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13 DE MARÇO DE 1952 487

a todo o passo se nos dirigem pedindo socorros pecuniários.
Luta a Ordem com a maior dificuldade para satisfazê-los.

E, referindo-se à Caixa de Previdência, acrescenta:

Dar-se-á assim efectivação a uma grande aspiração da classe; e logo que a veja realizada, ao cabo de uma luta que já se arrasta há anos, o Conselho sentir-se-á compensado dos seus árduos esforços e das horas esgotantes de inquietação e de esperança.

Infelizmente, já pouco pode interessar-me pessoalmente a Caixa de Previdência, agora definitivamente estabelecida; mas, precisamente porque assim sucede, é insuspeita a homenagem que aqui presto a todos aqueles que há muitos anos se vinham esforçando para que esta aspiração se convertesse em realidade. Sem imaginar que refiro todos, indico especialmente os bastonários que, desde 1932, com o Conselheiro Martins Carvalho, até ao Prof. Adelino da Palma Carlos, têm estado à frente da Ordem; e devo especializar ainda o Dr. Arnaldo Monteiro, esforçado paladino desta reivindicação desde a primeira hora.
Finalizando, é-me, pois, grato assinalar a acertada deliberação do Sr. Ministro da Justiça, complementar do seu decreto de 1947 que criara, a Caixa de Previdência e ordenara que a Ordem elaborasse o seu regulamento.
Assim se consumou um acto cuja perspectiva já se encontrava no Estatuto Judiciário de 1933, do Prof. Manuel Rodrigues, e foi reproduzida e ampliada depois no do Prof. Vaz Serra.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Pimenta Prezado: - Sr. Presidente: as pessoas, as famílias, as sociedades, as povoações, as nações estão submetidas a fases de sorte e de desgraça, de progresso e de marasmo, de engrandecimento e de miséria, de alegrias e de tristezas ... sujeitas a curvas de ascensão, e descida, que representam o destino inexorável cuja percepção transcende o cálculo dos homens e a previdência das sociedades.
Todos nos recordamos dos altos e baixos de indivíduos conhecidos; mais longe, aio tempo, famílias que a adversidade perseguiu, seguidas de descendentes bafejados pela sorte.
Povoações progressivas, mercê de condições as mais variadas e inesperadas, descem a povoados sem vida.
Nações da maior grandeza, apenas numa geração, descem a decadência degradante, e, olhando mais além, são os impérios e civilizações ... tudo e todos estão sujeitos a estes altos e baixos, a curvas a marcar étapes.
O homem, no seu destino de lutador, vai tentando modificar o curso da curva, tentando remar contra a maré, pelejando «pelas prosperidades próprias, pelas felicidades da família, progresso das povoações e engrandecimento das pátrias.
Esses os que lutam, porque também os há que caem, "• desanimam, desertam.
Estou com os primeiros.
Na parte alta da bacia hidrográfica do Sorraia, próximo da confluência das ribeiras de Fronteira e de Seda, que formam o Raia, que alguns quilómetros depois se une ao Sor, para formar o Sorrara, um dos mais importantes afluentes do Tejo, alcandorada num penhasco ergue-se a povoação de Avis, nome glorioso ligado ao período áureo da nossa história.
Terra pletórica de recordações, tomada aos Mouros em 1196, depois de encarniçadamente defendida por lhes ficar no caminho das suas expedições militares de Leste para o vastíssimo vale do Tejo, ali se instalou a Ordem, que tomou o nome de Avis, Ordem criada em Coimbra, capital do reino, por D. Afonso Henriques, em seguida ao sucesso da batalha de Ourique (1139), «a pedra angular da monarquia portuguesa», como disse Alexandre Herculano, iniciada, apenas por treze jovens cavaleiros que Viviam em vida comum, juramento, obediência e castidade e defendiam a religião e a Pátria. Grupo de jovens à volta do qual volitam os grandes acontecimentos históricos da Pátria no seu despertar.
Instalada em Avia em 1211, é-lhe concedida vastíssima área, rica e fértil, a que pertenciam Avis, Galveias, Benavila, Seda, Ervedal, Cabeço de Vide, Alter Pedroso, Veiros, Sousel, Cano, Casa Branca, Cabeção, Coruche e Benavente ... Eu repito: a área da Ordem de Avis chegava até Benavente.
Ainda lhe pertenciam as povoações isoladas de Alandroal, Barrancos, Mafra, etc. Avis era a capital do mestrado e todas estas povoações lhe pagavam tributo.
A Ordem foi governada por vários mestres sem grande relevo histórico até ao seu 20.º mestre, o que foi mais tarde D. João I e o último mestre, porque depois passaram a ter o nome de governadores ou administradores e a sua residência não era obrigatória em Avis.
Com a subida de D. João I ao trono, seguido dos grandes da Ordem, inicia-se um período de decadência para Avis, que vivera uma época de prestigioso desenvolvimento, de apogeu histórico; subira assim a curva ascensional a uma extraordinária altura. Depois, como célere fora a subida, vertiginosa é a descida. As obras de um grandioso convento não são terminadas; a sua igreja, de boa traça, fica nua, por acabar; das paredes, dos umbrais, tiram-se mármores, que se encontram aproveitados em muitos edifícios da povoação e até nos montes, e outros foram do longada a paragens bem distantes.
Luís Keil, no inventário artístico relativo ao distrito de Portalegre, diz: «parece impossível que se tivesse deixado chegar a um abandono, a uma desprezível aplicação (cavalariças, celeiros, arrecadações) os restos gloriosos de um monumento que tantas recordações - e das mais notáveis teve para Portugal».
E diz também: «que triste e degenerado fim vai levando o convento de Avis, cuja mole forte e ainda hercúlea, banhada pelos últimos raios de sol, produz uma sensação aflitiva de respeito e de saudade, pensando nesses freires guerreiros, que ajudaram a conquistar e a consolidar o nascente reino de Portugal».
Da igreja são levados paramentos de alto valor, que estão a enriquecer o recheio da sé de Évora; as cadeiras do coro voaram para a Academia de Lisboa.
Avis, qual pelicano simbólico, despojou-se dos seus melhores valores, dos seus naturais mais ilustres, perdeu importância, deixa, de ter decidida influência no caminhar da História.
E esta povoação, que deveria ser visitada por todos os que se interessam pelo passado, situada numa. região riquíssima, com férteis terrenos de cultura, frondosos azinhais, valiosos sobreirais e olivais, várzeas em que se estava a desenvolver a irrigação e muitos gados, e dos melhores do País, atravessa, séculos de decadência, que nem finda com o 28 de Maio, porque uma administração municipal catastrófica despreza, esse período de engrandecimento de melhoramentos espalhados por todo o País.
Surge agora, com os governos de Salazar, a realização dos grandes planos de irrigação.
A região de Avis vai ter uma grande barragem, chamada do Maranhão, para a qual estuo destinados muitos