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14 DE MARÇO DE 1933 865

O professor de Educação Física não pode ser um simples monitor, um executor automático de determinadas fórmulas gímnico-desportivas, porque o plano educativo em que se move articula-se com a educação moral, a educação psíquica e a própria medicina.
Daqui a necessidade de uma cultura o de uma elevação espiritual que permitam ao professor de Educação Física integrar-se no desejado clima propício, tendente a levar a cabo com optimismo, com perseverança e com fé a educação dos pequenos portugueses.
Tenho visto cair algumas ilusões de jovens professores de Educação Física por falta de ambiente apropriado, porque tudo anda disperso, sem concatenação, como uma cadeia que tivesse alguns elos partidos.
Uma tarefa educativa a sério ó impossível sem um escol dinâmico de boas vontades convergentes, com mocidade interior e energia pulsátil e maleável, capaz de reagir contra as resistências desfavoráveis do nosso meio, mas também capaz de se conformar consoante as circunstâncias; numa palavra, susceptível, ao mesmo tempo, de se dominar e de lutar.
Tenho agora, Sr. Presidente, de me referir às camadas dirigentes dos desportos. Os desportos constituem uma grande fonte de alegria sã, desde que não colidam com os preceitos da higiene moral, psíquica e física. Por consequência, impõe-se uma criteriosa e cuidadosa selecção dos dirigentes, sobre os quais recai, e não só sobre o público, uma grande parte das responsabilidades no nervosismo individual e colectivo de jogadores e público, que se observa e se deve condenar, dado o seu exagero em certas lutas desportivas.
Em vez de factores de equilíbrio e alívio da carga nervosa das preocupações profissionais e sociais da vida habitual, os desportos servem de condensadores, exacerbando a irritabilidade e gorando fadiga psíquica e física.
Por isso as actividades gímnico-desportivas devem ser dirigidas por quem saiba submeter-se aos princípios, capaz duma orientação superior, obedecendo às doutrinas e servindo, não os interesses materiais ou as rivalidades, mas o prestigio dos desportos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Artigos de regulamento e pareceres críticos sobre as provas são necessários; mas, antes de tudo, um nível alto, uma reconhecida idoneidade social e um aprumo que se não desmanche são as qualidades que elevem possuir os dirigentes.
Desde que por vezes há violências e forte agitação dentro o fora dos campos de jogos, em especial do futebol, Hébert preconiza a educação das massas, tendente a fazer valer perante a opinião pública o atleta completo e a relegar para segundo plano o especializado, conjugando esta propaganda com a supressão ou limitação das exibições lucrativas.
Trata-se de meios utópicos ou, quando muito, susceptíveis de agir só ao fim de muito tempo.
A acção educativa tem de se exercer de dentro, ou seja sobre os próprios jogadores.
A solução, aparentemente difícil, torna-se perfeitamente clara e objectiva se a procurarmos na sequência lógica das minhas considerações.
Há uma agitação colectiva, onde quase sempre participam árbitros (agredidos com ou sem razão nenhuma), jogadores (nem sempre com verdadeira mentalidade desportiva) e público (dividido em facções, que em calão desportivo se chamam «falanges de apoio»).

O Sr. Mário de Figueiredo: - Se V. Ex.ª me der licença, farei unia pequena observação.

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Mário de Figueiredo: - Um árbitro nunca é agredido com razão, embora tenha procedido muito mal, como sucede bastantes vezes. Nem sempre actua bem, mas nem por isso é agredido com razão. Ele está no exercício da sua função, desempenha-a como a desempenha e ó indispensável que se respeite a sua autoridade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Mário de Figueiredo: - Muitas vezes sucede que o árbitro exerce mal a sua autoridade, mas isso não significa, nem pode significar, que se justifique uma agressão ou reacção contra quem tem funções de julgamento no próprio tribunal em que está a julgar.
Do que ele fizer se dará comunicação a quem deve decidir, a quem devo orientar superiormente os desportos e só em face do que se expuser se resolverá se o árbitro deve manter-se em funções ou se deve ser afastado delas.
Faço este apontamento porque é este um dos pontos em que particularmente pode tocar o problema de que V. Ex.ª está a tratar: ó o problema dos dirigentes das organizações superintendentes dos desportos.

O Orador: - Estou inteiramente de acordo com V. Ex.ª e felicito-o por fazer as suas considerações.
Eu quero dizer que um árbitro é sempre um juiz, como disse, e muito bem, o Sr. Dr. Mário de Figueiredo. Simplesmente há casos em que a atitude injusta do árbitro explica determinados incidentes que indignam os mais exaltados e que não se dariam se o árbitro não tivesse procedido de uma maneira injusta.

O Sr. Bartolomeu Gromicho: - Isso explica, mas imo justifica.

O Sr. Mário de Figueiredo: - Confirmo as palavras do Sr. Deputado Bartolomeu Gromicho de que tal atitude explica, mas não justifica.

O Orador: - Concordo com V. Ex.ª, mas a verdade é esta: há conflitos que resultam da acção parcial do árbitro ou da de um jogador mais desleal.
O Sr. Carlos Moreira: - E às vezes dos grupos, que não gostam do ver perder.

O Orador:-Se as lições do moral lhes permitirem realçar em campo as suas virtudes físicas, tudo se passará bem nos campos desportivos.
É evidente, portanto, que estou inteiramente de acordo com o Sr. Deputado Mário de Figueiredo, mas reconheço que a existência de árbitros que não compreendem e não estão à altura da sua missão contribui para os conflitos desportivos.

O Sr. Carlos Moreira: - V. Ex.ª concorda que às vezes os árbitros compreendem e os espectadores é que não compreendem.
O Orador:-É por isso que defendo o que se está a fazer na Associação do Futebol de Coimbra. Não compreendo bem como é que o povo pode estar sossegado vendo os jogadores e o árbitro nervosos. Eu não pretendo suprimir o entusiasmo nos campos desportivos. O que é preciso é evitar incidentes.
A origem dos conflitos encontra-se geralmente na acção do árbitro ou de um jogador mais violento ou desleal.