226 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 62
a mais onerosa de todas as doenças sob o ponto de vista do trabalho nacional.
A surpresa que tais afirmações nos possam causar no primeiro momento provêm apenas da sugestão menos espectacular e sentimental da palavra a reumatismo» em face de outras de ressonância mais trágica, tais como, por exemplo, «tuberculose» e «cancro».
A verdade, porém, é que ti maior gravidade económica do reumatismo provém justamente da menor mortalidade da doença. O aspecto paradoxal da afirmação desaparece quando atendermos a que, sob o ponto de vista económico, um doente que se transforma num inválido de longa vida é mais oneroso para a família e para a sociedade do que um doente que morre.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Ora as doenças reumatismais, ainda mesmo quando não inutilizam definitivamente uma pessoa, provocam períodos recidivantes de incapacidade total, alternados com incapacidades parciais, durante os quais o chefe da família, não só deixa de ser o amparo do lar, como ainda se transforma numa fonte de encargos, tanto pelas despesas de sustento como ainda pelas de um tratamento quase sempre mal conduzido, e que, em virtude das próprias dificuldades económicas, resulta insuficiente.
Há ainda a notar um aspecto particularmente nocivo desta doença é que ela inutiliza o homem justamente na altura da vida em que, em geral, ele tem organizado o seu lar e constituída a família. Quando o não faz em criança, inutilizando as actividades futuras por intermédio das sequelas cardíacas!
Na Inglaterra, Lorde Horder, Kelgreen, Davidson e Duthie fizeram estudos e cálculos parcelares sobre diversas regiões e países do Reino Unido e Sir Valter Kinuear, na sua comunicação- intitulada Business Aspect of Rhumathism, calcula em 3 milhões de semanas de trabalho, ou sejam 18 milhões de dias, o tempo perdido só pela população industrial.
O prejuízo trazido à economia nacional foi avaliado em 40 milhões de libras anuais.
Só na Saxónia, Fhermolz calcula em 2 858 000 os dias de trabalho perdidos, e em toda a Alemanha o número de reumatizados revelou-se três vezes maior do que o número dos tuberculosos, e isto mesmo em época anterior a descoberta das novas medicações e intervenções antituberculosas.
Na Holanda, o Prof. Munteudam, Secretário de Estado dos Serviços de Saúde, em comunicação proferida no Parlamento de Haia, no mês de Outubro próximo passado, refere-se ao alto grau de invalidez a que a doença, quando indevidamente tratada, conduz o reumático e põe em relevo a gravidade económica trazida por esta doença à produção nacional, gravidade económica superior à produzida por qualquer outra doença. E para lhe fazer face propõe a votação de uma quantia de 900 000 florins,- que foi aprovada para o orçamento do Estado de 1955, verba que, aliás, considera insuficiente. Apela, por isso para o povo e paru as iniciativas particulares, a fim de ajudarem a evitar, tanto quanto possível, não só o muito sofrimento, mas ainda os muitos prejuízos devidos a esta doença.
Também Munteudam, com a particular autoridade que lhe provém de ser o Secretário de Estado dos Serviços de Saúde do seu país, classifica esta doença, sob o ponto de vista da frequência, e devido ao prolongamento e gravidade da invalidez que provoca, como a doença social n. l, afirmando que mais de um quinto do total dos subsídios pagos pelas companhias de seguros por motivo de faltas ao trabalho era devido às doenças reumáticas. Avalia os prejuízos anuais em mais de 75 milhões de dólares.
Para angariação de mais largos fundos, o Estado autorizou a realização duma lotaria a favor da luta contra o reumatismo, e o Fonds National de Prévention montou numerosos laboratórios para investigações, que começarão a funcionar já no próximo ano.
Na Suíça, Philipe Etter, Presidente da Confederação Helvética, afirma que a morbilidade reumatismal ultrapassa 20 por cento da morbilidade total. Os reumáticos inválidos orçam entre 70 000 e 80 000 e este número é acrescido de mais de 3000 a 4000 por ano.
Tudo isto representa para a Suíça um prejuízo de 430 milhões de francos anuais. A gravidade do caso, posta em foco por estatísticas devidamente organizadas, levou o (Conselho Federal a criar um organismo destinado a ocupar-se deste grave problema. E levou o Presidente Etter a classificar as repercussões económicas da doença sobre a economia nacional com esta expressão bem significativa: «consequências catastróficas».
Na Suécia também os reumatismos constituem o principal dispêndio das companhias de seguros no que respeita a pensões por invalidez. Na Dinamarca absorvem 14 por cento do total das pensões. Na Hungria a taxa era de 10 por cento antes da última guerra.
Na América os serviços de saúde colocam tambem os reumatismos em primeiro lugar na lista das doenças rua ia causadoras de invalidez total definitiva e periódica. Calculasse em 1 milhões o número de reumáticos existentes, dos quais 80 000 parcialmente inutilizados e 147 000 com incapacidade absoluta. O American Committee for the Control of Rhumatism, num inquérito feito, casa por casa, no estado de Massachusetts, verificou que o número de reumatismos crónicos ali existentes excedia a suma dos tuberculosos, cardíacos e cancerosos.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - E em Portugal? Nilo estaremos nós em condições climatéricas particularmente benéficas em relação a esta doença? Desiludamo-nos. O clima está longe de ser o factor essencial das doenças reumatismais, e a importância da doença entre nós tem-se revelado através das actividades metódicas, das observações exaustivas, da documentação completa realizada pelo Instituto Português de Reumatologia.
Até à data conta esta instituição nos seus ficheiros observações correspondentes a 6072 doentes inscritos, quer nos serviços centrais, quer nos serviços externos onde exerce acção directa, e aos quais se fizeram 36 600 consultas e 78 418 tratamentos, que, juntos a 34 730 serviços clínicos diversos (tais como visitas domiciliárias, análises clínicas, electrocardiogramas, radiografias, fotografias, pequenas intervenções clínicas, etc.), totalizam o número de 149 773 serviços em cerca de quatro anos de actividade. Isto apenas nos domínios das intervenções clínicas, sem contar com os trabalhos realizados noutros domínios de estudos e investigações, alguns dos quais têm sido comunicados aos congressos de reumatologia realizados no estrangeiro nos últimos anos.
A existência do Instituto de Reumatologia deve-se ao esclarecido interesse « excepcional poder de realização que caracterizam a vasta actividade do Exmo. Ministro do Interior, Dr. Trigo de Negreiros. Por iniciativa de S. Exa., ao tempo Subsecretário de Estado da Assistência, e com o patrocínio do Instituto de Alta Cultura, foram dois dos clínicos que dirigem os serviços médicos e cirúrgicos do Instituto frequentar os mais notáveis centros de estudos reumatológicos es(...)