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14 DE MARÇO DE 1953 863

O Orador: - Difundir certas actividades desportivas é uma das mais importantes missões da Direcção-Geral. No caso dos chamados «desportos pobres» esse incitamento deve ir até aos subsídios financeiros, até ao condicionamento técnico adequado ao desenvolvimento de modalidades desportivas cuja notória acção benéfica faz delas uma verdadeira necessidade nacional.
Assim, por exemplo, a natação vive por um fio enquanto não lhe facultarem as possibilidades materiais de se tornar um desporto nacional em larga escala.
Tenho uma já longa experiência dos benefícios da natação e não receio afirmar que, no ponto de vista do desenvolvimento físico, harmónico e equilibrado, nada se lhe pode comparar.
A natação é valiosa nos aspectos higiénico, estético, utilitário, moral e psíquico.
Contribui para limpar e robustecer a pelo, favorece a expansão da caixa torácica e, quando praticada ao ar livre, conjugam-se os efeitos da água fria, do sol e da natação, com extraordinários resultados: aumento do número dos glóbulos vermelhos e da taxa de hemoglobina; fixação do cálcio, do fósforo e do ferro; acção tónica; boa disposição, alegria, diminuição da fatigabilidade e estímulo para o trabalho; correcção de desvios da coluna vertebral e de deformações da caixa torácica; equilíbrio das trocas nutritivas.
A sua importância estética resulta principalmente do desenvolvimento harmónico do sistema muscular, da flexibilização das articulações e da perfeita coordenação de movimentos; por isso os nadadores são atletas perfeitos, equilibrados, sem os exageros particulares e específicos dos outros desportos. Escuso do salientar de utilidade do saber nadar.
Moralmente, e isso foi-me confirmado pelo malogrado e saudoso sacerdote Dr. Melo, de Coimbra, ela facilita o adormecimento dos inimigos de dentro, que despertam na puberdade e tanto contribuem para desequilibrar o sistema nervoso, enfraquecer a energia física e diminuir a actividade intelectual, chegando a conduzir à ruína moral.
Psiquicamente, x são de encarecer as qualidades que desperta ou desenvolve: destreza, sangue-frio, autodomínio, perseverança, etc.
Este é um tipo de desporto pobre que deve ser ajudado pela Direcção-Geral. E um desporto particularmente acarinhado na Grã-Bretanha, onde se procura conseguir que todos os pequenos ingleses nadem tios 11 anos um percurso de 90 m, pelo menos.
Passemos agora aos desportos ricos. Há, presentemente, dois desportos que prendem e atraem sedutoramente as grandes massas populares: o ciclismo e o futebol.
Como desporto, o primeiro é praticado por um número restrito de pessoas e não tem grande projecção no ponto de vista educativo.
O futebol pode apresentar-se como um desporto típico. Duma maneira geral o desporto distingue-se do simples jogo desportivo porque o primeiro obedece a regras rígidas, cujo cumprimento integral está nas mãos dum árbitro ou juiz de campo. Exige, além disso, determinadas aptidões físicas de alta classe. Estas exigências inflexíveis, resultantes de regras que não podem transgredir-se sem castigo e capacidades atléticas excepcionais, fazem do desporto, e em especial do futebol, uma verdadeira luta, um autêntico torneio, como os medievais.
Não acontece o mesmo com os jogos educativos, cujas regras se adaptam à idade e condições individuais de robustez e em que o árbitro é mais pai do que juiz.
O jogo desportivo é uma brincadeira sem consequências más para a saúde física e que pode trazer alguns benefícios morais o psíquicos.
O desporto ó uma forma de actividade séria, ainda que espectaculosa.
No fundo, o meio e o fim do desporto é sempre a força, portanto só uma ínfima minoria de superdotados fisicamente pode praticar, sem perigo, o futebol. Enquanto nos jogos educativos e desportivos a actividade desportiva tem por fim afinar o sentido da vista, ou concentrar a atenção, ou adquirir destreza, ou conquistar agilidade, ou compreender o valor da solidariedade, etc., o que interessa no desporto propriamente dito é lutar para vencer.
Daqui se conclui quanto uma mentalidade desportiva pode ser prejudicial à consciência dos rapazes, pois se habituam a considerar a vida dentro de um conceito de luta contra determinado elemento, em vez de a dirigirem no sentido moral (altruísmo), comedido (autodomínio) e útil (selecção dos jogos através das qualidades próprias de cada um).

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por contraste, não posso deixar de abrir aqui um parêntese para elogiar o que se tem feito na Mocidade Portuguesa, onde os dirigentes se têm preocupado, duma maneira especial, com a vida acampada, cujas vantagens não receiam confronto com qualquer outra modalidade de actividade física.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Com eleito, o hábito da vida em comum, não da vida artificial dos campos de jogos, das piscinas o das próprias paradas, mas da vida verdadeiramente vivida na intimidade consciente dos que nos rodeiam, parece ser o meio especificamente próprio para segregar os rapazes das más contingências daquelas actividades desportivas que embriagam as multidões e despersona lixam os rapazes.
Creio que a vida rústica, na sua simplicidade e na sua naturalidade, é antagónica de tudo o que é mau na Aida desportiva.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ora o meio mais próprio de realizar a vida rústica são os acampamentos.
No acampamento os rapazes passam a tomar interesse por tudo o que os rodeia e até pela própria formação, esquecem o cinema, as histórias policiais, os conflitos desportivos e afastam-se da vida precária e insalubre das cidades.
Na cidade, a assistirem a um desafio de futebol ou a uma passagem de ciclistas, a personalidade dos rapazes dissolve-se, ao passo que a vida rústica modela-os, torna-os observadores e sagazes, familiariza-os com o conhecimento dos lugares, confere-lhes espírito de iniciativa, desenvolve-lhes qualidades dedutivas, torna-os saudáveis, resistentes, cavalheirescos, disciplinados, comedidos.
O rapaz, sem deixar de sô-lo, sem ficar um adulto em miniatura, conservando a alegria e exuberância próprias da sua idade, começa a respeitar-se a si próprio, a sentir que deve ser útil aos que o rodeiam.
Não posso alongar-me nem é este o lugar próprio para descrever todas as vantagens higiénicas e psíquicas da vida acampada.
Apenas acentuarei que ali cada um tem a sua tarefa destinada e por isso se desenvolvem automaticamente o sentimento de responsabilidade, o espírito de iniciativa, a formação de bons hábitos, o escrúpulo na exactidão, a decisão e a independência.