150 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 173
Examinada a contribuição das novas técnicas para este aumento, apurou-se o seguinte:
Percentagem
Melhor preparação da terra e defesa sanitária
das plantas ....................................... 20
Emprego de plantas melhoradas ..................... 30
Adubação .......................................... 50
Justificada a necessidade de proceder a uma mais intensa divulgação de novas técnicas, temos de considerar o modo como esta deve ser realizada.
Aqui refiro o que tive ocasião de dizer na lição inaugural do curso de férias destinado aos professores do ensino primário realizada em Agosto último, no Funchal:
De geração em geração foram transmitidos intactos o amor ao trabalho, a tenacidade e o espírito de observação do agricultor madeirense.
E a experiência adquirida pelo contacto durante séculos com a natureza e a observação constante dos resultados que lhe deram uma consciência sólida da razão dos processos adoptados e a noção exacta do que era útil realizar.
Não há que transformar radicalmente os processos de cultura, não há ciência que tal aconselhe, e apenas há que corrigir num ponto ou noutro, depois de uma experiência bem conduzida, quer pela modificação do sistema ou das técnicas culturais, quer pela introdução de novas plantas ou de novas raças de animais.
Não há nada mais perigoso do que fazer a divulgação de novos processos culturais ou difundir novas raças apoiado apenas nas indicações bibliográficas, sem que previamente se tenha procedido aos necessários ensaios experimentais.
Não devemos desprezar as lições tiradas de uma experiência que dura cinco séculos, mas precisamos de progredir, e neste sentido devemos apoiar-nos na ciência e seguir os resultados da investigação científica no campo agrícola e pecuário.
É preponderante o papel da técnica e da investigação no desenvolvimento da agricultura; e, tendo sempre em consideração aquilo que existe do passado, precisamos realizar a experimentação local para depois se tirarem conclusões.
Temos de recorrer aos estabelecimentos de investigação das Direcções-Gerais dos Serviços Agrícolas e dos Serviços Pecuários.
É evidente que a ampliação dos serviços de vulgarização agrícola implica o necessário apoio na experimentação e investigação, e por isso se admite como fundamental o funcionamento em condições de eficiência das estações experimentais, estações agrárias e outras e dos estabelecimentos de investigação.
Neste sentido se entende a necessidade duma coordenação que, conjugando todos os sectores, quer experimentais, quer de investigação, imprima a conveniente orientação e fiscalização dos serviços de vulgarização; é o que se pretende realizar através duma inspecção activa e adequada.
É fundamental a existência duma inspecção que esclareça, afine e determine os trabalhos a realizar, em ordem, a assegurar aquela continuidade ião necessária, e contribua para conduzir a investigação e a experimentação dentro de planos bem ordenados.
Na investigação e na experimentação agrícola a existência destes planos é de grande importância, e uma vez discutidos e aprovados devem ser integralmente cumpridos, não podendo ser alterados por meras circunstâncias ocasionais.
Como, em regra, são necessários vários anos para se tirarem conclusões, a acção dos serviços dilui-se no tempo, e muitas vezes os resultados perdem-se ou não se chegam a apreciar; neste aspecto é necessária uma continuidade que deve ser assegurada e neste sentido podem os serviços de inspecção referidos no relatório prestar relevantes serviços.
Sente-se a urgência de instalar convenientemente os estabelecimentos regionais e a Estação Agronómica Nacional, promovendo o seu reapetrechamento em condições de se lhes poder exigir maior soma de trabalho e tirar deles o pleno rendimento.
São conhecidos da agricultura os bons resultados colhidos com as novas variedades de trigos, cevadas e avelas e de forragens de sequeiro, obtidas na Estação de Melhoramento de Plantas, em Eivas, e todos reconhecem a importantíssima actuação deste organismo.
Menos conhecida tem sido a obra realizada pela Estação Agronómica Nacional, a qual, agora, depois de instalada em Sacavém, tem de ser transferida para Oeiras, mas, para minorar os inconvenientes que resultam desta mudança, interessa dedicar a este problema a mais desvelada atenção.
Os benefícios que resultaram das investigações realizadas nesta Estação são também muito consideráveis.
Estão já largamente divulgadas duas novas variedades de arroz e começam a ser conhecidos os bons resultados da cultura de Inverno nos terrenos dos arrozais com o trevo da Pérsia, o que muito pode contribuir para o aumento do efectivo pecuário.
Obtiveram-se novas variedades de tremocilha e ervilhaca e de tremoço.
Foi realizado o estudo da «maromba do Douro», doença da videira muito antiga naquela regido, e depois de investigações realizadas na Estação Agronómica Nacional, de 1949 a 1951, que demonstraram não ser de natureza infecciosa, foi descoberta a causa do mal, o qual era originado pela deficiência de boro no terreno.
Com a aplicação deste elemento desapareceu a origem do mal e consequentemente os prejuízos então verificados, que chegavam, nalguns casos, a originar um decréscimo de 50 por cento da produção. Por aqui se pode avaliar a benéfica repercussão deste estudo na economia vinícola do Douro.
Produziram-se em Sacavém e em Alcobaça novas variedades de videiras: resistentes ao míldio, de uvas sem grainha, para mesa ou para passa, e de uvas de vinho tintas.
Também, no departamento de pomologia, em Alcobaça, se obtiveram novas variedades de pessegueiros, de macieiras e de morangueiros. Muitas destas novas variedades, depois de convenientemente experimentadas, poderão trazer uma valiosa contribuição para melhorar a nossa produção vitícola e pomícola.
Foi seleccionado todo o material necessário para, numa região isolada, ser instalado o viveiro vitícola nacional, cuja finalidade é assegurar a multiplicação de videiras isentas de doenças, com a garantia das variedades, o qual servirá de base para a distribuição a fazer aos viveiristas e à lavoura. Esta instalação vai realizar-se em íntima ligação da Estação Agronómica Nacional com a Repartição dos Serviços Vi ti vinícolas.
Poderia ainda referir outros trabalhos, tais como: a prospecção das posturas do gafanhoto, em termos de permitir o seu combate eficaz; a determinação da oportunidade dos tratamentos para o combate à mosca da azeitona; o estudo dos problemas do abrolhamento da batata, relacionados com a sua conservação, e os ensaios de nutrição da planta do arroz, tendentes a resolver o problema da «branca», etc.