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21 DE MARCO DE 1956 601

As modernas tendências económicas - que tiveram o seu início na resolução tomada pelo velho Ford em 1914 de passar para o dobro o salário dos seus operários, para lhes aumentar o poder de compra, e de que é, nu momento actual, o mais expressivo campeão o Sr. Walter Reuther, um dos chefes de sindicalismo americano - baseiam-se na necessidade de criar, através da elevação do nível de vida. capacidade de consumo.
Compreendo que esta orientação é mais fácil quando existe uma indústria próspera, mas não posso já admitir que possamos encontrar solução para os nossos problemas económicos, sobretudo agrícolas, se não só deixarmos permanecer em estado de economia, precária uma larga percentagem da nossa população, que à agricultura dedica os seus esforços, mas até mesmo lhe faltarmos com os auxílios e estímulos indispensáveis para se baratearem as produções, e sobretudo deixarmos de socorrê-la nos seus momentos de crise.
Sabe-se que o Governo Americano se esforça por evitar crises no domínio agrícola, comprando maciçamente os géneros sobrantes. Li algures que os produtos assim reunidos subiam a estas quantidades impressionantes: 140 milhões de quilogramas de manteiga 100 milhões de quilogramas de trigo, 54 milhões de quilogramas dt1 milho e ainda arroz, carne, etc. As despesas de conservação destes géneros sugeriram até uma ideia verdadeiramente americana: a vantagem de os transportar parti o Antárctico, onde a conservação seria perfeita e ... de graça !
E para nos circunscrevermos ao nosso problema agrícola mais cruciante - o do vinho - temos o exemplo flagrante da França, cujos saldos andam este ano por cerca de 20 milhões de hectolitros, ou seja duas vexes a nossa produção anual.
Apesar disso e de ter agregado a este problema verdadeiramente monumental o do álcool -5 milhões de hectolitros de excedentes-, que não é menos importante, não se abandonam, se menosprezam ou se enfrentam com menos decisão.
Quando se cria um determinado clima económico, importa sustentá-lo com decisão, porque essa decisão, pela confiança, que inspira, facilita enormemente a solução do problema, que, ao contrário, se complica, só agrava, por forma a dificultar extraordinariamente as soluções, quando, perdida a confiança, cada qual se lança na conquista do uma posição que não sabe se pode ser perdida ou tomada.
As precárias circunstâncias económicas da nossa classe agrícola derivam também de que a nossa população é demasiada para a pobreza do nosso solo.

O Sr. Daniel Barbosa: -V. Ex.a dá-me licença? V. Ex.a acha que a nossa população é demasiada para o nosso país, quando abrangemos uma área que toca quase metade da Europa, à excepção da Rússia Europeia?

O Orador: - Mas isso é contando com o ultramar e eu estou a referir-me apenas ao continente.

O Sr. Camilo Mendonça: - V. Ex.a, Sr. Deputado Melo Machado, adia que a população é excessiva, mas eu vou mais longe do que o Sr. Deputado Daniel Barbosa e ponho a questão de saber se a nossa população continental é excessiva para um desenvolvimento económico conveniente. O que há, de momento é má distribuição e desenvolvimento desigual das diferentes actividades.

O Sr. Botelho Moniz: - Eu sei de fábricas que estão paradas por falta de pessoal, e não se diga que é de especializado de que elas carecem, mas de sem especialização. E digo mais, é no Barreiro.

O Orador: - Se VV. Ex.as tiverem a paciência de me ouvir um pouco mais verão que não estamos em desacordo. Este excesso de população conduz ao excessivo parcelamento da propriedade, como se observa, sobretudo, no Norte do País, ao aproveitamento de terrenos paupérrimos, que só deviam ser utilizados para a arborização ou produção de matos e que são trazidos à cultura pela necessidade em que se encontra a população rural de arranjar alguma alimentação, numa ilusão da utilidade da aplicação dos seus braços, do seu esforço.
Essa ânsia de encontrarem uma ilusão de aplicação económica lança a população agrícola no arroteamento de ca becos de grande declive, que, prudentemente, durante séculos se mantiveram revestidos de arvoredo ou mato e que depois de cultivados vêm engrossar a erosão, destruindo ao mesmo tempo a fertilidade das várzeas, por um assoreamento intensivo.
Ainda entre nós se não falava em erosão e já eu assinalava aqui este gravíssimo inconveniente. Não consta, todavia, que até agora se tenham tomado quaisquer medidas no sentido de se imporem determinadas condições para o cultivo dos terrenos de exagerado ou inconveniente declive.
Nos últimos anos tem procurado o Governo ensaiar nas nossas províncias ultramarinas uma política de colonização, o que merece o nosso melhor aplauso. Não sabemos, porém, se no regime de áreas estabelecido ou a estabelecer se tem usado a melhor medida.
Importa, onde os horizontes são tão vastos, não conservar ou aproximar da medida estreita do continente os empreendimentos agrícolas, antes proporcionar dimensões de empresa capazes de, efectivamente, não só justificarem o sacrifício ou a aventura da deslocação, como proporcionarem a obtenção de um regime de vida, nitidamente superior ao que deixam aqui.

Vozes : - Muito bem, muito bem!

O Orador : - Pretender transplantar para lá os mesmos métodos de trabalho, a mesma estreiteza relativa de vistas, os níveis de vida aproximados será desiludir o- que, porque têm na alma o velho espírito aventureiro dos Portugueses, sabem sonhar e criar ilusões, que precisam de espaço e de ambiente para tomarem corpo em realidades que atraiam e seduza

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Tenho por certo que ali só poderá vingar a grande cultura, a cultura mecanizada, para a qual é preciso instituir uma organização comercial ou cooperativa, onde as possibilidades e proporções individuais não cheguem.
E tudo isto tem de vingar necessariamente, porque qualquer insucesso inicial seria de consequências graves. Assim se poderá descongestionar u população do continente, desobrigando-a, de utilizações agrícolas anti-económicas, ao mesmo tempo que, valorizando tis nossas vastas províncias ultramarinas, iremos criando novas possibilidades de melhores níveis de consumo.
Como vêem, embora parecendo que estávamos em desacordo, no fundo o fim que pretendemos atingir é precisamente o mesmo.
É indispensável criar riqueza, muita riqueza, para que, criando um nível alto de consumo, todos vivam melhor, pelo emprego de melhores métodos de cultura,