756 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 138
nham feito sustar. Algumas citei-as então e será por isso oportuno recordá-las hoje.
Assim, estando há vários anos previstos, em estudos bem elaborados pela Câmara Municipal, a abertura dos túneis rodoviários entre o Corpo Santo e os Restauradores, e entre Eugénio dos Santos-Martim Moniz e Terreiro do Trigo, a realização dos mesmos continua letra morta, a despeito dos estudos que se fizeram, do reconhecido interesse que oferecem para o descongestionamento do trânsito e do elevado valor que representariam para a defesa civil da cidade de Lisboa.
Parece-nos que fácil seria obter o rendimento do capital empatado, desde que se permitisse a abertura de lojas de comércio e se adjudicasse a realização ao capital privado, com garantias de exploração do espaço subterrâneo.
Tem sido assim que na Noruega e na Suécia se têm instalado modernamente o comércio e a indústria, com vantagem sobre a construção à superfície. E refiro-me a essa vantagem na sua multiplicidade de aspectos, quer no que respeita à localização, quer à higiene e à economia, quer, finalmente, à segurança.
A instalação subterrânea tem sido objecto do mais seguro êxito, não só nos países nórdicos como ainda em todas as grandes capitais modernas.
A circulação subterrânea de Paris tem sofrido nos últimos anos o mais vigoroso impulso, como sendo a solução mais apropriada para o tráfego intenso de uma grande cidade.
Também, do mesmo modo, queremos salientar que, a despeito dos estudos já feitos e bem elaborados sobre as passagens para peões nos cantos do Rossio e, sobretudo, na garganta do Teatro Nacional, o problema da execução continua letra morta, a aguardar-se que as obras do metropolitano cheguem vagarosamente à fase de trabalho ali prevista, o que levará ainda alguns anos, como se o problema, por ser momentoso, não exigisse desde já uma execução em 1.ª fase, em vigoroso impulso do interesse público.
O abreviar desta obra parece-nos de urgente realização num país como o nosso, onde o peão é tão indisciplinado, mas simultaneamente tão esquecido e tão abandonado. Com efeito, as exigências da disciplina sempre me pareceram fáceis de acatar ou de impor quando se verifica que elas são acompanhadas pelo zeloso interesse de quem as determina.
Afirmei que chegará um ponto tal em que não haverá oficial, engenheiro ou autoridade de trânsito, por mais prático e inteligente que seja, que consiga o descongestionamento.
Repito-o, neste momento, cônscio das dificuldades que já hoje tem qualquer motorista para às horas de ponta poder conduzir dos Restauradores a Santa Apolónia uma pessoa que para ali se dirija com urgência para tomar o comboio. Se não for prático e desembaraçado, fugindo das artérias, conseguirá levar bons doze a quinze minutos, o que será suficiente para que o comboio se vá e o passageiro fique.
Estes problemas enuncio-os com base na própria experiência de quem os praticou para os afirmar.
Em qualquer grande cidade europeia as arteriais servem para o escoamento mais rápido, como por exemplo a Oxford Street, em Londres, a Avenue de la Grande Armée ou os Champs Elysées, em Paris, a Via Nazionale, em Roma, sendo o trânsito das secundárias sempre mais moroso e difícil.
Não sucede assim entre nós, onde se deixam estacionar carros, em plena nora de trânsito intenso, nas nossas vias arteriais, como a Rua do Ouro, Rua Augusta, Rua Nova do Carmo e Chiado.
Citámos, então, que o estacionamento em Londres era permanentemente proibitivo nas arteriais e permanentemente livre nas secundárias. Mas esta cidade de Lisboa, que em problemas urbanísticos está alcançando lugar apreciável, que na parte arquitectónica e habitacional está conquistando posição de relevo na Europa, parece teimar, lamentavelmente, em se manter arredia a solucionar os seus problemas de circulação e trânsito.
Já a este assunto se têm referido em sessões municipais alguns distintos vereadores da nossa Câmara Municipal, mas, apesar de cá e lá haver pessoas que encaram estes problemas como sendo de importância primária para a categorização duma grande cidade como Lisboa, o facto é que eles se emperram através de vias que se não conhecem e se não vê a sua realização com aquele ânimo decidido com que o Sr. Presidente da Câmara tem enfrentado sempre os vários e complexos problemas do seu município.
Lisboa é já hoje uma cidade turística mundial, onde afluem milhares de estrangeiros anualmente, e por isso importa considerar estes problemas, não só por atenção àqueles que nela vivem permanentemente, como ainda pela impressão dos outros, que, aqui vindo pela primeira vez, fixam na retina a imagem da cidade ou do País pelo que aqui encontram ou pelo que aqui vêem.
Será difícil, senão impossível, encontrar em cidades de grande trânsito peão como o nosso. A velocidade de escoamento de automóveis em Londres, Paris ou Roma pode afligir o condutor menos prático pela torrente de veículos que cruzam assombrosamente as suas avenidas ou bulevares, considerados como arteriais. Entre nós o que aflige o condutor é, porém, não a torrente de escoamento dos veículos, mas sim o cruzar constante da via pelos inúmeros peões que a atravessam em todos os pontos e nas mais variadas direcções.
Sem dúvida que é admirável que se não dêem inúmeros e constantes desastres, mãe isso deve-se, em boa verdade, apenas à perícia e sangue-frio dos condutores, que já se habituaram a encarar a hipótese de o automóvel não ser para andar, mas sim para deixar passar os peões na sua frente onde lhes apeteça.
Julgo que há que defender os direitos dos peões, facilitando-lhes a sua vida e actividades, mas julgo que é de não menor importância, para boa solução do problema, fazer-lhes compreender as suas obrigações e impor-lhes o respeito por regras de disciplina que, no seu próprio interesse, devem ser respeitadas.
Pode-se afirmar que ao irrequieto temperamento dos Portugueses e ao seu horror nato a tudo que seja disciplina e organização, que não sejam animosamente aceites e compreendidas, se devem aquelas estranhas correntes nos cantos do Rossio.
Aquelas vedações para impedirem a passagem de peões fazem-nos corar de pejo, quando nos lembramos de que só assim se consegue resolver entre nós um problema que a disciplina voluntária deveria dispensar.
O trânsito de peões nas arteriais da Baixa está francamente mau, irreprimivelmente indisciplinado, e apenas nas passagens do Rossio se encontra já a funcionar em condições regulares.
Dizia eu já da outra vez que «neste aspecto o nosso atraso só pode ser vencido, não pela repressão, mas sim pelo estudo de uma circulação apropriada, aliado a um trabalho de catequese e convencimento, numa campanha de conquista da boa vontade do público», que afirmava saber não ser impossível de obter.
Pois é a este trabalho que agora, em parte, se vem dedicar o Automóvel Clube, o que é digno dos mais rasgados louvores e apreço.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - A colaboração das câmaras municipais, da Polícia, da Guarda Republicana, das forças arma-