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4 DE FEVEREIRO DE l955 507

cultura, na ocasião em que S. Ex.ª era presidente, enviou ao governador da província de Moçambique um pedido da baixa dos direitos sobre o vinho. A resposta que obteve foi a de que não era possível baixar esses direitos. A única coisa que consegui em Lourenço Marques foi que me dessem um boletim das actas do Conselho do Governo, no qual vários oradores expuseram a opinião de que não era possível nem útil baixar os direitos, porque a província tinha atingido o limite mais alto da importação e porque com isso se faria diminuir a receita.

O Sr. Carlos Moreira: - V. Ex.ª pode dizer-me quando é que isso se passou?

O Orador:-O ano não me recordo, mas era Ministro do Ultramar o Sr. Doutor Oliveira Salazar.
Quando cheguei a Lisboa tinha tomado o compromisso de fazer uma conferência na Associação da Agricultura. Fiz essa conferência, com a presidência do Sr. Doutor Oliveira Salazar, que ao tempo, como disse, era Ministro do Ultramar, e pude então demonstrar, com o boletim das actas do Conselho do Governo numa das mãos e com o relatório da alfândega na outra, que no ano seguinte àquele em que se dizia ter-se atingido o máximo possível da importação esta passara simplesmente para o dobro.
Tão transparente era a inanidade das razões do Conselho do Governo que o Sr. Doutor Oliveira Salazar mandou reduzir os direitos sobre o vinho. Suponho que depois disso tudo voltou à primeira forma. E não só isso, Sr. Presidente. Recebi a seguinte comunicação de um dos negociantes de vinho da Beira, que me foi fornecida pelo Grémio de Exportação de Vinhos:

Conforme nosso telegrama, que acabámos de expedir e do qual enviamos uma cópia, sentimos informar que, devido às restrições intensíssimas nesta província de Manica e Sofala impostas sobre as vendas de vinhos de qualquer espécie a indígenas, tem-se verificado nas últimas semanas uma baixa fantástica nas vendas de vinhos em barris. Achamos oportuno lembrar a VV. Ex.as, uma vez mais, tentarem junto do Grémio dos Exportadores de Vinhos démarches tendentes a modificar a política que está a ser seguida na província de Manica e Sofala pelas entidades oficiais quanto à venda de vinhos a indígenas.

Quer dizer: não só se não facilitou como se dificultou.
Dificulta-se a venda do vinho, mas consente-se a fabricação de cocacola e outros produtos sem qualquer interesse para a economia nacional.

O Sr. Manuel Vaz: - Mus que interessam aos respectivos industriais.

0 Orador:-As nossas províncias do ultramar, que decididamente custaram e custam ainda tanto sacrifício à metrópole, podem e suponho que devem ajudar-nos a vencer as nossas crises quando isso, como neste caso, está nas suas possibilidades.
Daqui peço a S. Ex.ª o Ministro do Ultramar que tome em consideração estes factos e que providencie no sentido de que nas nossas províncias de Manica e Sofala desapareçam as dificuldades que reduziram ao mínimo a existência de estabelecimentos para venda de vinho a retalho.

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - Essas restrições dão-se em quase toda a região de Manica e Sofala. Na Beira não se concedem alvarás para venda de vinho a retalho ou é difícil obtê-los.

O Orador:-Diz-se até que hoje quem tenha um desses alvarás e queira transaccioná-lo consegue uma fortuna.
Peço desculpa se estou a desiludir VV. Ex.as, porque estou a dizer o mais rapidamente possível o que tinha para dizer, visto ter hora marcada para uma conferência com o Sr. Ministro do Ultramar, a que não posso faltar.
Sr. Presidente: há pessoas tão sensíveis que um simples gesto ou olhar as melindram, e parece-me que há regiões que também têm a mesma sensibilidade. Efectivamente parece que a palavra «privilégio» foi tomada como ofensiva para o Douro, a tal ponto que, supondo estar porventura já tão esquecido da nossa língua que não soubesse efectivamente o valor das palavras, tinha feito tenção de ir buscar a um dicionário autorizado a definição da palavra «privilégio»; pedi, porém, ao grande latinista que é o nosso ilustre colega Sr. Dr. Lopes da Fonseca que me esclarecesse sobre a etimologia da palavra e, consequentemente, o seu significado: «lei para poucos», me disse, e efectivamente ninguém dirá que a restrição da barra do Douro e a demarcação da região não seja um privilégio na definição exacta da palavra.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não acredito que haja algum português que não estime o Douro como região produtora de vinho, e muito menos pode haver um viticultor que, ao menos por inteligência, a não estime igualmente. Todos os viticultores, e principalmente os do Sul, o que mais desejam é que o Douro viva com tanta prosperidade como ele próprio deseja, porque isso convirá tanto a eles como a todo o País.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Porque assim é e porque tenho o maior interesse na expansão do vinho do Porto, recordando o que já há dias disse - que haveria alguma coisa porventura a modificar no comércio dos vinhos do Douro-, permito-me ler parte de um artigo publicado no jornal americano News Week de 25 de Janeiro do corrente ano. Diz-se aí:

O ano de 1954 foi aquele em que os Estados Unidos importaram mais de 6 milhões de galões de vinho (27 240 0001, ou 54480 pipas) e em que, além de outras coisas, deslocaram a Grã-Bretanha do lugar de primeiro consumidor do champanhe francês.
O martini tornou-se mais seco, muito mais seco, a ponto de um barman dizer: («Agora toma-se um golo e exala-se uma nuvem de poeira ...».
Com a cerveja também a leveza e a secura se tornou a regra e com os vinhos, mais Americanos do que nunca começaram a sorver vinhos mais secos e a pousar o copo com ar de satisfação.

Hoje em dia as compras de vinho nos Estados Unidos atingiram um nível inédito.
Além do volume record de vinhos importados, mais 134 milhões de galões de vinho foram fabricados e vendidos nos Estados Unidos e calcula-se em mais de 25 milhões de vinho de fabrico caseiro, isento de imposto. Cerca de l galão por habitante (160 milhões).
Mais importante do que o volume propriamente dito é a elevação do nível de gosto e a procura de bons vinhos, quer importados, quer indígenas.
Os vinhos hoje mais conhecidos na América podem classificar-se em cinco categorias:
a) Aperitivos (sherry vermute);
b) Vinhos tintos (bordéus, borgonha, chianti, rosé);