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506 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 78

O facto do há muitos anos não haver crises vinícolas levou porventura o Governo a acreditar que elas tinham desaparecido por completo. E a Junta Nacional do Vinho não encontrou logo desde o inicio todo aquele auxilio que lhe era absolutamente indispensável para fazer uma intervenção decidida, o que já causou, precisamente nos mais débeis economicamente, prejuízos irreparáveis.

O Sr. Camilo Mendonça: - Mas em 1943-1944 e 1944-1945 interveio-se em grande escala.

O Orador:-Já noutro dia disse aqui que tinha havido uma modificação enorme neste problema, a qual provém de o Douro ter deixado de se abastecer de aguardentes no Sul.

O Sr. Camilo Mendonça: -Tem V. Ex.ª razão, porque, desde que o Douro não pode (ou não devo ...) receber as aguardentes do Sul, caberia ter procurado um escoamento que substituísse o volante de desgaste que durante anos o Douro representou e deste modo evitar a acumulação de grandes atocha de vinho. A descida de preço do vinho até ao nível a que chegou foi devida em parte ao facto de se não ter procurado e encontrado novo volante de desgaste, como era necessário e indispensável.

O Sr. Furtado de Mendonça: - Mas se a aguardente fosse fabricada com os vinhos do Sul, o que havia de fazer-se ao excedente do vinho do Douro que não foi transformado em aguardente?

O Orador:-Não é esse o assunto que está em cansa. Estava a dizer a razão por que o problema se apresentou repentinamente com um aspecto de gravidade e dificuldade, que se explica pela transformação radical das bases em que assentava a sua solução.

O Sr. Furtado de Mendonça: - Perfeitamente.

O Orador:-A Junta Nacional do Vinho viu a sua capacidade de armazenagem reduzida a um sétimo, por, em vez de aguardente, ter de guardar vinho.

O Sr. Camilo Mendonça: - Honra seja feita à Junta Nacional do Vinho por ter tido a coragem de seguir o caminho da descentralização, indo ao encontro do melhor principio da nossa organização corporativa, quando concebeu e estruturou o plano das adegas cooperativas. Devo até dizer que foi até ao ponto de lhes ceder cerca de metade da sua capacidade de armazenagem.
Passados, porém, dois anos sobre a aprovação do plano, verifica-se que não se pôde ainda materializar por falta de meios indispensáveis, decorrendo daí não se dispor da capacidade de armazenagem necessária.

O Orador: - Se a Junta Nacional do Vinho nada mais tivesse feito, bastava-lhe a honra de ter gizado e radicado entre a vitivinicultura o principio das adegas cooperativas para tornar bem meritória a sua acção.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Honra lhe seja feita por essa iniciativa e pela forma como a realizou. Era o único sistema possível neste país, de individualismo feroz, e especialmente na classe a que se aplicava. O princípio já hoje encontra compreensão e até a ambição legítima de o ver expandir.

O Sr. Camilo Mendonça: - ... num país onde a centralização constitui pecado, a que poucos dirigentes conseguem furtar-se ...

O Orador: - Quando aqui, em boa hora, veio a lei do fomento sobre que tanto discutimos, tendo visto no seu relatório considerada a necessidade da criação de adegas cooperativas, e não se considerando no seu texto qualquer quantia para o seu estabelecimento, tudo diligenciei para que as coisas se modificassem no sentido de se concederem os meios necessários para a sua criação, o que não consegui. Foi-me afirmado que essas despesas sairiam das despesas ordinárias, mas até hoje nem mais uma adega cooperativa foi criada, porque nem um centavo apareceu para esse efeito.
Sr. Presidente : eu tenho pena que se tivesse perdido esta oportunidade, porque as adegas cooperativas estão na base essencial e indispensável da solução deste gravíssimo problema.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. André Navarro: - Direi mesmo que essa é a única solução.

O Orador: - Através das adegas, a Junta Nacional do Vinho teria a capacidade para a armazenagem de que precisa, evitando despesas que muitas vezes são improdutivas, e ao mesmo tempo criaria uma grande massa de vinho equilibrado de tipo constante, que facilitaria o comércio respectivo e a exportação.
A obra das adegas merece, pois, ser continuada.

Vozes : - Muito bem, muito bem !

O Orador: - Sr. Presidente: tem-se falado aqui com calor e com entusiasmo...

O Sr. Amaral Neto: - E até com fantasia!

O Orador: - ... na questão da exportarão de vinhos para a África, e manifestou-se o desejo de um envio cada vez maior dos nossos produtos vinícolas para as províncias ultramarinas.

O Sr. Amaral Neto : - V. Ex.ª dá-me licença?
V. Ex.ª pode dizer-me se, dadas as condições climáticas das regiões africanas, crê realmente serem muito vastas as perspectivas da nossa exportação de vinhos, e sobretudo de vinhos generosos?

O Orador: - Vinhos generosos, não sei. Mas permita V. Ex.ª que a propósito conte uma pequena história.
Quando, há mais de vinte anos, fui convidado para assistir, como representante da Associação da Agricultura, a inauguração do caminho de ferro de Benguela, essa admirável linha de penetração da província de Angola, com 1300 km de comprimento e que vai entroncar na linha do Congo Belga, tive a intenção de sondar na província de Angola e ia de Moçambique as razões por que os nossos vinhos encontravam embaraços e peias na entrada naquelas províncias através da pauta aduaneira.
Devo dizer que em Angola encontrei um espírito de compreensão absoluta. Os direitos nesse tempo eram pouco mais ou menos os de hoje, e não dificultavam assim a entrada dos nossos vinhos.
Porém, em Moçambique encontrei um espirito absolutamente oposto, e devo dizer que não me foi sequer possível falar publicamente no assunto.
Entretanto, a crise no País apertava, e o então Ministro da Agricultura, Dr. Joaquim Nunes Mexia, pessoa a cuja inteligência, boa vontade e serviços o País muito deve, como Ministro e como lavrador, e que merece a nossa saudosa lembrança, e muito principalmente a minha, que com ele servi, como director da Associação da Agri-