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4 DE DEZEMBRO DE 1952 135

valor económico dos portos e o valor dos benefícios já distribuídos e dos projectados agora no Plano do Fomento.
Aeroportos. - No plano das infra-estruturas continentais, julgadas necessárias para servir a navegação internacional e as carreiras aéreas nacionais contava-se com o estabelecimento dum aeroporto no Algarve.
Chegou a estar inscrita no Orçamento Geral do Estado dos anos de 1946 e 1947 a verba de 3:000 contos para lhe dar princípio de execução. Foi mesmo fixado o quadro do seu pessoal, com as respectivas remunerações, no Orçamento Geral do Estado dos anos de 1948 e 1949.
Pelo que se sabe, só por critério administrativo mal orientado pelas autarquias provinciais e por falta de intervenção superior adequada o processo de construção do aeroporto foi interrompido.
Os que estão convencidos de que a construção de um aeroporto no Algarve representa da nossa política de aeronavegação um valor indispensável têm como certo que não serão pequenas dificuldades fáceis de resolver que devem impedir a sua construção.
Este convencimento nasce da ideia que se tem de que o sul do Tejo não deve estar excluído dos benefícios da aeronavegação.
O Algarve reúne um conjunto de condições que o tornam a sul do País um caso preferencial, com base em razões que ultrapassam os limites das aspirações e interesses puramente regionais.
Em primeiro plano surgem as condições meteorológicas de excepção que fazem do Algarve uma região única do País para instalar um aeródromo de recurso e segurança para a navegação aérea internacional que utiliza intensamente o Aeroporto de Lisboa. Todos temos conhecimento, pelo que periodicamente publicam os jornais, de que circunstâncias climatológicas perturbam por vezes o serviço de chegadas e partidas de aviões no Aeroporto de Lisboa. No território continental apenas dispomos de mais uma infra-estrutura capaz de se pôr ao serviço dos aviões das carreiras internacionais: o Aeroporto das Pedras Rubras.
No parecer da Câmara Corporativa recomenda-se que este Aeroporto não seja omitido na distribuição da verba consignada a aeroportos no Plano de Fomento, com fundamento na sua função alternante do de Lisboa.
Este fundamento parece não ser o apropriado para o que se recomenda.
O Aeroporto das Pedras Rubras é indispensável para servir a numerosa e valiosa população nortenha e a segunda cidade do País, mas como alternante do de Lisboa parece que não, isto pelo que disse o ilustre engenheiro geógrafo o astrónomo do Observatório de Lisboa Dr. José António Madeira, numa comunicação que fez ao II Congresso Algarvio, recente manifestação cultural e intelectual das elites algarvias, sobre as «Características meteorológicas do Algarve no quadro geral da climatologia portuguesa», nas seguintes palavras:

É certo que temos um aeródromo na cidade do Porto (Pedras Rubras), mas as condições do meio ambiente não lhe dão categoria de figurar como alternante, visto se apresentar poucas vezes com melhores possibilidades de utilização que o Aeroporto da Portela. Quando neste último está mau tempo, naquele é quase sempre ainda pior, sucedendo às vezes o próprio Aeroporto ter do funcionar de alternante em relação ao da capital do Norte.

O que se tem constatado nos dias em que o Aeroporto da Portela não permite a aterragem de aviões é que a aviação internacional toma o rumo de aeroportos estranhos, nomeadamente os de Madrid, Casa Branca e Gibraltar. Isto não se faz sem prejuízo dos nossos interesses, sem agravamentos de despesa para as empresas de navegação aérea e sem incómodo para os passageiros.
Estas contingências, que se dão em toda a parte, em grau maior ou menor, poderiam ser reduzidas, entre nós, a proporções insignificantes se houvesse um aeroporto no Algarve.
Esta afirmação faço-a com fundamento na referida comunicação, que cita o resultado do estudo comparativo que fez o seu autor das condições meteorológicas do Lisboa e de Faro, região escolhida para situar o aeroporto do Algarve nos dias em que o tempo impedir a utilização do Aeroporto da Portela.
A título elucidativo, refere-se o que se passou no Aeroporto de Lisboa no dia 2 de Novembro de 1949, transcrevendo a seguinte noticia do Diário da Manhã, que julgo oportuno ler, para documentar as razões que militam a favor do aeroporto de Faro:

O nevoeiro que na manhã de ontem envolveu Lisboa afectou, como sucede sempre em tais circunstâncias, o movimento marítimo e aéreo. Sobretudo no Aeroporto da Portela de Sacavém, tanto as chegadas como as partidas dos diversos aviões da carreira sofreram sensíveis atrasos.
Os da British European Airways, da carreira Lisboa-Londres, e os dos Transportes Aéreos Portugueses, para o Porto e Paris, não puderam sair dentro do horário.
Por outro lado, os aviões da TWA e da Pan American, que eram esperados entre as 7 e as 8 horas, sobrevoaram o Aeroporto entre três a cinco horas, tendo o primeiro, em viagem do Nova Iorque para Roma e Cairo, seguido para Madrid, donde voltou cerca das 14 horas e 30 minutos.
O Clipper sobrevoou a zona do Aeroporto durante quatro horas e vinte minutos, tendo aterrado normalmente com diversos passageiros para Lisboa e África do Sul.
O avião da Panair vindo da América do Sul, depois de sobrevoar o Aeroporto, também durante largo tempo, tomou o rumo de Madrid, onde aterrou. Voltou a Lisboa com passageiros para Paris e Londres.
O avião cubano chegou também com um atraso de cerca de duas horas, trazendo abordo quarenta e um passageiros espanhóis e cubanos para Espanha.
Outro avião, o B. S. A. A., vindo de S. Paulo para Londres, como não pudesse aterrar, seguiu para Gibraltar.

E comenta:

Enquanto isto se passava no céu de Lisboa, a zona de Faro apresentava boas condições meteorológicas; nem sequer existia ali uma simples névoa.

Estas diferenças de condições do meio ambiente foram verificadas em vários outros dias em que o Aeródromo de Lisboa esteve fechado à navegação aérea; e em virtude do estudo comparativo já citado escreveu mais o seguinte:

Nos anos de 1948 e 1949 esteve o nosso Aeroporto encerrado durante duzentas e onze horas e trinta e seis minutos e cento o sessenta e cinco horas e um minuto, referente a trinta e nove e dezanove dias. Enquanto isto se passava na Portela de Sacavém, apenas se registaram dois dias de nevoeiro, e poucos mais de céu totalmente coberto de nuvens, na região de Faro, mas em qualquer dos casos os objectos eram bem visíveis e identificáveis à distância de 2 km.