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418 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 121

arrancadas à terra pelo esforçado investigador e outras oferecidas por particulares ou adquiridas por compra, o Museu, no seu aspecto actual, multiplicou substancialmente o seu precioso recheio mercê da infatigável acção do actual director, Dr. Manuel Heleno, a quem neste momento presto merecida homenagem. Discípulo dilecto do grande mestre, seguiu-lhe as pisadas e as deambulações investigadoras por esse País tora. E tudo, outrora e hoje, tem sido realizado com dedicação e proficiência e sempre em luta com a falta de meios materiais para maior eficiência, dos resultados.
Instalado nas maravilhosas galerias do Mosteiro dos Jerónimos, ocupa actualmente cerca de 8000 m2. Encanta os olhos não só o ambiente de grande beleza arquitectónica como a harmonia e a riqueza das espécies em exposição e sequência de valor didáctico. Dizem os entendidos, nacionais e estrangeiros, que é o mais
rico da península e pela localização deve ser o mais belo de todos.
Será lamentável se se insistir na sua mudança para outro local, que parece ser o da cidade universitária. É certo que é um museu universitário, adstrito à Faculdade de Letras. Mas a sua projecção cultural ultrapassa a própria. Universidade, porque é largamente de interesse nacional e internacional.
Pela sua natureza, é um livro aberto da história de gerações de milénios, que se prolongam na nossa nacionalidade. Pela sua alta importância, está muito bem e muito a propósito na vasta. Fraca do Império.
A mudança implicaria a danificação ou mesmo a destruição de extensos e belos mosaicos romanos, que na ocasião foram colocados a título definitivo.
Demais, parece ser possível instalar em espaços vastos e sobejantes o Museu da Marinha, que ali ficaria muito adequadamente dentro do monumento comemorativo dos nossos feitos através dos mares.
A localização do Museu Etnológico não (prejudica a sua utilização pelo público, porquanto parece ser certo que ultrapassa todos os museus de Lisboa em visitantes gratuitos e de entradas pagas.
Todo aquele labor, toda aquela ordenação resultam de um quadro de pessoal mais que exíguo: um director, que é um professor da Faculdade de Letras, um ajudante de naturalista, um escriturário e um preparador. O pessoal menor consta, além dos porteiros e guarda da noite, de um contínuo e um servente.
É caso para perguntar: qual é o pessoal que dirige e executa os trabalhos de campo indispensáveis à recolha ou à simples descoberta e conservação das preciosidades em exploração por esse País fora ? O mesmo, com o milagre, da devoção.
Há, por isso, riquezas arqueológicas que se sabe onde existem e não podem ser exploradas por falta de recursos materiais.
Há outras em exploração, que se perdem por impossibilidade da sua vigilância. Daí o ter, por vezes, de se optar por não encetar explorações e deixar à terra o segredo milenário de civilizações passadas.
Para encerrar este capítulo, jubiloso e triste, quero lembrar o que se está praticando em Espanha neste sector da investigação arqueológica: o Museu Etnológico de Madrid, mais pobre de que o nosso em materiais arrecadados, possui uma brigada de quarenta funcionários técnicos em febril actividade. É que, pensa-se lá e devia pensar-se cá, o que se perde em riquezas abandonadas ou não exploradas ultrapassa o dispêndio a fazer para a sua aquisição, conservação e valorização. No nosso Museu Etnológico nem sequer existe instalação de luz, não há um simples microscópio, um gabinete de fotografia, que é indispensável, e nem vestígio de um adequado laboratório.
Mas, adiante.
No domínio particular também a riqueza e variedade é grande neste sector: o da Sociedade de Geografia, os de arte sacra, o do Caramulo e os privativos de fundações.
Quanto a estes, peço licença para pôr em destaque a obra maravilhosa do Museu da Fundação da Casa de Bragança, instalado e em progressivo aumento no Palácio Ducal de Vila Viçosa. Talvez seja surpresa revelar que no findo ano de 1955 esse belo Museu teve 22 000 visitantes, nacionais e estrangeiros, o que demonstra a sua alta categoria e desfaz o mito de que só em Lisboa se devem reunir as mais valiosas peças artísticas e literárias da Nação.
Desta tribuna envio felicitações ao ilustre presidente da Fundação, que sem desfalecimentos tem lutado por dotar a histórica e risonha Vila Viçosa com tão importante e eficiente instrumento de cultura e de propaganda turística alentejana.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - Paralelamente a toda esta série de variados museus existe uma vastidão de monumentos e de palácios nacionais adstritos a vários Ministérios. Os monumentos, esses ficam a cargo do Ministério das Obras Públicas na fase de restauro das respectivas estruturas, porquanto o restauro de pinturas, talhas e mobiliário existentes nesses monumentos fica a cargo do Ministério da Educação Nacional.
Por esta diversidade de serviços e dispersão por vários Ministérios do que respeita ao património artístico do Estado se verifica que algo não está certo.
Existe, é verdade, a Junta Nacional da Educação, com as suas secções e subsecções, uma das quais, a 6.ª secção, reúne personalidades de vários serviços dos sectores artístico e construtivo. Essa secção tem procurado coordenar e orientar o muito que está incorporado no património artístico nacional.
Tem sido, porém, evidente que a 6.ª secção da Junta tem escapado, por insuficiência da lei, muito do que se passa em alguns departamentos impenetráveis do Estado, como por exemplo, transferência de retábulos de mármore de igrejas de vilas históricas, arranque de azulejos valiosos e adulteração do interiores de edifícios de valor arquitectónico, etc.
Os palácios estão nos domínios do Ministério das Finanças. Sabe-se que alguns desses palácio são autênticos museus, e até o de Queluz está franqueado ao público como tal.
Já outro tanto não acontece com o Palácio da Ajuda, para visitar o qual é preciso requerer com antecedência, quer em visita individual, quer colectiva. Desconheço as razões exactas do sistema, mas o que sei é que assim se privam muitos nacionais e estrangeiros de admirar um dos mais ricos e belos palácios da Europa.
Este facto reforça a afirmação de que algo existe que necessita de estudo e de solução para a valorização do nosso rico património artístico e utilização e generalização dos vastos conhecimentos e deleite que ele proporciona, não só a estudiosos, mas a iodos que procuram aumentar a sua cultura.
Já vai longe a teoria de que os museus eram vastas arrecadações de materiais antigos ou modernos, de valor artístico ou arqueológico. Os museus, a que se juntaram também os de alcance científico ou profissional e, outros, só cumprirão integralmente a sua missão quando perderem de todo o seu carácter lúgubre de necrotérios de belas coisas, para alcançarem o seu verdadeiro papel de escolas vivas e penetrantes.
Felizmente que a gelidez apavorante dos velhos museus, a abarrotar de peças aglutinadas em jeito de