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668 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 204

Seus corações, ricos de caridade, só caridade aprenderam a viver. Suas almas, cheias de Deus, outra aspiração não sabiam ter que tornar Deus conhecido e amado.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - E se, como já tive ocasião de dizer aqui, algumas vexes houve que desembainhar a espada não são sòmente porá abrir caminho largo à Cruz de Cristo que à frente seguia em anseios de conquista redentora.

Ao lado do soldado marchou sempre, abnegado e decidido, o missionário de Deus, que em todas as vicissitudes sabe viver e fazer viver, profunda e intensamente, o espírito evangelizador que, por admirável determinação do céu, tomou apaixonadamente a alma portuguesa.

Assim é que ao sangue dos nossos soldados, que nessas campanhas de resgate heroicamente se derramou, misturado andou sempre o sangue generoso dos nossos missionários.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - "Grande aventureiro das aventuras de Denso chamou ao grande apóstolo S. Francisco Xavier um notável orador francês, vindo há pouco a Portugal.

Encantadora designação, que perfeitamente se ajusta a quantos, em misteriosa alucinação e em sofreguidão santamente irreprimível, se atiram pelo Mundo fora busca de almas que por longínquas paragens fenecem à míngua de luz e de amor.
Missionários de Deus que, em anseios vivíssimos de salvação, heroicamente afrontam todos os perigos, suportam todas as inclemências, vencem todos os obstáculos para a todas as gentes levarem a luz redutora do Evangelho e de todos os povos tornarem conhecido o nome de Cristo e com ele o próprio nome de Portugal.
Sim, "aventureiros das aventuras de Deus"! Aventuras que suo batalhas gloriosas do espírito, exaltada glorificação de Deus e prestígio magnífico e imperecível da pátria portuguesa!
Seja-me perdoado. Sr. Presidente, este desafogo, que talvez pareça menos integrado na matéria em discussão.
Ë que, Sr. Presidente, como sacerdote e como português, eu penso que. ao debater-se nesta Câmara uma proposta de lei que afecta profundamente a vida das nossas províncias ultramarinas, fica bem e é justamente oportuno acentuar e bendizer do alto desta tribuna todo o esforço civilizador de Portugal e pôr em merecido relevo a larga e profunda projecção que em todas as partes do Mundo teve e tem o nosso apostolado missionário, realizado sempre com tão alta e incomparável isenção.
Na Asia, na África, na América e na Oceânia abundam com largueza impressionante os testemunhos vivos da vocação missionária portuguesa, os frutos abençoados da nossa evangelização heróica. E de tal maneira que a ninguém será lícito contestar que Portugal foi o maior e melhor obreiro da propagação da Fé em terras de além-mar.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - Muito de lamentar e de sentir é por isso ...
Sr. Presidente: o liberalismo estulto da segunda metade do século XIX e o jacobinismo atrabiliàriamente sectário que caracterizou o primeiro quartel do nosso século, em estranha incompreensão do valor do nosso glorioso padroado e em acintosa animosidade para com a Igreja e as missões católicas (quem não recorda com espanto a insensata criação do tristemente célebre corpo
de missionários laicos?...), foram um desastre verdadeiro para o nosso prestígio de nação missionária.
E os efeitos não demoraram em fazer-se sentir, com amarga surpresa para as nossas almas de cristãos .e de portugueses.
Sr. Presidente: se o amor da Pátria é virtude verdadeira vinda do céu, legítima é a nossa pena, justo o nosso queixume ante perdas desastrosas que erros vindos de longe lamentavelmente nos ocasionaram e eu as consequências têm de ser resignadamente suportadas pela nossa geração - esta geração do resgate e renovação nacionais-, sem possibilidade de repará-las e dar-lhes remédio eficaz. Sim, Sr. Presidente: legítima a nossa pena, inteiramente justo o nosso queixume! ...
Sr. Presidente: a hora que passa é temerosa de incertezas e fértil em perturbações de toda a ordem. A vida dos povos decorre entre inquietações .cruciantes e surpresas, as mais dolorosas. Veja-se como ruem, em desagregação espantosa e por vezes tristemente sangrenta, os mais vastos e fortes impérios coloniais.
Dura consequência da última grande guerra, que dizem ter sido vitoriosa?
Não sei, O que sei. Sr. Presidente, é que Portugal mantém intacto o seu império ultramarino, onde a vida continua a decorrer em ambiente inalterável de tranquilidade e confiança inteiras, como já foi aqui acentuado, e muito, bem, por alguns dos nossos distintos colegas.
Laços íntimos de terna devoção prendem fortemente os nossos irmãos de além-mar à querida mãe-pátria, que os acarinhaos defende, os eleva, como preciosa conquista das suas canseiras evangelizadoras e do seu sangue generoso.
Onde o segredo de tão impressionante facto?
Decerto que na fidelidade de Portugal à sua vocação missionária.
Os laços que tão ternamente prendem à mãe-pátria os povos largamente espalhados pelas nossas províncias ultramarinas são positivamente fruto bendito da fé cristã que sacrificadamente soubemos dilatar e ensinámos a viver sincera e profundamente.

Se assim é - se a acção civilizadora de Portugal foi e continua a ser, como já disse, essencialmente missionária; se a garantia da unidade nacional está rigorosamente na unidade da fé; se o cristianismo é verdadeiramente a alma da Pátria, pois que é ela que cria em cada um dos seus filhos, qualquer que seja o clima em que vivam, uma alma comum que anima uniformemente a sua inteligência, a sua sensibilidade, a sua vontade e os faz viver intensamente os mesmos sentimentos, os mesmos anseios, as mesmas aspirações, os mesmos cuidados e as mesmas esperanças; se é à Igreja que se deve a formação da alma portuguesa no acrisolado culto das mais belas virtudes, enriquecendo-a dos mais altos e nobres sentimentos -, a Igreja não poderia, sem que se traísse e mutilasse a nossa gloriosa história ultramarina, estar ausente de órgãos que profundamente interessam à vida das nossas províncias de além-mar. Assim o afirmou também, na sua brilhante intervenção, o ilustre Deputado Sr. (Capitão Teófilo Duarte.
Demais, não está a Igreja representada, aqui na metrópole, nas instituições que mais fundamentalmente respeitam à vida pública nacional?
Com maioria de razão deve ela estar presente, em contínua e dedicada colaboração, nos órgãos de competência legislativa das províncias ultramarinas, cuja vida é, por forma mais frisante, fruto admirável da sua acção redentora.
Devo esclarecer. Sr. Presidente, que, se a estes conselhos fossem atribuídas funções estritamente governativas, talvez eu não me decidisse a advogar a participação da Igreja na sua constituição.