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30 DE ABRIL DE 1951 975

humanas e sociais - que regem a hospitalização das crianças. Reconheceu que aquele novo estatuto, que passaria a reger a nossa política de construções hospitalares, não estaria à altura das nossas responsabilidades se não incluísse o propósito de fazer erigir na terra portuguesa este novo tipo de hospitais.
Novo tipo de hospitais, disse eu! Novo para nós, infelizmente! Mas tão velho já para muitos países da Europa e da América!
Efectivamente, pondo de lado muitas iniciativas que não merecem essa designação, vamos encontrar a criação do primeiro hospital de crianças em Paris, logo no início do século XIX (1802), L'Hospice de l'Enfant Jésus, convertido pouco depois no Hôpital des Enfants Malades, cujas trezentas camas eram exclusivamente destinadas a crianças entre 2 e 15 anos e que foi durante muito tempo o único centro de formação de pediatras, onde se especializaram e fizeram investigações cientificas os que levaram a pediatria francesa a ocupar o primeiro lugar no Mundo, lugar que manteve durante mais de meio século.
A este se seguiu, quase trinta anos depois (1830), na Charité, de Berlim, a criação de um serviço modesto, de trinta camas, para clínica privativa de crianças, tendo anexa uma policlínica. Ali trabalhou Barez e ali fundou, com Romberg, o primeiro jornal de pediatria do Mundo.
Em 1834, em S. Petersburgo; em 1837, em Viena de Áustria; em 1802, na Inglaterra; em 1868, em Buenos Aires; em 1876, em Madrid; em 1891, em Barcelona, etc., foram surgindo os hospitais infantis.
Na mesma corrente de pensamento se integrou Portugal, fazendo construir o Hospital O. Estefania, primitivamente destinado a hospital de crianças.
Infelizmente a ideia acalentada pela rainha foi atraiçoada, e em vez dum hospital de crianças tivemos um hospital de adultos, com serviços que recebiam as mais variadas doenças e onde se encaixaram - graças a Deus! - dois serviços de pediatria! Ali nasceu a especialidade de pediatria em Portugal, mercê das excepcionais qualidades dum grande e saudoso mestre - o Prof. Jaime Salazar de Sousa -, e dali saíram os primeiros que exerceram e difundiram os conhecimentos de puericultura e de pediatria neste país.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Além destes dois serviços, criaram-se em Portugal o Hospital Maria Pia, no Porto; o S. Roque, na Misericórdia de Lisboa; uma enfermaria no Hospital Santo António, no Porto; outra nos Hospitais da Universidade de Coimbra; o serviço de pediatria do Hospital Santa Marta; a enfermaria do Hospital S. Marcos, em Braga, e umas poucas pequenas enfermarias nos hospitais das Misericórdias da província!
A Sociedade de Pediatria, cônscia dos seus deveres, entendendo que não deve circunscrever a sua actividade aos problemas da clínica e da investigação científica, vem aberta e francamente para o campo da medicina social, expondo ao Governo este delicado problema e oferecendo a sua colaboração - indiscutivelmente preciosa - para o estudo da sua mais conveniente solução.
Aos que não conhecem ò que tem sido a actividade da nossa Comissão de Construções Hospitalares, criada depois da aprovação da Lei n.º 2:011, a que me referi, poderá parecer estranho que, volvidos cinco anos sobre a aprovação da lei que criou os hospitais de crianças nas três principais cidades do continente, a Sociedade de Pediatria se veja obrigada a representar ao Governo para que seja considerada a construção desses hospitais.
Enganam-se os que possam pensar que naquele sector se não tenha trabalhado com entusiasmo.
É que, provavelmente, o Governo, que ao tempo levava já adiantadas as construções dos grandes Hospitais Escolares de Lisboa e do Porto e que tinha entre mãos os estudos de transformação dos Hospitais da Universidade de Coimbra, onde estão incluídos serviços de pediatria destinados ao ensino da especialidade nas três Faculdades de Medicina, entendeu dar a preferência à construção, transformação e equipamento dos hospitais regionais e sub-regionais e relegar para uma segunda fase os hospitais especializados de doenças infecto-contagiosas e de doenças das crianças.
Efectivamente o trabalho realizado pela Comissão de Construções Hospitalares merece ser destacado, para que o País o conheça e preste aos seus membros a justiça devida.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Já são mais de cento e trinta os projectos de obras elaborados, quase todos para pequenos hospitais sub-regionais, e cujas obras de comparticipação andam à roda de 60:000 contos. No que respeita a equipamentos de hospitais, andam por cento e cinquenta os que já beneficiaram, em maior ou menor escala, da sua intervenção, cujo valor ultrapassa os 10:000 contos. E em 28 de Maio próximo serão inaugurados vinte hospitais - alguns novos e outros inteiramente remodelados.
Por tudo o que já se fez são devidos a SS. Exas. os Ministros do Interior e das Obras Públicas palavras de louvor e de agradecimento. Quero aproveitar esta oportunidade para apresentar as minhas saudações àqueles dois ilustres homens públicos pela obra que tom realizado em prol da saúde pública, esperando que não esmoreçam no seu entusiasmo, nem consintam soluções de continuidade no plano traçado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas julgo que estamos chegados à altura de encararmos devidamente o estudo e a execução dos hospitais especializados de doenças das crianças previstos na lei.
O panorama da nossa assistência infantil, a despeito de tudo o que se tem feito, é desolador e carece de algumas soluções urgentes. Urgentes, mas bem estruturadas, com bem elaborado plano, com ordenação cuidadosa, com prévia garantia de bom rendimento social dos capitais nelas investidos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E dentro das mais urgentes estão os hospitais para doenças das crianças. Atrevo-me a dizer que é por aí que se deve começar se queremos encarar a sério o problema das altas e vergonhosas taxas da morbilidade e da mortalidade infantis.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Estou em muito boa companhia ao defender este critério.
O segredo da vitória dos outros países neste combate em que nós continuamos na posição de derrotados reside essencialmente na obra admirável dos seus hospitais de crianças, preparando médicos, habilitando enfermeiras e puericultoras, instruindo visitadoras e assistentes sociais, educando as mães e recuperando prontamente os pequeninos doentes.

Vozes: - Muito bem!