13 DE DEZEMBRO DE 1956 145
muito precárias da vida dos estudantes, são o reverso da medalha na velha e afamada Universidade alemã, e que se pode ler nos próprios jornais da pátria de Goethe. Apesar das suas deficiências, a reputada Universidade mostra vantagens docentes sobre a nossa Coimbra.
No ano lectivo de 1955-1956 o numero total de alunos foi em Heidelherg de 5323 (semestre de Inverno) e de 6240 (semestre de Verão).
Havia 1210 estudantes de Medicina no semestre de Inverno e 1377 no de Verão. O número de professores, encarregados de curso, docentes e assistentes foi de 103 e 106, respectivamente nos semestres de Inverno e Verão, ou seja um orientador pura 11 ou 12 alunos, bastante distante do numero de 19 de Coimbra.
A divisão do ano lectivo na Alemanha, bastante diferente da nossa, facilita os trabalhos de investigação e de laboratório, pois deixa aos orientadores muito tempo livre. Na Alemanha o semestre de Inverno vai de 1 de Novembro a 1 de Março, com férias de Inverno nos meses de Março e Abril; o semestre de Verão vai desde 1 de Maio a 1 de Agosto, com férias de Verão nos meses de Agosto, Setembro e Outubro.
A penúria de locais que se verifica na Alemanha também se regista em França, onde os estudantes de Direito têm de assistir às prelecções em escadarias munidas de alto-falantes.
Reconforta bastante verificar o que o Governo Português tem realizado em Lisboa, Porto e Coimbra, evitando que o ensino universitário seja deficiente por falta de locais adequados.
Quanto à alimentação dos estudantes, posso informar que na cantina da Universidade de Frankfurt-Main se obtém por 50 Pf. um prato de caldo; por 70 Pf. comem alguns legumes, sem carne, nem pão, nem sobremesa, e, como bebida, apenas água; com um marco obtém-se sopa, alguma carne e alguns legumes; há refeições mais caras, de 1,5 M., de 2 M. e de 3 M., devendo considerar-se deficiente e má a alimentação dos estudantes, além disso muito mais cara do que a dos nossos rapazes.
Em Portugal, ainda que possam apontar-se algumas deficiências a que vou referir-me, elas dizem respeito à capacidade das cantinas e não à qualidade, que é boa, nem ao preço, que é módico. Por 5$ obtém-se no Liceu D. João III um almoço muito bom, com sopa, um prato e sobremesa. Tenho lá almoçado algumas vezes e sempre me tenho dado por satisfeito, pela abundância e qualidade.
Na Universidade de Coimbra há cantinas da Sociedade Filantrópico-Académica, que fornece alimentação por 360$ mensais, com duas refeições, compreendendo sopa. dois pratos e fruta, mas não pode servir mais de cento e vinte alunos.
Nas cantinas do Centro Universitário da Mocidade Portuguesa e na do C. A. D. C. também não podem servir mais de cento e vinte alunos.
Podemos resumir, dizendo que a alimentação dos nossos estudantes é boa e barata, mas torna-se necessário ampliar a capacidade das instalações existentes.
Se é certo que a capacidade dos locais de ensino universitário se pode considerar suficiente, não se pode dizer o mesmo do ensino liceal, como pode verificar-se no Liceu D. João III. onde a penúria de espaço se tornou angustiosa.
Estão a servir de salas de aula os anfiteatros, as aulas de desenho, um gabinete entre as duas salas de desenho, um antigo escritório da Mocidade Portuguesa e a própria biblioteca. O ilustre reitor deste estabelecimento de ensino, Dr. Mário Santos Guerra, defendeu já publicam ente a necessidade da construção dum outro liceu em Coimbra, baseado em argumentos do invulnerável solidez.
Primitivamente, as construções foram calculadas para uma lotação de dezasseis turmas de vinte e cinco alunos, isto é, para quatrocentos alunos. Mais tarde fez-se uma ampliação para uma lotação de vinte e quatro turmas, mas ficaram os mesmos laboratórios, gabinetes e pátios de recreio.
No actual ano lectivo estão a funcionar no Liceu trinta e quatro turmas, algumas com mais de quarenta alunos ...
Não pode pensar-se numa segunda ampliação, por falta de espaço, sem cercear os pátios de recreio, já com superfície muito reduzida, e além disso, seriam precisas mais salas para laboratórios, gabinetes, etc. De resto, com uma população escolar muito densa, é impossível manter a disciplina, a vigilância e exercer acção educativa.
O Ministro da Educação Nacional, atento ao problema suscitado pelo surto de alunos que estão a afluir crescentemente ao ensino liceal, instituiu o 3.º ciclo nos Liceus de Aveiro, Guimarães e Setúbal e o 2.º ciclo nos Liceus da Figueira da Foz, Covilhã e Portimão.
Os comentários do Ministro são expressivos quando fala do «aumento, em ritmo altamente progressivo, da população escolar dos nossos liceus».
Uma palavra de agradecimento deve aqui ser deixada pela construção do novo edifício da Escola Brotero, pois as instalações da velha escola são acanhadas, antiquadas, inadequadas e sem higiene, isto é, têm todos os defeitos técnicos e pedagógicos.
Para terminar esta primeira parte das minhas considerações, e resumindo, transcrevo e medito o passo do relatório onde se afirma que o Ministério das Finanças tem procurado «corresponder, na medida do possível, ao esforço do Ministério da Educação Nacional no sentido das reformas de instrução e de desenvolvimento dos meios de ensino: alargaram-se quadros, melhoraram-se as condições de formação de professores, reformou-se o ensino um várias escolas superiores e melhoraram-se os respectivos quadros docentes ...».
Isto é verdade e é louvável, mas não se harmoniza com as necessidades instantes do tempo que passa. Trata-se de medidas fragmentárias, onde não se observa um impulso vincadamente dirigido, à maneira de um vector, como fez Jaime Moniz há várias dezenas de anos.
Pensemos que a automatização já é noutros países uma espécie de polvo tentacular bastante amplo, onde se encontram sectores da actividade económica indicados pelo Ministro das Finanças no seu relatório: «indústria química, combustíveis, cimento, bebidas, fibras e produtos têxteis, papel, vidro, cerâmica, máquinas-
- ferramentas, minas e comunicações».
Um inquérito às condições em que se encontra o ensino universitário e técnico parece indispensável para que as medidas futuras percam o aspecto emergente, tornando-se adaptadas, por fórmula harmónica e ampla, às circunstâncias presentes e futuras.
Nalguns casos talvez s Governo tenha do modificar a estrutura de ensino, noutros terá de preencher lacunas no que se refere ao número de orientadores, noutros casos são os materiais que faltam nos laboratórios e oficinas que será necessário fornecer; em suma, trata-se duma acção complexa, muito complexa, muito complicada, é certo, mas que o Ministro da Educação saberá tomar a seu cargo, oxalá que depressa.
Passo agora a referir-me ao porto da Figueira da Foz.
Com carácter de erupção brusca, insusceptível de ser contida, realizou-se no dia 8 do Outubro, na Figueira da Foz, uma manifestação popular, que reuniu cerca de 20 000 pessoas, as quais quiseram mostrar-se dedicadas e gratas ao Governo pelos melhoramentos com que recentemente foi dotada a Figueira, entre os quais o início das obras do seu porto.