O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

864 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 217

Cá fora as dificuldades criam muitas vezes um sentimento de inferioridade, com receio do fracasso, outras vezes irritabilidade, em presença do insucesso.
No acampamento as dificuldades tornam-se um estímulo da vontade, são fonte de dinâmico optimismo, porque ó necessário, para viver no acampamento, para se não passar fome, nem sede, nem frio, lutar contra a falta de tempo, contra a falta de meios, contra a insuficiência dos locais, é preciso imaginar, conceber, improvisar, realizar.
Todos se voem obrigados a compreender que a sorte de cada um está ligada à actividade do conjunto e todos trabalham, indagam, observam, sugerem, dentro dum espírito de espontânea solidariedade, mais profunda, mais natural do que o passo nervoso da bola de um jogador para outro.
Por isso os rapazes vêm dos acampamentos mais conscientes da necessidade da disciplina, das vantagens dum horário, do valor do tempo, da vida enérgica, desprezando a moleza acima de tudo.
A vida social adquire para eles um cunho vívido, porque as tarefas raras vezes são realizadas por um só. Por outro lado, os que têm imaginação criadora, os que possuem inatas qualidades de comando sobressaem espontaneamente como forças vívidas da comunidade, como seiva da própria actividade do acampamento, sem levantar inveja nem criar vaidade.
Tudo se passa naturalmente, sem atritos, sem a jactância dos triunfadores duma luta desportiva e sem a fúria dos vencidos.
Com estes rapazes preparados na vida acampada, bem dotados física e psiquicamente, poderá então criar-se o ambiente desportivo de compostura e dignidade que todos desejamos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Bem hajam pois os dirigentes da Mocidade Portuguesa pelo que têm feito neste esplêndido e vigoroso trilho.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Quanto à Mocidade Portuguesa Feminina, rendo as minhas homenagens à sua ilustre comissária nacional, a nossa colega Sr.ª Dr.a D. Maria Guardiola.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A Sr.ª Dra. D. Maria Guardiola demonstrou irrefutavelmente a importância dos dirigentes e a necessidade de os preparar, numa obra como a Mocidade Portuguesa.
E fê-lo com uma clareza e dentro de um espírito de unidade educativa que se harmoniza inteiramente com as ideias que venho expondo.
A educação moral e a educação psíquica mereceram-lhe um cuidado particular.
A atestá-lo estão os cursos de aperfeiçoamento de instrutores de moral, os lemas cultivados em anos sucessivos, com enaltecimento da lealdade, do trabalho, da generosidade, da vontade, etc.
Apropria educação física (jogos, desportos, campismo e danças regionais) mereceu-lhe um desvelo que é justo salientar. A preparação doméstica, atributo das raparigas com boa formação, é cultivada com amplitude, compreendendo culinária, economia doméstica, corte e costura, etc.
Eis o que se chama uma educação integral, a que não falta equilíbrio nem profundidade, mas que, infelizmente, não tem aquela amplitude nacional que desejamos.
Mas será possível, de repente, como por varinha mágica, conseguir a educação integral de 544000 filiados?
Em pouco tempo se podem recortar milhares e milhares de figuras em cartão, podem dispor-se em fileiras, pode dar-se-lhes uma variada ordenação agradável à vista, mas não podem dali fazer-se homens.
Parece, portanto, que se deve caminhar em profundidade, tendo em conta a qualidade, e não a quantidade, preparando quadros que permitam uma ulterior acção larga, em grande plano.
Temos alguns dirigentes que honram o nosso regime, temos a certeza de atingir o fim que a Organização tem em vista, mas dentro da segunda solução, segundo creio.
O Sr. Prof. Doutor Pinto Coelho, ao fazer as suas despedidas de comissário nacional da Mocidade Portuguesa, aludiu à carência de recursos em pessoal dirigente e em meios materiais. Preconizou a formação de um escol, em troca de uma problemática formação de massas».
O Sr. Prof. Doutor Gonçalves Rodrigues, no acto da sua posse de comissário nacional, também se inclinou para a mesma solução: a formar lentamente esses quadros e começar a exercer uma acção cautelosa, modesta, mas segura...». Assim, o «carácter nacional» da Mocidade Portuguesa seria interpretado, «não como ponto de partida, mas como ponto de chegada».
Com estas vozes autorizadas ficamos a compreender ser inadequado pensar em fazer de chofre a educação integral de 544 000 portugueses.
Só com o número de alunos de ensino médio -liceus e escolas técnicas- ficava uma importante massa de filiados: 76 000.
As realidades mostrarão se mesmo este número é excessivo.
A observação de acampamentos da Mocidade Portuguesa que tenho visitado e o contacto com alguns graduados revelaram-me almas novas, consciências rectas, espírito de sacrifício, que seria sacrílego não respeitar, não acarinhar e não estimular.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A via propulsora está criada, para que se estenda mais além: plus ultra devia ser a divisa da Mocidade Portuguesa.
Há a considerar ainda os agentes de ensino: os professores de Educação Física. São eles preparados no Instituto Nacional de Educação Física e ficarão com um curso de três anos de estudos e um ano de estágio.
Pode esperar-se que fiquem com boa preparação.
Dizem-me que tem diminuído a frequência no Instituto Nacional de Educação Física, que o número de candidatos é pequeno, por ser muito fraca a remuneração que virão a perceber depois de colocados.
Se assim é, temos de julgar oportuna uma remuneração que estimule os candidatos à matricula.
Chegaram-me às mãos representações dos professores com reclamações que merecem ser ponderadas e atendidas na medida da justiça e das possibilidades.
Em 1922 um professor efectivo de Educação Física tinha um vencimento de 100$, enquanto um professor efectivo do quadro geral recebia 110. A diferença para menos era apenas de 10 por cento.
Em 1926 a diferença para menos subiu a 15 por cento; em 1928 esta diferença acentuou-se, subindo para 40 por cento.
Actualmente (Decreto n.º 38 586, de 29 de Dezembro de 1951) a diferença orça por 33 por cento. Se há melhoria em relação a 1928, não pode negar-se ser ainda muita a diferença em relação a 1922.
Deixo este apontamento à atenção do Governo.
Com efeito, a dignificação da função do professor de Educação Física torna-se um corolário da acção educativa integral que defendo.