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7 DE FEVEREIRO DE 1953 601

Nos mercados tradicionais está feita, pelo seu abundante consumo durante séculos.

Julgo inútil insistir nela, porque a verdade, a triste verdade, é esta: esses países, não compram mais porque não podem, nem os deixam comprar mais.

E sabe-se Já quando poderão voltar a fazê-lo.

Não querer ver isto é cegueira, e pode ser cegueira fatal.

Se há alguém que queira perder-se, demos-lhe essa liberdade, anãs não se poderá consentir que, perdendo-se, arraste consigo os que quiserem salvar-se, e muito menos toda uma região, com grave prejuízo da economia nacional.

A lei das vindimas tem de manter-se.

Ela pode não agradar ao comércio, de exportação, segundo nos informam certos jornais, mas a sua existência é ide essencial importância para a produção, e sem esta aquele mão pode existir.

Limitar o benefício dos vinhos, as possibilidades da colocação, é esquecer que o vinho do Porto é um produto que se valoriza com os anos e carece de ser lotado para se obter o tipo requerido.

Seria, além disso, entregar a lavoura aias mãos do comércio, que lhe ditaria os seus ucasses.

A lavoura tem por função produzir, e a do comércio é vender ou colocar essa produção.

Se alguém tem responsabilidade na maior ou menor, expansão do vinho do Porto, não é certamente a lavoura, que se limita a produzir e desejaria atingir o máximo possível de produção.

A questão é ter quem lha compre.

E, a continuarmos assim, é natural que cada vez se tenha menos.

Temos, por conseguinte, de tentar alcançar a colocação do máximo da produção.

Os mercados actuais mostram-se incapazes de absorver, não só a sua totalidade, como até de consumir uma parte dela, já mais que limitada.

A lógica e o bom senso mandam que se procurem outros.

Mas, procurando-os, só vemos um que nos convenha, de momento e para o futuro: a América do Norte.

Empresa difícil? Talvez.

Empreendimento caro? Sem dúvida nenhuma. Mas estas dificuldades não são insuperáveis. Não devem fazer-nos desistir.

Trata-se de um país vastíssimo, de imensas riquezas, de enorme população, com um teor de vida altíssimo, onde as importações não sofrem peias e com grandes facilidades de pagamentos.

Poderá um dia vir a absorver toda ou, pelo menos, grande parte da nossa produção, por maior que ela seja.

Porque não tentá-lo? O comércio, só por si, nunca o poderá fazer.
Por isso se pede o auxílio do Governo.

Com a abolição da lei seca, em 5 de Dezembro de 1939, o consumo de vinhos licorosos tem aumentado ali extraordinariamente.

Ao contrário do que acontece na Europa, os vinhos licorosos são na América os de maior consumo, por se utilizarem como aperitivo, dado o seu elevado teor alcoólico.

E o vinho de tipo Porto é o mais popular nesse país.

A produção nacional americana não tardará a mostrar-se insuficiente para satisfazer as exigências do consumo.

O aumento deste cresce de ano para ano, num ritmo acelerado.

Suponho, por isso, Sr. Presidente, ser este o momento mais adequado, dada a redução das perspectivas que se antevêm, para se tentar obter ali a colocação de um forte contingente de vinho do Porto.

Não poderemos, e nem mesmo conviria, fazer concorrência aos vinhos nacionais da América, de qualquer tipo, tanto mais que não podemos concorrer em preço com eles.

Mas poderemos colocar ali vinho de alta qualidade, por consequência caro, e para quem o queira e possa pagar condignamente.

E na América há muito quem queira e possa.

Toda a nossa produção seria neste país uma gota de água perdida na vastidão dum oceano.

E o problema do Douro resolver-se-ia.

Bastaria colocar ali umas 30 000 pipas.

Isso, que é muito para nós, mal atingiria 5 por cento do consumo actual na América.

Procure-se, como de justiça, a exportação com a prévia garantia da marca de origem Porto, mas, entretanto, esforcemo-nos por colocar ali o maior volume de vinho do Porto que pudermos.

E desde já o que importa é fazer a propaganda das altas qualidades do nosso vinho; não uma propaganda genérica da marca Porto, mas uma propaganda específica da melhor qualidade do autêntico vinho do Porto.

Mas esta propaganda, para atingir os fins que se propõe, terá de realizar-se segundo os métodos e processos americanos.

E para ser mais eficiente afigura-se-me que não será de recomendar a inundação desse mercado com uma aluvião de tipos, de marcas e de noanes de exportadores habitualmente usados, no nosso comércio da especialidade.

Como afirmou aquele nosso ilustre colega:

Há que estudar o paladar e o gosto dos consumi dores americanos, fixar dois outros tipos no máximo, reduzir ao mínimo o número de marcas, aperfeiçoar as respectivas qualidades, vigiar pelo prestígio do seu bom nome, assegurar a garantia de origem, sem nos preocuparmos com ideias feitas sobre os tipos e qualidades tradicionais.

E nestas suas palavras se condensa todo um programa de acção, que perfilho inteiramente.

Não convém dispersar esforços, mas reuni-los, subordinando o interesse individual ao interesse geral, pondo de parte veleidades, caprichos e amores próprios.

Se assim se proceder, não me parece que o êxito seja duvidoso.

Na América nada se consegue sem reclamo, e ali há autênticos mestres na matéria.
Aproveitemos a sua competência no assunto.

Será necessário gastar nesse trabalho alguns milhares de contos, que não serão talvez muitos em relação à importância nacional do empreendimento.

Só desta maneira se poderá resolver um problema grave, que de outra forma não terá solução visível de momento.

Para o conseguir carece-se da ajuda do Estado. Sem ela nada se poderá fazer.

Foi esse pedido feito pelo Sr. Engenheiro Sebastião Ramires. Esperemos, confiadamente, que ele seja atendido.

Mas, se, por fatalidade, a conquista do mercado americano falhasse, e porque a situação actual não poderá manter-se indefinidamente, seria então a altura de se rever o problema, como S. Ex.ª afirmou.

Estaríamos em face de uma riqueza nacional em riscos de perder-se, de uma região condenada, a morrer de miséria e que a todo o transe convém salvar, a bem da Nação.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.