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24 DE JANEIRO DE 1953 523

de realidades. Tudo o que está feito em caminhos de ferro, pontes, estradas, hospitais, edifícios para os serviços públicos, desenvolvimento industrial e comercial, elevação do nível de cultura, etc., está assente em terra firme. Nada se começou que se não leve ao fim e tudo se tem acabado com orçamentos equilibrados e relativo desafogo.
Vejamos agora a terceira interrogação. Há que distinguir o que diz respeito às populações de cor e às brancas residentes no ultramar.
Quanto às primeiras, parece fora de dúvida que a resposta é afirmativa. Quaisquer que sejam as reminiscências saudosas do tempo em que o branco o não perturbava na sua vida primitiva, mas em que a vida dos negros estava à mercê das contingências das suas contendas tribais, com predomínio dos mais fortes e sacrifício dos mais fracos, o certo é que nos territórios africanos portugueses há hoje uma tranquilidade que contrasta com a agitação que lavra em territórios alheios.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Nas populações nativas, salvo casos individuais comuns a todos os agregados humanos, só se encontra ali gente respeitadora e, em certa medida, amiga. Não há indisciplinas ou revoltas.
Creio que nenhum outro europeu pode gabar-se de encontrar no indígena do continente africano as atitudes de acatamento e respeito que cercam o branco português dentro, e até fora, de qualquer dos nossos territórios.
Nos confins das nossas mais extensas províncias um simples chefe de posto deixa em casa a sua mulher inteiramente só, ou com os filhos, sem que leve consigo a menor preocupação ou receio sobre a sua segurança. Sabe que nenhum indígena a desrespeitará, antes correrá» a auxiliá-la, se de socorro carecer.
É desnecessário, por ser do conhecimento geral, estabelecer paralelo com o que se passa nos vizinhos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se passarmos para o Oriente, julgo poder afirmar que não há na população da nossa Índia nada que, em relação aos Portugueses, se pareça com a aversão do hindu aos Ingleses. Qualquer que seja a ânsia de aspirações insatisfeitas, na Índia Portuguesa todos têm um desejo comum: continuar a viver à sombra da bandeira portuguesa, como portugueses que são.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Em Macau, a parte incidentes sem significado grave na Porta do Cerco, vive tranquila uma numerosa população, na sua maior parte chinesa, que das nossas autoridades e da nossa acolhedora cidade recebe a protecção e apoio que lhe faltam na sua própria terra, em permanente agitação.
É de ver o contraste com a vizinha Hong-Kong, onde a polícia tem de exercer uma contínua acção de vigilância e repressão que em Macau não existe, por desnecessária.
Em Timor basta lembrar que, em contraposição com o que sucedeu nas colónias de outros países no Oriente, a torturada população nativa daquela nossa longínqua província nunca deixou de estar unida a nós, encontrando-se de novo reunida sob a nossa bandeira poucas semanas depois da saída dos Japoneses.
Ao chegarem as primeiras tropas que o Governo mandou a Timor o governador da colónia pôde orgulhosamente transmitir para bordo ao comandante do barco que as conduziu que podia desembarcar sozinho, antes das forças do seu comando, porque as honras em terra lhe seriam prestadas pela escassa guarnição indígena da ilha, disciplinada e fiel.
Destes factos podemos concluir que não há nada a alterar quanto à nossa política para com as populações nativas.
Todo o cuidado será pouco em não tocar nessa política.
Perante os resultados que estão à vista, e que fazem a admiração do Mundo, o que se deve é manter, aperfeiçoando-a, a orientação actual. Não é a política teórica de considerar os indígenas africanos iguais a nós. porque na sua quase totalidade ainda o não são. O que é preciso é continuar a fazer tudo quanto esteja ao nosso alcance para que possam vir a sô-lo um dia.
A grande massa da população do continente africano está ainda numa fase atrasada da sua evolução. A nossa missão é tratar com carinho dos seus corpos e das suas almas.
Será pouco tudo o que venha a acrescentar-se ao que está feito para lhes tornar a vida mais fácil e mais cómoda, para lhes dar mais saúde, para os ensinar a trabalhar, para os libertar de feitiços e crendices e fazer deles homens dignos e crentes no Deus verdadeiro.
Mas nada de alterar o que se tem feito senão para fazer o mesmo cada vez melhor. E, nessa orientação, creio que haverá vantagem em definir cada vez mais claramente a função das autoridades gentílicas como auxiliares remunerados das nossas autoridades administrativas.
Vejamos agora o que se passa com as populações brancas. Estão elas plenamente satisfeitas? Verifica-se que não. Todas elas estão firmes no seu inabalável sentimento patriótico. Sentimo-las bem unidas em volta da bandeira comum, de que, cá e lá, todos nos orgulhamos. Mas há descontentamentos que convém examinar.
Não me refiro aos queixumes habituais de que o Governo Central podia fazer mais e melhor e de que os grandes benefícios são para Lisboa ou para outra província do ultramar. É a mesma costumada e compreensível crítica das províncias metropolitanas. É mero espírito de bairrismo, que, ainda quando injusto, não inspira senão simpatia porque, no fundo, é sómente anseio de progresso. Mas acima desse murmúrio inofensivo há outros motivos de descontentamento, que devem merecer a atenção de quem governa.
Há em primeiro lugar, da parte dos que labutam nessas terras longínquas, a aspiração de terem mais directa comparticipação na administração das províncias onde empregam os seus esforços.
Aqui tocamos um problema da maior delicadeza da nossa administração ultramarina. Se é, por um lado, justificado que as populações que atingiram, em número e qualidade, características que lhes dão nível paralelo ao do meio culto metropolitano se sintam capazes, de colaborar mais directamente com o Governo Central na governação das respectivas províncias, há, por outro lado, que manter firmemente o princípio fundamental da unidade nacional, base intangível da nossa política ultramarina.
Está dito e redito que essa política não é a de levai-as nossas terras do ultramar até uma maioridade que as conduza, à maneira inglesa, por sucessivos graus de autonomia, até uma mais ou menos longínqua posição o seu interesse está de acordo com o sentimento de união com a metrópole, profundamente enraizado na alma de todos os portugueses espalhados pelo Mundo. Só com