17 DE ABRIL DE 1952 693
Isto foi escrito em 1949. Felizmente para a província, os anos seguintes foram novamente bafejados por uma subida de cotações, o que permitiu continuar a recuperação, já encetada em 1942, com aquele esforço e aquela fé que caracterizam os seus agricultores, apesar do constante aumento do custo dos factores de produção que se vem verificando de 1949 a esta parte.
A evolução da agricultura de S. Tomé e Príncipe, nomeadamente do seu primeiro produto - o cacau -, desde os tempos de primeiro produto mundial até ao estado de depauperamento em que se encontra, é facilmente compreensível e justificada por duas causas fundamentais, que estão na base do seu empobrecimento.
Em primeiro lugar, uma deficiente interpretação geral da melhor forma de conduzir a cultura levou ao desastre do rubrocinta - 1916-1920 -, que tão graves consequências futuras havia de ter, e depois a crise mundial de 1929-1939, a que se seguiu a guerra, com as exportações praticamente paralisadas até 1945.
A doença e, sobretudo, a crise de 1928 a 1939 «fizeram soçobrar muitas empresas, e a tal ponto que o Banco Nacional Ultramarino teve, como se sabe, de constituir uma companhia (actualmente a maior, em área, de S. Tomé) com todas as roças que, não tendo já possibilidades financeiras de viver, tiveram de se lhe entregar para resgate e pagamento dos seus débitos».
Os números da exportação desde 1910 até hoje reflectem bem este estado de coisas:
Quilogramas
1910 ............................. 33.285:067
1911 a 1915 (média) 1920 ......... 31.000:000
1920 ............................. 19.018:762
1925 ............................. 18.935:069
1930 ............................. 9.645:000
1935 ............................. 10.887:064
1941 (a) ......................... 7.135:569
1942 ............................. 7.902:890
1943 ............................. 7.134:357
1944 ............................. 7.863:051
1945 ............................. 8.118:488
1946 ............................. 6.932:017
1947 ............................. 8.006:586
1948 ............................. 6.967:000
1949 ............................. 8.324:430
1950 ............................. 8.002:845
Vale a pena transcrever o que S. Ex.ª o Governador de S. Tomé e Príncipe, tenente-corbnel Carlos Gorgulho, escreveu no seu relatório de 1945:
Muita gente ainda se recordará certamente de que as ilhas de S. Tomé e Príncipe chegaram a ter a hegemonia do cacau. Mas esta hegemonia foi perdida:
1.º Pelo definhamento e morte de milhões de caneiros; portanto, perda de produção, que de 34 milhões de quilogramas desceu assustadoramente a uma média de 7 milhões, aproximadamente, com tendência para diminuir;
2.º Pela escassez da mão-de-obra de Moçambique e Angola, que paralisou o envio de braços - os mapas anexos (no relatório de S. Ex.ª o Governador) mostram-nos as zonas actualmente abandonadas por falta de mão-de-obra.
Não passe sem reparo 10 esforço, carinho e vontade com que o agricultor de S. Tomé, totalmente desamparado, sem um único auxílio que não fosse de carácter
meramente particular, procurou debelar a doença e fazer face à crise.
Logo que «s efeitos do rubrocinta se começaram a fazer sentir, foram enviados à província, unicamente a expensas dos agricultores, os mais eminentes patologistas e entomologistas da época, quer nacionais, quer estrangeiros, ,e com o seu conselho e com a tenacidade da agricultura se encetou imediatamente -com êxito, deve-se assinalar o combate à terrível praga. Os números da exportação atrás alinhados mostram bem este aspecto. Tendo caído a produção de 1915 a 1920 em cerca de 12:000 toneladas, essa perda é sustada no quinquénio seguinte, mantendo-se a produção ao mesmo nível.
Contudo, e mau grado nosso, o rubrocinta não tinha sido senão uma consequência do que já então se sabia ser a causa fundamental - esta, contudo, de muito mais difícil intervenção e nalguns casos incontrolável: a desarborização e a irregularidade climática e de chuvas que dominaram aquela zona equatorial.
Estes dois factores deixaram definitivamente marca indelével no equilíbrio agro-climático da província. Assiste-se então à queda vertical das produções. Mesmo assim, e .completamente desamparados, o desânimo não se apossou dos homens de S. Tomé. Novos cientistas mundiais se deslocam à ilha, ainda exclusivamente a expensas de alguns agricultores, e encetava-se a recuperação quando deflagra a crise mundial. O que foi este longo período para as plantações está bem vivo na presença de todos para que seja necessário relembrá-lo. Alguns soçobravam -é desta data a constituição da Companhia Ilha de S. Tomé -, mas aqueles que, à custa de todos os sacrifícios, conseguiram ultrapassar a tormenta viram o estado de depauperamento em que se encontravam os seus haveres.
Não houve desânimo. Assim é que, após a guerra, e logo que uma melhoria de cotações o permitiu, abertamente se lançam no aproveitamento e recuperação de todas as suas terras, investindo lucros e novos capitais. A deflação de cotações havida em 1949, e porque o custo dos factores de produção, principalmente do factor mão-de-obra, tinha sido elevado a um ponto incompatível com aquelas cotações, criou uns meses: de expectativa, que, felizmente, foram de pouca dura. O trabalho de recuperação continuou. Bem o atesta a evolução da população agrícola activa de serviçais adultos em S. Tomé e Príncipe.
Tendo descido a um nível de 17:500 em 1947, ele é hoje de cerca de 25:000; bem o atesta a elevada soma de capitais que ultimamente têm sido investidos na renovação de todos os maquinismos transformadores, bem o atesta o rápido esforço que se tem feito na mecanização de todos os transportes, etc.
Actualmente e ainda a braços com problemas de difícil resolução, dos quais grandemente avulta a enorme dificuldade na obtenção da mão-de-obra (em 1951, pedidos feitos, 10:636 serviçais; entrados, 3:716) e a falta de qualquer apoio agronómico (numa colónia exclusivamente agrícola, que tantos réditos tem dado ao País, só há pouco foram criados uns insuficientes e mal dotados serviços agrícolas), a agricultura de S. Tomé trabalha e progride, desde que lhe não sejam coarctados os meios para tal fim. A execução do Decreto n.º 38:704 conduzirá irremediavelmente a uma situação de rápida insolvência.
O Decreto n.º 38:704 e a sobrevalorização do cacau.
O Decreto n.º 38:704 considera que o cacau produzido nas ilhas de S. Tomé e Príncipe está actualmente em sobrevalorização e que por razões apontadas no intróito do mesmo, que não se discutem, o Governo vê