758 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 138
um direito que legitimamente utilizo, quando chamo a esclarecida atenção governativa para alguns problemas respeitantes ao Porto ou quando a oportunidade se me oferece para exteriorizar sentimento de reconhecido agradecimento pela atenção e interesse que o Governo vem dedicando a problemas daquela cidade.
Não me encontro neste lugar para levantar dificuldades ou criar estorvos, pois seria atraiçoar os princípios básicos da formação política, moral e espiritual que sempre orientaram e fazem parte da minha vida. Estou aqui para sincera e lealmente colaborar, dentro da humildade dos meus recursos, na obra de progresso e engrandecimento da Nação, razão do prestígio que gozamos no Mundo, mercê da sábia orientação dada à governação pública por esse grande homem de Estado que é Salazar.
Assiste-me o direito de pedir, mas ao meu espírito impõe-se a obrigação de ser justamente reconhecido para com aqueles que bem merecem esse sentimento de louvor. E este pensamento não é exclusivamente meu. Perfilha-o integralmente o Porto, que vive horas de intenso regozijo por ver a caminho da realidade problemas de tanta magnitude e de tanta importância no futuro das suas actividades.
Um quantitativo extraordinariamente vultoso vai ser gasto na solução do velho problema das suas a ilhas»; na edificação de muitas dezenas de escolas primárias, célula-base da educação da gente de amanhã, e nas escolas técnicas que ainda não possuem edifícios próprios; na construção da monumental ponte da Arrábida, notável e grandiosa obra da engenharia portuguesa, cuja existência virá a exercer larga e proveitosa acção na vida económica e social do Norte do País; na construção das auto-estradas complementares, ligando-o a sul com a auto-estrada iniciada nos Carvalhos e a norte com a via rápida e mais tarde com a via norte; no engrandecimento e melhor e mais proveitoso apetrechamento do porto de Leixões, com a construção de novas docas e tudo quanto seja necessário às possibilidades do aumento do tráfego que as circunstâncias lhe irão proporcionar; no acabamento do seu magnífico hospital escolar, obra de assistência e ensino de tão vasta projecção; no acabamento do seu Palácio da Justiça, edifício de notável valorização citadina e de prestígio para o exercício da alta função da magistratura, e de tantos e tantos empreendimentos materiais, comparticipados, em estudo, a comparticipar e a realizar dentro em breve.
Não me permite o tempo de que disponho falar largamente da obra realizada em todos os sectores, não só material, mas também moral, intelectual e espiritual, a bem da sua população.
Caminhamos firmemente, com efectividade real, para os grandes empreendimentos e não me cansarei de afirmar o quanto eles representam económica e socialmente para o futuro do Porto.
À verdade dos factos não pode opor-se a mentira convencional da incompreensão e do negativismo de muitos.
Não me falta, Sr. Presidente, autoridade para assim me exprimir, visto que dentro da Câmara tenho sabido com elevação e com dignidade dizer o que penso, solicitando atenção para determinados problemas e louvando com todo o merecimento o Governo, que tão bem os sabe compreender e os sabe resolver.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - E, feitas estas considerações, voltemos aos motivos justificativos desta intervenção.
Sr. Presidente: o nosso Tejo, orgulhoso e altivo na história do seu passado, particularmente integrado na
história gloriosa de Portugal; objecto ou instrumento inicial no despertar e no caldear de tanta energia, potencial de vontade alicerçado na fé; este Tejo arrogante nos seus desvarios, berço de crença nos longínquos destinos da Nação, e humilde na tarefa de bem servi-los; rio sobre o qual se debruça a grande capital do Império, farol da civilização ocidental, orgulho de uma pátria, foi ontem, mais uma vez - e tantas o tem sido desde o alvor da nacionalidade-, palco magnífico na expressiva demonstração de uma esplêndida e magnífica obra, só possível e realizável pelo alto espírito criador de quem superiormente dirige e comanda a grande nau do Estado.
Á cerimónia, já consagrada, da bênção aos lugres componentes da nossa frota bacalhoeira, em constante progresso e renovação, alinhados no Tejo, frente u Torre de Belém, dominados pelo Mosteiro dos Jerónimos, padrões eternos do valor, da audácia, da coragem e do heroísmo dos nossos navegadores, soldados e missionários, é, no seu alto simbolismo, no seu eloquente significado, hora bendita, abençoada por Deus, na omnipotência da sua grandeza e na sublimidade da sua majestade e dó seu amor.
E ao ver partir os nossos pescadores para tão rude faina - dignos descendentes dos que outrora, através de mares desconhecidos, descobriram novas terras com novas gentes - acorre ao meu espírito um misto de satisfação e orgulho pela obra realizada agora, no curto espaço de duas dezenas de anos, de valorização de uma classe até ali tristemente esquecida na miséria do seu viver. Essa obra é, em todos os seus objectivos, nos seus diversos aspectos -económico, social e moral -, tão vasta, tão completa, tão produtiva e tão bela que hão possuo expressões que com justiça possam caracterizá-la e louvá-la.
As actividades pesqueiras, actividades do mar, são fontes inesgotáveis de riqueza a proteger e a explorar.
Assim o compreendeu o Estado Novo, com a criação das Casas dos, Pescadores; a construção de norte a sul do País de bairros limpos, higiénicos, destinados aos homens do mar e às suas famílias; a abertura de escolas primárias e a criação de escolas técnicas profissionais de pesca; o estabelecimento de assistência médica e farmacêutica gratuita, com os seus hospitais, as suas creches, os seus lactários e as suas maternidades; a instituição da assistência espiritual e educativa e todo esse admirável e eficiente conjunto de medidas favorecendo e protegendo as suas múltiplas actividades.
Os nossos pescadores, profissionais das diversas modalidades de pesca, muitas dezenas de milhares, encontraram no Governo, no Sr. Ministro da Marinha e na Junta Central das Casas dos Pescadores, a que preside o distinto oficial de Marinha nosso colega e amigo Henrique Tenreiro, os maiores e mais dedicados defensores dos legítimos direitos que assistiam à sua classe.
Assim lhes asseguraram o trabalho, que dignifica, honra, enobrece, dando inteira protecção ao seu futuro na invalidez ou na velhice e aos elementos constitutivos da sua família - mulher e filhos.
Esta obra realizada por poucos, extensiva a muitos, essencialmente e profundamente cristã, de extraordinária recuperação nacional, só se tornou possível pelas condições de ordem económica e social criadas pela acção persistente, inteligente e firme do Sr. Presidente do Conselho, para quem são poucas todas as homenagens.
Desta forma se operou transformação completa nas múltiplas actividades da pesca e se modificou inteiramente a vida dos pescadores. Tem de continuar-se no mesmo rumo e no mesmo ritmo, aperfeiçoando essa obra admirável, quer sob o aspecto moral e social, quer ainda sob o aspecto económico.