O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

456 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 133

Mas, porque o Estado não pode comprar todas as criações, até mesmo das eguadas de mais categoria, umas vezes porque o produto não nasce com as melhores condições, outras porque adquiriu defeitos durante a sua vida, seria necessário promover o consumo de muitos outros equinos.
Mesmo com o escoadouro anual e bem importante de 4:000 a 0:000 solípedes no matadouro municipal de Lisboa, ainda será necessário procurar outras formas de consumo e valorização.
Atrevo-me a apresentar umas sugestões: que pelos serviços da Direcção-Geral dos Serviços Pecuários e da Junta Nacional dos Produtos Pecuários e por intermédio dos grémios da lavoura se promovessem exposições locais, em ocasiões festivas e nas feiras, de gado cavalar e muar, montados, emparelhados, gado de criação, etc., com prémios de incitamento.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- A iniciativa teria a vantagem de dar maior movimento às feiras, mais luzimento a essas reuniões periódicas, tanto do agrado da nossa população rural, e, quanto a mim, não se podem esquecer as diversões dessa boa gente, que não tem cinemas nem teatros nem outros divertimentos dos grandes meios, e entendo necessário dar-lhe condições no sentido de impedir o desolador caminhar para as cidades, para a capital.
Era uma iniciativa barata e de êxito assegurado, calculo eu.
Pelos mesmos organismos, fazer uma propaganda bem orientada, inteligente, esclarecedora, sobre a economia do emprego dos solípedes para alguns serviços. Nas câmaras, nos grémios, nas sociedades industriais e comerciais muito gado se poderia aproveitar com economia e evitando o consumo de automóveis, camiões, gasolina e pneus, que tanto sobrecarregam a nossa economia.
Sobre orientação das raças, tipos de cavalos, melhoria de garanhões, criação de cavalos de sport, etc., não tenho competência para me pronunciar; esse papel está, e muito bem, entregue aos técnicos e à comissão nomeada por S. Ex.ª o Subsecretário de Estado.
Li algures que «a criação cabalina é a arte de conservar, aumentar e melhorar a produção equina de um país ou de uma determinada região. A produção baseia-se em princípios fundamentais de zootecnia, em razões de carácter económico-agrícola e em imperativos físico-químicos de clima e de solo, quer dizer, do meio cósmico em que nasce, vive e se desenvolve, participando, portanto, também da categoria de ciência».
Acrescento: ciência para ser dirigida pelos especializados.
De resto, Sr. Presidente, a minha intenção é apenas a de colaborar na campanha da criação do cavalo, e, se eu fosse descer à minudência técnica, em que tantos dogmas e dogmáticos se contradizem, afastava-me dos objectivos que me impus.
Ainda mais uma sugestão: como a criação das mulas é mais remuneradora do que a criação do cavalo e como o seu número no País é índice do valor do seu trabalho (114:000 em 1949) e porque as mulas da criação da nossa lavoura são mais ligeiras, têm menos corpulência que as mulas de outros países, nomeadamente da Espanha, dever-se-ia procurar melhorar a criação deste rústico e precoce produto, tão necessário à lavoura.
Em Portugal, salvo reduzidas excepções, não há criação de burros para padreadores. Têm-se importado alguns bons exemplares da região de Zamora e da região francesa de Poitou. O Estado deveria fazer maiores importações, de modo a poder fornecer garanhões para as necessidades da lavoura.
Parecia-me que uma das nossas bem orientadas instalações cudélicas, Fonte Boa e Alter, poderia adquirir alguns exemplares de boa conformação da raça hispano-bretu, de tiro, de tipo agrícola, oriundos da região de Saragoça, mas espalhados pelo país vizinho, tendo-os eu admirado, esplêndidos e por preços razoáveis, numa feira de Salamanca.
Termino, Sr. Presidente, por dirigir os meus agradecimentos aos grémios da lavoura do distrito de Portalegre, que quiseram fornecer-me os valiosos dados solicitados, e um agradecimento muito sincero ao grande lavrador António Van Zeller Pereira Palha, herdeiro de um dos maiores nomes da lavoura portuguesa, neto de um grande homem de bem, ainda há pouco homenageado, homenagem a que de todo o coração me associo nesta Assembleia, e também o meu agradecimento ao Dr. José Monteiro, dedicado técnico ao serviço da Fonte Boa, e António Pereira Palha e José Monteiro, ambos fazendo parte dessa comissão em boa hora criada e na qual depositamos todas as esperanças de um trabalho proveitoso, bem orientado e urgente.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Amaral Neto: - Sr. Presidente: o Sr. Deputado Dr. Pimenta Prezado abordou ontem aqui o problema das remontas de cavalos para os serviços do Estado, com o seu habitual carinho pelas questões de interesse agrário e o talento que todos lhe reconhecemos, expondo os prejuízos que nos criadores tem causado a diminuição das compras e a esperança nova que lhes trouxe a recente decisão governamental de mandar estudar por uma comissão mista as possibilidades de reanimar essas compras no País.
Também no distrito que tenho a imerecida honra de representar aqui, e que é de longe o maior criador de cavalos, se sente pesadamente o desânimo de um mercado que estagnou de vez com a quebra das remontas è se esperam com ansiedade as medidas capazes de restabelecer, embora em bases reduzidas, contanto que justas, a cooperação que se exerceu por largo tempo, com mútuo agrado e geral proveito.
Por isto me proponho acrescentar à intervenção daquele ilustre colega, mais algumas considerações, que parecem poder completar as suas e a pintura da situação a que chegáramos.
Que o Estado, outrora grande comprador de cavalos para as suas forças montadas do Exército e da Guarda Nacional Republicana e mantenedor de um sistema completo de fomento da sua criação e qualidade, passasse a reduzir muito as suas compras com u reorganização do Exército e a motorização de unidades, todos podemos compreender e aceitar; mas tem sido duro ver gado estrangeiro tomar grandes proporções nessas aquisições reduzidas e sentir contrariadas as exportações possíveis dos nossos próprios excedentes.

Vozes:- Muito bem!

O Orador: - Quem tenha lido o relatório do Governo sobre a execução da Lei n.º 1:914 pode ter encontrado nele estes números, que se opõem de modo impressionante: pelos fundos do rearmamento do Exército, ao abrigo daquela lei, foram despendidos nos anos de 1937 a 1947, inclusivamente, 7:868 contos na aquisição de cavalos estrangeiros e apenas 812 na de cavalos nacionais! E se leu antes, no mesmo capítulo do Ministério do Exército, as amargas considerações sobre a desnacionalização do armamento, não pode deixar de estranhar que, sendo esta tão apuradamente sentida, se tenha, todavia, ido buscar fora até o que o País poderia ter fornecido!