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1 DE MAIO DE 195 993

tores, para não desanimarem na sua actividade tão necessária, ao mesmo tempo que defendendo os consumidores contra altas injustificadas do custo da vida e dificuldades de abastecimento.
A estas excelentes, fortíssimas razões de ordem puramente económica convém acrescentar as de ordem social, pois os enormes sofrimentos da população rural ai ente j anã, ante os quais nos temos já por várias vezes detido, seriam sem dúvida menores se os preços do seu principal produto houvessem sido estabelecidos com mais apurada atenção a certas realidades.
Foi por tudo isto que, pouco depois desse debate, quantos no País por estudo ou interesse material se ocupam de problemas do trigo souberam com vivo agrado ter a federação dos seus produtores promovido um inquérito sério aos custos da produção.
Este inquérito, entregue a um dos primeiros especialistas nacionais de economia agrária, aliás insuspeito de parcialidade para com os lavradores, pelo menos para com aqueles tão frequentes como injustamente acusados de agitarem as questões de preços no simples desejo de maiores e mais fáceis lucros, foi conduzido sobre as bases mais cuidadas, como pode deduzir-se do facto de os seus métodos terem sido julgados dignos de informação especial e prévia à Sociedade de Ciências Agronómicas.
Consta que abrangeu duzentos concelhos do País, isto é, todos aqueles onde a cultura do trigo tem praticamente importância; e que considerou dados relativos a nada menos do que trinta anos, dos quais vinte e oito consecutivos, tendo sido determinadas pelos métodos da estatística matemática as frequências dos anos "médios", que foram cerca de metade, "desfavoráveis", cerca de 28 por cento, e "favoráveis" à produção, cerca de 22 por cento do número total desses trinta, na média geral do continente português.
Inquérito feito com estes apuros e muitos outros de que tem havido notícia, sob a orientação das mais autorizadas entidades e presumivelmente com toda a colaboração dos serviços oficiais, antecipadamente ganhara tanto em confiança como- suscitara expectativas de ansiosa curiosidade e, quando começou a correr, há cerca de um ano, que fora finalmente terminado, a publicação dos seus resultados passou a ser aguardada com o maior interesse.
Ao cabo de tantos anos de reclamações, queixumes e exprobações, ir-se-ia finalmente saber, por números indiscutíveis, se a lavoura se excedera nos seus pedidos de preço ou se, e até que ponto, estava sacrificada às superiores exigências do bem comum!
Mas, Sr. Presidente, com surpresa e incompreensão se verifica que o véu do mais absoluto silêncio oficial caiu sobre o inquérito ao custo da produção de trigo no continente português!
Lá jaz nos arquivos da Federação Nacional dos Produtores de Trigo, que por uma vez se esqueceu dos seus federados e, inverosimilmente atraiçoando o próprio nome, lhes nega avaramente os números que tanto apeteceriam conhecer!
Mas, todavia, não é exclusivo desses arquivos, pois transpirou já que há algumas cópias distribuídas por fora, sempre sob o sigilo da confidência, e a sábia voz do povo, permite-nos julgar o que há-de ser deste segredo que é de mais de três ...

O Sr. Melo Machado: - A mim enviaram-me esse estudo sem que eu o tenha solicitado.

O Orador: - Tenho notícias de que pessoas que receberam esse estudo receberam também o pedido de não o divulgarem.
Assim, numa ou noutra publicação e em muitas conversas, vão-se dizendo alguns números, que destarte, dispersos e desintegrados dum quadro geral, intrigam e desorientam, provando uma vez mais que em coisas deste grau de interesse público a verdade, franca e aberta, comporta menos inconveniências que as reservas, que muitos se empenham por desvendar e, desvendando mal, deturpam e comprometem.
Apoiados.
Quando se citam números vizinhos de 5$ de preço por quilograma, pode esquecer dizer que se referem a zonas de preços de custo limitadas e a anos desfavoráveis, mas a ordem de grandeza fica a inquietar os ouvintes; quando se escreve, já com ar de mais generalidade, que nas condições vigentes ao tempo de fechar o inquérito seria necessário pagar o trigo a 3$53 cada quilograma para em ano de produção média compensar o custo de 75 por cento da colheita - de 75 por cento apenas, note-se - ou -3f 76 para cobrir as despesas de 90 por cento dela (ainda não seria geralmente compensador!) quem lê, e no caso pode ter sido muita gente, fica naturalmente à espera de algum esclarecimento e justificação! E é de reparar como esse tal preço de 3$53, correspondendo ao que se classificou de protecção moderada, se ajusta bem ao que os mais representativos produtores têm reclamado: merece registo o acerto das suas conclusões de homens experientes, tão concordantes com as determinações cientificamente rigorosas e objectivas.
Sr. Presidente: a lavoura portuguesa sente como nenhuma outra classe de actividades as privações da gente pobre do seu país.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Do maior ao mais modesto, no trato directo dos seus trabalhadores ou no conhecimento das agruras dos vizinhos de vilas e aldeias, o produtor agrícola vê-as, sofre com elas e prontifica-se a partilhá-las, nisto provavelmente se avantaja ao comerciante ou industrial, muitas vezes segregado pela vida citadina e organização das empresas do contacto frequente e chegado com os seus colaboradores mais humildes.
A lavoura poderá pois resignar-se, talvez, a continuar vendo medir por estalões diferentes os lucros consentidos às diversas actividades mais importantes; poderá constranger-se a sofrer - sem gosto, maldizendo das circunstâncias e da sua triste sorte, esperando legitimamente por dias melhores, e por estes lutando e pedindo, mas enfim aguentando ainda - a sofrer o contraste dos seus prejuízos certos e confirmados com os pingues lucros garantidos a outros, até aos que à custa do comum chegam ao locupletamento, e suportará tudo por amor do superior interesse nacional e das classes mais desfavorecidas, de que ela mesmo é parte, por confiança do Governo, que reconhece atento ao maior bem da Nação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas pretende, e ninguém dirá que exige demais, o público reconhecimento dos seus sacrifícios, no exacto grau e medida deles, para poderem ser bem avaliados e atendidos em tempo próprio!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A publicação completa dos resultados do inquérito a que venho aludindo, no estado provisório ou definitivo- em que haja ficado, oferecerá, segundo creio, uma tal medida, e por isso a venho pedir,