem às suas obras, quando essas obras são nobres e alevantadas.
Há qualquer coisa de paternal nos laços que prendem Ferreira de Mira ao seu instituto.
Neste trabalham e têm trabalhado outras individualidades. Citarei, de entre as que são ainda felizmente do número dos vivos, o Prof. Egas Moniz, prémio Nobel, que ali fez os seus primeiros trabalhos de encefalografia. Foi ao Instituto Rocha Cabral que ele foi pedir auxílio para poder efectivar praticamente uma grande parte dos seus primeiros ensaios, das suas primeiras tentativas. Só por isso o Instituto Rocha Cabral seria credor da gratidão dos portugueses.
Mas ali se tem trabalhado, senhores, em fisiologia, em culturas de tecidos, em endócrinas, em bacteriologia, especialmente no sector da tuberculose, em cancerologia experimental, à qual está ligado o nome, tão saudoso para mim, de Luís Simões Raposo, em fitopatologia com o P.e Silva Tavares, já referido, o depois com D. Matilde Bensaúde, em química biológica, etc.
Houve um momento em que o Instituto Rocha Cabral sofreu uma crise gravíssima; é que o legado de que resultou era sobretudo constituído por fundos brasileiros, que se desvalorizaram quase instantaneamente.
Foram suspensas todas as bolsas de estudo, foram suspensos todos os subsídios a investigadores, mas nem por isso se deixou de trabalhar ali.
0 Prof. Ferreira de Mira e a comissão administrativa do Instituto tinham tido o cuidado logo de início de trocar alguns dos títulos brasileiros por títulos do Fundo do Estado Português.