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14 DE MARÇO DE 1953 861

activa, honesta e leal, que mereça a confiança dos superiores e o respeito dos inferiores.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Descrever a vida de Nun'Álvares como exemplo do que podem a resistência moral e a resistência física, considerando o incalculável valor destas forças na eficiência de cada um no conjunto social a que pertence, é acção educativa.

Mas despertar na criança o desejo de ser herói, ou, em termos mais modernos, de se tornar um campeão, torná-la-á mais tarde um revoltado, um triste ou um desiludido.

Poderá ser matéria de útil reflexão infantil fazer saber à criança que Nelson, o maior homem do mar da Inglaterra, perdeu um olho no cerco de Calvi, um braço no assalto de Santa Cruz e a vida em Trafalgar, mas nunca perdeu uma batalha, mesmo aquela em que perdeu a vida?

Para nós, adultos, a lição é de optimismo e tem o valor de um tónico.

Para uma criança tem o merecimento de lhe inculcar moderação, relegando a figura de Nelson para o plano longínquo dos grandes homens que a nossa modéstia obriga a respeitar e a admirar sem veleidades.

Procurar imitar a vida simples, honesta, séria, de um Pasteur ou de um Rcentgen é já uma. aproximação de realidades, porque a vida transcendente é excepcional.

Os fins da educação não podem consistir em fazer sementeira de santos e heróis, mas, mais modestamente, fazer homens bons e úteis.

Para se ser ao mesmo tempo bom e útil é necessário possuir-se saúde, vontade, dignidade e lealdade.

Isto prova que a educação moral, a educação psíquica e a educação física não podem separar-se umas das outras, antes devem estar harmonicamente conjugadas com o fim modesto mas bem definido de formar homens.

Na prática, um homem é, por um lado, chefe de família; por outro lado, profissional. Esta última qualidade, ao contrário do que vulgarmente se julga, não depende apenas de instrução, de experiência e da conquista de determinadas capacidades técnicas, porque , também fazem parte da competência profissional, como dizia Faguet, a moralidade e a disciplina.

A deslealdade é, em todos os códigos deontológicos, o vício mais duramente castigado.

Torna-se evidente, por outro lado, que a incapacidade física faz baixar profundamente o nível de vida da Nação, pois as possibilidades dum trabalho profissional, incluindo o intelectual, dependem muito da saúde do corpo.

Estas considerações eram indispensáveis para abordar os problemas suscitados pela proposta do Governo acerca da reorganização das bases da educação física nacional.

Com elas pretendi defender o princípio da unidade de meios e da convergência de métodos práticos educativos no tríplice aspecto moral, psíquico e físico.

Posso agora dizer que lamento se tenha feito uma simples proposta de reorganização da educação física nacional, sem articular esta, nos devidos termos, com a educação moral e psíquica.

Com efeito, à primeira vista trata-se duma simples regulamentação e em especial da instituição da 2.ª subsecção da 1.ª secção da Junta Nacional da Educação, que a Câmara Corporativa propõe se denomine Comissão Técnica da Educação Física Nacional.

Mais ainda, dentro do próprio aspecto físico, tanto a proposta como o parecer fogem dos amplos limites de uma verdadeira reforma das actividades gímnico-desportivas, deixando o seu estudo e a sua orientação

à referida subsecção da Junta Nacional da Educação, cujas atribuições são, ao mesmo tempo, doutrinárias, planejadoras, financeiras e técnicas: estudar a actividade da educação física nacional, pronunciar-se sobre a distribuição do Fundo de Expansão Desportiva, dar parecer sobre as bases da educação física nas escolas, etc.
Talvez o cuidadoso sigilo mantido quanto aos princípios a adoptar na educação física da juventude portuguesa e nas actividades gímnico-desportivas do nosso país se explique pelo desejo de o Governo ver aqui expostas as opiniões e marcadas as aspirações da Nação em assunto de tão grande envergadura social.
Parece, por outro lado, adivinhar-se que a unidade e a simplificação das actividades gímnico-desportivas nacionais são um dos objectivos da proposta, mas não foram consideradas no parecer.
O Governo com a sua proposta faz uma tentativa para acabar com certa dispersão, e para isso dá carta branca à 2.ª subsecção.
No relatório da proposta encara-se a necessidade da reorganização da Direcção-Geral com estas palavras:
Sente-se que a Direcção-Geral da Educação Física, Desportos e Saúde Escolar, que nasceu sob os melhores auspícios para o exercício de uma acção que se desenvolvia já por forma regular noutros sectores da vida portuguesa, não está apetrechada para realizar efectivamente a direcção e a fiscalização da educação física nacional.
A douta Câmara Corporativa corrobora esta opinião:
Parece-nos que, paralelamente à entrada em vigor, como lei, do presente diploma, se tornaria necessário reorganizar a Direcção-Geral da Educação Física, Desportos e Saúde Escolar, para desempenhar cabalmente a importante missão que se lhe quer cometer.
Concordo com essa reorganização, tanto mais que a criação da 2.a subsecção implica dinamismo, actividade e funções novas da parte da Direcção-Geral.
Segundo a proposta, a Direcção-Geral tornar-se-ia o principal órgão executivo da 2.a subsecção, pois a ela competiria seguir e vigiar as actividades gímnico-desportivas, não só das escolas mas também da Mocidade Portuguesa e da F. N. A. T.
A Câmara Corporativa considera tal situação como uma «submissão que não é recomendável». Por isso o parecer sugere que a Direcção-Geral, a Mocidade Portuguesa e a F. N.º A. T. receberiam separada e directamente da 2.ª subsecção, e cada uma delas acataria a seu modo, os princípios e métodos das actividades gímnico-desportivas dos seus filiados ou agremiados.
Salvo o devido respeito, discordo deste critério, porque se manteria a dispersão das actividades gímnico-desportivas, quando um dos mais graves inconvenientes que estão à vista no actual estado de coisas é a multiplicidade de organismos autónomos, orientadores e executivos.
Antes de prosseguir vou sistematizar o que temos em matéria de actividades gímnico-desportivas em três grupos.
No primeiro grupo estão os rapazes em fase evolutiva, que necessitam de ginástica educativa, compreendendo os alunos das escolas e os filiados da Mocidade Portuguesa.
No segundo grupo compreendem-se os agremiados das associações desportivas e os agrupamentos desportivos da F. N. A. T.
O primeiro grupo compreende cerca de 544 000 filiados da Mocidade Portuguesa, em números redondos: 105 000 do sexo feminino e 439 000 do sexo masculino.