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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 178 236

rismo, da violência regressiva, das sinistras aventuras e das fantasias patológicas, ou então o mundo dos paraísos artificiais, sem qualquer relação com a verdade, a história e a vida.
Termino, Sr. Presidente, a referência feita ao ponto de vista de quem, por tantos e tão comprovados títulos de idoneidade, pode afoitamente tomar posição no problema reproduzindo este- comentário final, pleno de justeza e que conduz a séria meditação: «Na exploração sistemática organizada da inocência infantil há sempre qualquer coisa de prostituição monstruosa e degradante».
Não quero omitir o que se passou na sessão de trabalhos do II Congresso da Mocidade Portuguesa, efectuado na última semana do mês de Maio do passado ano, pois ai se evidenciou a necessidade do maior controle da publicação de jornais e revistas infantis e juvenis, avançando-se mesmo a ideia de que fossem feitas publicações que concorressem em quantidade e apresentação com as que têm um fim meramente comercial, marcando-se ainda a conveniência da edição de obras de interesse formativo para os jovens.
É-me igualmente muito grato por em destaque o sentido humano e espiritual, a rasgada compreensão, a galhardia e o cunho de verdadeira cruzada com que a «Presença do Futuro» -página do Diário da Manhã dedicada aos novos e pelos novos colaborada- vem ocupando-se do alto problema em função do qual me decidi hoje a pedir o uso da palavra nesta Câmara.
 memória do Prof. Serras e Silva, grande apóstolo da causa da educação, tributo sentimentos respeitosos de admiração comovida.
Sr. Presidente: «é preciso que os jovens no âmbito da sua vida possam vir a contribuir com dádivas elevadas para a própria sociedade, a qual - segundo o pensamento augusto de Sua Santidade Pio XII- dos jovens espera a condição válida do seu amanhã». Assim é, de facto.
Não querendo exceder-me para além do campo do problema da literatura infantil e juvenil e tendo em conta as suas implicações, insinuarei que um dos processos de rarefazer as funestas consequências da publicação de livros condenáveis - proibi-los in limine seria tudo consiste exactamente em ser-lhes oposta a edição abundante de livros bons. Neste pormenor podemo-nos ir alegrando com o caminho que se começa de trilhar.
O que entendemos por bons livros, cuja leitura se destina às crianças e adolescentes ? Os que recreiem, instruam e eduquem.
Recreiem - ostentando uma agradável apresentação gráfica, com o enredo de histórias simples, emolduradas por atraentes desenhos, quê toquem, com prudência, a fantasia e a imaginação dos pequeninos leitores;
Instruam - em adaptação adequada à idade de quem os procura e que, nos moldes duma redacção cuidada, conduzam à aquisição de conhecimentos, através dos seus laivos didácticos;
Eduquem - porque, numa acção formativa de dentro para fora, possuam sempre uma feição construtiva, erguendo almas a grande altura, robustecendo o carácter, enaltecendo os valores morais e espirituais da vida, com destaque para as verdades eternas que a transcendem, e, dado que se destinam às camadas moças da nossa terra, façam sempre portugalidade.
Para que tão proveitosa sementeira se realize com largueza, como é mister, e com a fecundidade que desejamos, até -e não é o menos- para que a consciência dos valores morais da civilização cristã não se perca e mais se enraíze, há que considerar atentamente e de modo primacial a natureza dos assuntos e dos motivos que constituam a urdidura dos livros e o modo de os tratar.
Nesta matéria, Sr. Presidente, não quero entrar em grandes pormenores, mas sempre direi que perfilho como critério aceitável escolher preferentemente os temas relacionados com viagens, biografias e acontecimentos históricos.
Acrescentarei que, se a História já foi definida como sendo, não apenas registo de factos, mas profundo sentido de vida dos povos, sem deixar de apontar e justamente enaltecer os pontos cimeiros da trajectória da existência da comunidade nacional dos nossos dias -estou a lembrar-me do extraordinário manancial de educação, a impor reflectido aproveitamento, contido no apostolado cívico e patriótico da vida excelsa, fecunda doutrina e obra ingente de Salazar, recorra-se então à força heróica do passado, para que, como já dissera Herculano, sejam as memórias da Pátria que tivemos o anjo de Deus que sempre nos revoque à energia social e aos santos afectos da nacionalidade.
Sr. Presidente: entendo para mim que nesta grande causa em que todos nos devemos empenhar a legitimidade dos nobres fins em vista justifica e até aconselha a irrecusável necessidade da busca dos meios que mais satisfatoriamente a eles conduzam.
Direi, então, que, dada a carência em quantidade bastante de bons livros infantis e juvenis e, ao demais, pouco acessíveis no preço, entusiasticamente de festejar seria a ideia de que surgisse uma editorial que os publicasse em abundância e nas condições óptimas de qualidade e custo de aquisição.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Para que empreendimento de tão fecundos resultados sociais, empreendimento que não hesito em classificar de benemerente, possa ter viabilidade e condições de suporte económico, não poderia a Fundação Calouste Gulbeukian dar-lhe o concurso inestimável da sua ajuda valiosa?
Aqui deixo exteriorizado um apelo confiante, tanto mais que considero obra desta natureza e de tal envergadura como devendo preocupar - insisto - todos os portugueses e não constituir somente encargo do Governo, que, aliás, dele se vem desobrigando, através do Ministério da Educação Nacional, com a criação da «Colecção Educativa».
Em qualquer caso, há uma advertência final que, em consciência, não posso calar.
Dirijo-a a todos os que, como eu, de Deus receberam o reconfortante dom, mas também a grave responsabilidade, da sua condição de pais. A nós, pais, nos incumbe, em primeiro lugar, o dever indeclinável -dever sagrado, direi- de cuidarmos com amor, com solicitude e por forma vigilante da formação do espírito, da valorização da vontade, da nobreza do coração daqueles que são, afinal, o tesouro maior da nossa vida.
E não há que apontar negligências? Terão todos os pais da nossa terra meditado já em que quando, por sua criminosa indiferença, um filho chega à maioridade deformado ó uma acusação e um clamor de vingança que contra si próprios levantam e a que só eles deram origem? Levantar a dúvida não sei se implica o revolver e unia ferida mal cicatrizada de alguns chefes de família, mas poderá também despertar salutares desejos de contrição, louváveis propósitos de emenda e sempre exprime um aviso muito sério.
Sr. Presidente: tenho a noção de que falei muito. Duvido, porém, se disse tudo. Convenço-me, todavia, de que aflorei um daqueles grandes problemas cuja consideração e importância não podem ser enjeitadas, sequer minimizadas, seja por quem for, e muito menos pela consciência dos homens superiormente responsáveis da nossa