O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

15 DE DEZEMBRO DE 1954 221

Leclerc, inspector-geral da assistência pública de Paris, disse, ainda não há muitos anos, que em França os especialistas pensam que as estatísticas actuais não podem comparar-se com as antigas sem expurgar delas os casos ortopédicos, que nada tinham que ver com a tuberculose osteoarticular, e que a tuberculose osteoarticular não diminuiu; aliás, a regressão destas formas estaria em contradição com a manutenção ou mesmo o agravamento do número de casos de tuberculose doutras localizações, como, por exemplo, a pulmonar e a genito- urinária.
Não temos estatística portuguesa sobre u número de casos de tuberculose extrapulmonar que poderiam beneficiar da cura climática heliomarítima. Mas ninguém me convence de que o critério da «bicha» dos inscritos possa servir para que o Governo decida sobre se é ou não necessário aumentar o número de camas para tratamento destas formas de tuberculose !

Vozes : - Muito bem !

O Orador: - Bastará sabermos o número de inscritos no Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos que aguardam sanatorização por tuberculose, pulmonar para podermos saber o número dos tuberculosos pulmonares a tratar nos sanatórios e o número de camas que nos faltam?! . . .
Sabe-se que, neste país, cora mais de 8 milhões de habitantes, com uma endemia tuberculosa intensa, o Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos não dispõe senão de cerca de 700 camas para assistir a essas formas de tuberculose. Sabe-se que a cura destes casos é necessariamente lenta, com dois a quatro anos de imobilização completa e ininterrupta, segundo as localizações e a idade; que as novas drogas (pelo menos até à di-hidroestreptomicina e ainda é cedo para julgar a isoniacida) pouco ou nada influenciaram a duração da hospitalização e que, segundo parece, a cirurgia nada tem que fazer, na maior parte das vezes, senão no termo da cura climática. Segundo a opinião de consagrados autores, estão contra-indicadas os intervenções cirúrgicas nas crianças e nos adolescentes durante a fase activa da doença.
Roviralta ainda recentemente dizia que o abstencionismo cirúrgico devia ser a regra na idade infantil nestas formas de tuberculose.
Em livro recente, conta Catel, director de um sanatório alemão de tuberculose infantil, que o seu assistente Saarne demonstrou que de nove doentes com tuberculose óssea sujeitos u exercícios ginásticos, de simples movimentos sem sobrecarga e sem abandonar a cama, dirigidos por uma professora de ginástica médica e só iniciados depois duma acentuada remissão dos sinais clínicos e de largo tempo volvido sobre a normalização da velocidade de sedimentação, cinco deles exibiram recidivas das suas doenças. Isto demonstra claramente a necessidade de uma prolongada imobilização e duma longa hospitalização.
A legião dos nossos aleijados - marrecos e ancilosados - que se exibe por todo o Portugal dá-nos bem a medida da extensão destas formas de tuberculose
e da maneira como se lhes assiste em Portugal.
Suponho que isso vale bem mais para aquilatar das nossas necessidades neste capítulo do que a maior ou menor extensão da bicha do Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos para admissão em sanatórios marítimos.
De resto, sabe-se que, com 700 camas, com a necessidade duma hospitalização tão longa, com tão tardias e tão limitadas possibilidades operatórias, não é possível dar muitas altas na roda do ano. Suponho mesmo que em alguns anos não se deu uma vaga sequer e, por isso, não houve admissões. Aqui deve estar a ra-
zão principal do pequeno número de requerimentos, nanja, infelizmente, na falta de doentes a hospitalizar.
Outra: a tendência de enviar aos hospitais gerais muitos desses doentes. A falta de estatística própria, atentemos nesta que nos oferece o departamento do Sena: na sua população de 5 milhões de habitantes, em três anos; foram registados pêlos serviços sociais como portadores de tuberculose óssea 6900 doentes. Em 1949, à data da publicação da estatística, Leclerc disse que só 3800 estavam a ser seguidos naquela data e que 2200 desses eram portadores de formas extrapulmonares, assim distribuídos: 1300 osteoarticulares, 250 ge-nitourinários, 200 peritoniais e 6500 ganglionares.
Quer dizer: numa população de pouco mais de metade do nosso país e com menor incidência de tuberculose do que nós, 1300 osteoarticulares! A quanto subirá a nossa estatística? Que movimentos podemos dar a esses doentes com as 700 camas e com as condições terapêuticas que têm de ser respeitadas? Deixamo-los desamparados, aumentando a legião dos estropiados? Não os sauatorizainos durante o tempo necessário, fazendo-lhes correr sérios riscos?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Está o Governo convencido de que 700 camas bastam para assistir devidamente a estes formas de doença?
De Francelos à Parede, toda a costa portuguesa está desprovida de qualquer instituição sanatorial que possa recolher esses doentes.
Num hospital de beira-mar moderno, não só as formas de tuberculose osteoarticulares. devem encontrar benefício. Outras poderão beneficiar de cura heliomarítima e mesmo muitos doentes não tuberculosos. Sabe-o, aliás, toda a gente.
No Centro cio País dispomos de condições óptimas para a instalação dum sanatório marítimo, que virá atenuar a nossa penúria. Há terreno e há projecto e até um parecer favorável.
Se é certo que a tuberculose pulmonar prima sobre as demais formas, isso não siguifica que, num plano de luta antituberculosa, se não cuide- de atender também aos portadores de formas extrapulmonares.
Em nome de tantos infelizes doentes aqui formulo este pedido: que se não impeça por mais tempo a solução estudada para este aspecto da luta antituberculosa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O problema da tuberculose infantil, reveste também trágicos aspectos neste país. Repito aqui as palavras proferidas no ano passado, por ocasião da discussão da Lei de Meios:

O Centro do País, que, à margem da antiga Assistência Nacional aos Tuberculosos, cuidou seriamente da sua defesa contra a tuberculose e da assistência aos tuberculosos, através dos seus dispensários e dos seus sanatórios, tem necessidade urgente de completar o seu apetrechamento com a construção de um pavilhão para tuberculose pulmonar infantil junto do Sanatório de Celas . . .

E disse mais que estava pronto o projecto, já aprovado, e agora junto, que chegou mesmo a ter anunciada a comparticipação para as respectivas obras.
Neste país, onde os contagiosos aguardam meses para serem admitidos no sanatório e sem vigilância capaz do dispensário da respectiva área, onde os contagiantes internados podem pedir alta a seu bel-prazer e onde