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686 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 85

mulher para missão tão alta e de tamanha gravidade?
Onde as esmolas de formação para o matrimónio?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sai a mulher das mãos de Deus enriquecida idos melhores dons, adornada das mais belas aptidões, que iniludivelmente determinam a sua especial vocação. Mas onde o trabalho de educação que valorize esses dons e os faça render em frutos de benção e de resgate?
Em resposta pressinto já a observação de que, afinal, esse cuidado pertence especialmente à Igreja, cuja missão é essencialmente ensinar, educar, formar, conduzir, valorizar as vocações de Deus.
Assim é, de facto; e posso assegurar que a Igreja em Portugal olha o problema com séria preocupação e solicitude. Simplesmente, a criação e manutenção de escolas de formação para o matrimónio importa pesados encargos materiais, que a Igreja, tristemente despojada de todos os seus haveres, não pode, por si só, suportar.
Também o Estado tem que dizer aqui a sua palavra, que tomar a sua posição, que assumir as suas responsabilidades. E ninguém hesitará em classificar de urgente esta iniciativa, tanto mais quanto mais dolorosamente se acentua e agrava, na mulher de nossos dias, a diminuição do espírito feminino, a ausência de um conceito exacto da vida conjugal e, consequentemente, a repugnância pelos encargos e responsabilidades familiares.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quem não sente a esforçada campanha do masculinização da mulher, que desastrosamente se vai desenvolvendo em sintomas de muito preocupar?
É a deformação da natureza feminina, a inversão do seu próprio ser, a esterilização dos extraordinários dons com que a Providência largamente a enriqueceu!
E não é isto uma desventura e unia ameaça para o futuro da sociedade?
Não podemos, por isso, deixar de lamentar e sentir que a mulher nos apareça, em febril competição com o homem, à procura de ocupações que muito destoam da sua própria índole de mulher. E, quando já tem constituído ò seu lar, mais de sentir e lamentar é o facto, cujas graves e ruinosas consequências ninguém poderá medir em toda a sua extensão e profundeza.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ausente a mulher do lar, quem cuidará dos filhos que Deus lhe der?
A quem se deixam confiados os encargos do arranjo doméstico, por vezes, tão delicado e complexo?
Abandona-se aos riscos do acaso o governo familiar? Estancam-se as fontes da vida que Deus pôs nas mãos dos esposos?
Graves e tremendas interrogações estas que ansiosamente temos de fazer a nós próprios e a quantos têm a consciência exacta das suas responsabilidades sociais.
Não é, Sr. Presidente, que eu pretenda encerrar impiedosa mente a mulher no seu ninho de amor, como em rigorosa- clausuro. Não. O que eu pretendo, o que todos pretendemos, é que a mulher seja sempre mulher e só mulher, fazendo render em frutos de bênção a admirável riqueza, de aptidões com que Deus a distinguiu, e vivendo intensa e apaixonadamente a sua missão, soberanamente prestimosa sob todos os aspectos que possa revestir.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pôs Deus no coração da mulher anseios vivos de maternidade. E se nem todas são chamadas a constituir família, porque diversos e sempre admiráveis são os desígnios divinos, todas são no entanto destinadas a dedicar-se, com estranhas verdadeiramente de mãe, a tantas cruzadas lindas de bem-fazer, onde ninguém pode competir com a mulher em rasgos de delicadeza, de generosidade, de firmeza, de coragem e abnegação, por vezes impressionantemente heróicas.
Impedida então a mulher de exercer quaisquer funções alheias à sua missão familiar ou ao apostolado cristão de bem fazer?
Lastimável insensatez seria pretendê-lo. Funções há, públicas e particulares, cujo exercício se coaduna perfeitamente com a índole da mulher e que não trazem qualquer risco de perda ou enfraquecimento das suas melhores virtudes e encantos, como sejam: a educação e ensino, a enfermagem, o serviço social e outras que supérfluo é enumerar.
Mas são apenas deste género as funções que hoje em dia a mulher procura e consegue?
São de todos conhecidas as razões que se alegam para justificar este assalto -que o é verdadeiramente- a quaisquer funções, mesmo às mais manifestamente destoastes da natureza feminina.
Todas essas razões assentam, afinal, no problema económico-familiar, que, não sendo o problema máximo da vida humana, anda, no entanto, gravemente entrelaçado com outros problemas fundamentais da mesma vida.
É a conhecida insuficiência dos vencimentos e salários, perante o desordenado custo da vida, a manter-se duríssima e dolorosa realidade, amarfanhando corpos e almas em ritmo cada vez mais cruciante.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O chefe da família não consegue recursos bastantes para ocorrer a todos os encargos domésticos?
A esposa julga-se por isso naturalmente obrigada a ajudar, fora de casa, a aquisição dos meios indispensáveis à conveniente manutenção do lar. E temos de reconhecer que é lógica, embora lamentável e cheia de perigos, a estranha consequência.
No entanto, Sr. Presidente, seria interessante verificar-se, avaliadas as especiais despesas que à mulher necessariamente impõe a frequência da repartição ou do escritório e avaliados também os prejuízos que a sua ausência do lar forçosamente acarreta, se apurará saldo verdadeiramente compensador do sacrifício e dos perigos a que a família é sujeita.
Seja como for, a situação, tem de ser considerada com séria e interessada atenção.
Para inúmeras famílias a vida, com as exigências que presentemente tomou e com o desnivelamento das condições que despoticamente se impõem, tornou-se, mais do que aflitiva, verdadeiramente incomportável. E não está também aqui uma das razões por que tantos fogem do matrimónio, como disse o Sr. Dr. Almeida Garrett?
Entre os encargos que a Constituição atribui ao Estado e autarquias locais em ordem à defesa da família encontra-se o seguinte:

Regular os impostos de harmonia com os encargos legítimos da família e promover a adopção do salário familiar.

Eu não sei, Sr. Presidente, se na distribuição e lançamento de impostos se teve alguma vez em conta os encargos familiares, como a Constituição determina.