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14 DE MARÇO DE 1956 501

Por esse tratado fundaram a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço sobre um acordo comum, objectivos comuns e instituições comuns e estabeleceram dentro da organização uma alta entidade assistida de um conselho consultivo, uma assembleia comum, um conselho especial de ministros e um tribunal de justiça.
Ora foram precisamente os Ministros dos Negócios Estrangeiros das seis nações que fazem parte daquela comunidade, reunidos em Bruxelas a convite do Ministro belga, que deram força ao projecto da Euratom, discutindo entre si as possibilidades de um acordo para a utilização da energia nuclear.
Quer dizer, mais um organismo de carácter supranacional pelas limitações que viria a impor ao exercício da soberania de cada um dos associados como nação independente.
A ideia não ganhou o aplauso unânime dos observadores e comentadores da política internacional e algumas das criticas incidem sobre o lucro que tiraria a União Soviética pela neutralização da Europa, o predomínio dos anglo-saxões na produção de armas atómicas e as novas e maiores facilidades dadas à espionagem russa pela permeabilidade dos serviços localizados na França.
Portugal arredou a dificuldade com indiscutível clarividência:

Somos acérrimos defensores da ideia da cooperação europeia. Ao mesmo tempo não poderemos perder de vista o facto de que cada um dos nossos países é o resultado de uma evolução particular, que as nossas características nacionais foram moldadas através de gerações sucessivas.

Defendendo a cooperação no campo nuclear dentro da O. E. C. E. o Prof. Marcelo Caetano acrescentou:

Portugal, à parte as considerações de ordem geográfica, não pode atirar-se para dentro de uma comunidade onde se arriscaria a perder mais do que a ganhar.

E para explicar a afirmação o nosso ilustre representante referiu-se ao facto de não sermos um pais altamente industrializado, o que nos traria grandes desvantagens.

Sr. Presidente: estou a citar estas declarações e a sentir-me satisfeito como português. O mais que se vê por esse mundo é a fraqueza, a dúvida, o jogo nebuloso das hesitações. E nós, dentro das nossas fronteiras e fora delas, somos o que somos, claros na razão, coerentes na atitude.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Dando conta dos dois movimentos que estão a verificar-se na sociedade internacional, o nacionalista e o internacionalista, o Sr. Presidente do Conselho no seu último discurso, a propósito de certas manifestações supranacionais, teve esta observação de superior e penetrante crítica:

...dir-se-ia que alguns países estão fatigados da sua existência como nações independentes.

E esclareceu:

A posição prudente que temos tomado é a de defender e apoiar intensamente uma cooperação cada vez mais intima e uma solidariedade cada vez mais firme, sem prejuízo das autonomias nacionais que são ainda, tanto quanto pode ver-se no horizonte político, a forma mais simples de progresso e de defesa dos interesses das populações que agremiam.
As lições de Salazar não formam só o nosso melhor compêndio de política interna, constituem um livro mestre do política internacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Também não se pode compreender a fana do congresso de Moscovo sem nos lembrarmos de que a poucas milhas da Europa, nesse Norte de África pilhado e ensanguentado, estão deflagrando os mesmos processos já usados em outras partes para exacerbar tendências nacionalistas, converter ideias em paixões e paixões em ódios.
Era bom que não continuássemos a ver os mesmos homens que tanto se descalçam para avançar com pés de lã como esmagam debaixo das botas sangue de inocentes na sua bárbara caminhada para a conquista do Mundo.
Era bom que não conhecêssemos os desígnios a que obedecem, a crueldade dos meios que empregam, a maldade dos fins que pretendem.
Era bom que não pressentíssemos na sombra que prometem a escuridão propicia ao facho que escondem.
Já lá vai o tempo em que uma rua cheia de conservadores se esvaziava depressa quando um comunista aparecia ao cabo da rua.
Acabaram os conservadores, agora somos todos lutadores, para que se conserve e fique a nossa dignidade de homens, o nosso sentimento de patriotas, a nossa condição de gente civilizada.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E se fosse verdadeira a reviravolta? Quem tinha razão? Eles ou nós? Eles quando diziam que estava bem ou nós quando afirmávamos que estava mal?
Seria na história a primeira grande e total viragem política de um partido que governa continuando o partido no poder com os mesmos figurantes e sem um queixume, não digo de todos, mas, pelo menos, de alguns ou de um só dos componentes da massa partidária.
Estranho o assaz nunca verificado cometimento político, filho da mais consumada arte de mentir ou da mais estrondosa falência de um sistema.
E nem sequer um lamento à roda do túmulo de Estaline, desprezado e esquecido que nem folha arrancada por um vendaval que passou...
Entrevistado para a United Press pouco antes de deixar Paris, o Prof. Marcelo Caetano respondeu:

Na verdade nunca poderá haver uma democratização do regime comunista. Há que pôr bem em destaque a base antidemocrática do pensamento soviético. Logo que os comunistas admitissem a livre cooperação com os outros cessariam, ipso jacto, de ser comunistas para se tornarem sociais-democratas. Se viessem algum dia a atingir esta fase isso significaria a desintegração do partido.

E a outra pergunta do jornalista sobre as repercussões do congresso na política da Aliança Atlântica:

Tenho verificado com grande satisfação que a Rússia Soviética já hoje não consegue pôr em prática as suas tácticas de infiltração como há alguns anos atrás. Desde então o Ocidente já aprendeu imenso e hoje os estadistas responsáveis das nações ocidentais mostram-se muito mais realistas perante o poderio soviético.

Sr. Presidente: sempre nos orgulhámos dos melhores trechos da nossa história e agora estamos compondo