144 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 173
nicas é feito em fundições normais de conhecimentos técnicos e experiência dos candidatos?
Como é feito nas nossas escolas técnicas elementares e médias o estudo de ligas de metais, de resistência de materiais, etc.?
Laboratórios e oficinas, dirigentes e mestres, meios materiais para o ensino prático, são no ensino técnico a parte fundamental.
De que serve haver um torno espectáculos e caro, se não há materiais para exemplificar n seu funcionamento, em mestre apto a tirar e a ensinar, portanto, a tirar dele o máximo rendimento no mínimo de tempo?
Pode haver deficiências resultantes de deficiente cultura geral e de improvisação de dirigentes recrutados em regime provisório, o que é inteiramente contrário à índole do ensino técnico.
O Governo pode fàcilmente concretizar as deficiências do nosso ensino técnico, fazendo desaparecer a contradição existente cem edifícios magníficos, mas (pie não podem funcionar por falta de meios, docentes e materiais.
Em França a falta de orientarão superior do Estado é traduzida por várias formas. Um dos Ministros da Educação Nacional da França informou há pouco tempo o Parlamento deste país de que a nossa época tem necessidade de 7 científicos para 1 literário, enquanto que o ensino françês apenas forma 3 científicos para 1 literário.
Em 1953 o ensino técnico francês não pôde fornecer à França os 10 000 técnicos que lhe eram necessários para as suas indústrias.
Transcrevo agora uma afirmarão do relatório para sobre ela abordar algumas considerações: «o equilíbrio entre o ensino em geral, a preparação ao exercício duma profissão e a orientação profissional têm de ser determinados com o maior cuidado e tendo em conta a estrutura o as condições económicas e sociais de cada país». Sublinho propositadamente a orientação profissional.
Em princípio, a orientação a seguir na vida eleve ser a que melhor corresponda às aptidões pessoais do aluno e às necessidades da colectividade. As aptidões pessoas do aluno podem adivinhar-se pela orientação profissional.
Como esta toma o candidato como ponto de partida, e não as exigências económicas ou industriais da colectividade, pode acontecer que a orientação profissional esteja contra as, necessidades do País.
Mas também se deve reconhecer que a orientação profissional poderia evitar a existência de muitos «desajustados» cujo rendimento é diminuto por falta do vocação para a profissão que seguiram.
Por outro lado, deve esclarecer-se que a orientação profissional estuda, informa, aconselha, não impõe seja o que for; por isso a lei da oferta e da procura entrará como factor correctivo do desequilíbrio, que se admite como hipótese, entre as necessidades da colectividade e os resultados encontrados pelos peritos da orientação profissional.
Se o Estado cumprir cabalmente a sua missão fiscalizadora e orientadora, poderemos ter dirigentes que formem técnicos aptos.
O Plano de Fomento e a era atómica exigem engenheiros e técnicos superiores em número e qualidade, para acompanharem o inevitável surto da mecanização e automatização.
Mas para se ser engenheiro é indispensável ter-se vocação para a matemática, sendo em pura perda que se quererá fazer um engenheiro da criança que mostre aversão por aquela disciplina.
O nosso público anda infelizmente bastante afastado e incurioso destas questões. Há pouco tempo realizaram-se em Coimbra três conferências sobre orientação
profissional por individualidades competentes, mas o número de assistentes orçava apenas por uma escassa dezena de pessoas.
Precisamos que as nossas Universidades formem dirigentes competentes e apaixonados pelo seu mister, com vocação, para podermos ter bons técnicos. As preocupações materiais passaram a absorver completamente a atenção dos pais, enquanto os filhos se interessam pelo cinema, pela rádio e pelos desportos. A intervenção do Estado assume assim o carácter de necessidade orgânica da Nação.
De resto, em geral, a preparação dos científicos saídos das nossas escolas superiores deixa a desejar e não os habilita a formar técnicos capazes.
Uma das causas deve-se à falta de docentes universitários um número suficiente.
Quem percorre a Alemanha, renascente das cinzas duma guerra, cujos efeitos pareciam mortais para aquele povo, no ponto de vista industrial, económico e comercial, pode registar factos que nos esclarecem sobre a surpreendente recuperação germânica.
Como paradigma do que se verifica nos outros sectores, vou citar factos referentes ao ensino médico.
Na Universidade Johan-Wolfgang Goethe, de Frankfurt-Main, estavam matriculados em 1955-1956 cerca de 7000 estudantes, dos quais 791 de Medicina (322 do sexo masculino e 269 do sexo feminino).
O número de médicos com funções docentes (professores catedráticos encarregados de curso, docentes e assistentes) foi de 124, ou seja 1 orientador para 6 ou 7 alunos.
Na Universidade de Erlangen estiveram matriculados no mesmo ano lectivo cerca de 2500 alunos, dos quais 463 de Medicina. O número de professores catedráticos (45), docentes (25) e assistentes (245) soma 315 orientadores para os 463 alunos. O ensino aqui torna-se quase individual.
Se, para confronto, escolhermos a nossa Universidade de Coimbra, verificamos que estiveram matriculados 4300 alunos, dos quais 849 em Medicina. O número de professores catedráticos (12), extraordinários (5) e assistentes (27) totaliza 44 orientadores, isto é, 1 para 19 alunos.
A nossa penúria de pessoal pode também avaliar-se pelo que vi no Sanatório de Rohrhach, nos subúrbios de Heidelberg, exclusivamente destinado a cirurgia torácica.
Tem lotação para 400 doentes, com 18 médicos, dos quais 4 médicos-chefes, com o vencimento de 1000 marcos por mês.
Como pode talar-se, dada a penúria de meios docentes no nosso país, em investigação e trabalho experimental, que cristalizam infalivelmente na inércia desde que não haja laboratórios e pessoal especializado disponível? Se os quadros docentes se mantém sem alteração desde 1911, digo alteração apreciável e condigna, como vamos ter amanhã os técnicos que nos vão ser necessários?
Há anos, numa aula prática de medidas eléctricas, duma das nossas escolas superiores de engenharia, a turma, de 30 alunos, tinha apenas 1 assistente a orientar os trabalhos dos mesmos.
Quanto a instalações, a espaço disponível, em tudo que passa pelo Ministério das Obras Públicas, as nossas vantagens são manifestamente superiores, pelo menos nalguns sectores, ao que existe na Alemanha e mesmo na França.
Por exemplo: em Heidelberg o Instituto Geológico encontra-se instalado em edifício que data de 1706. Cátedras desocupadas, institutos antiquados, salas de aula superlotadas, onde os alunos têm de tirar os seus apontamentos sobre os joelhos, condições higiénicas