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634 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 201

dade histórica; tornar o País sadio e forte, na expectativa de qualquer momento decisivo que pode surgir e surpreender-nos; quando vejo a vastidão do programa e encaro as dificuldades, os obstáculos, as deficiências de toda a ordem com que se é obrigado a lutar, e, por cima de tudo, ainda tanta miséria, tanta injustiça, tanta imoralidade - meço com desgosto a grande distância que vai da nossa capacidade de realização aos nossos desejos de servir!

Era isto em 1932. Depois disso veio a guerra de Espanha, a guerra mundial, as insólitas pretensões de Nehru sobre a nossa índia ...
E, a despeito de tudo quanto de anormal se passou na vida do Mundo, com profundos reflexos na vida nacional, podemos verificar hoje, com legítimo orgulho, quanto &e progrediu e melhorou a vida do País em todos os sectores e aspectos.
Suponho que todos podemos concordar em que, depois de 1932, muito se melhoraram as condições e o nível de vida em Portugal.
Mas o ilustre Deputado avisante, concordando em que assim é, procurou, através do seu aviso prévio, fazer o ponto em face de tudo quanto se tem realizado com vista a melhorar as condições e o nível de vida em Portugal, para saber aonde chegámos e o que nos faltará realizar ainda pura atingir a meta aonde se impõe chegar».
Para resolver o problema que propôs elaborou, com verdadeiro espírito científico, uma demonstração, a partir do poder de compra do escudo, para determinar o que em média o Português poderia ou poderá, na realidade, consumir.
Recolheu números e deles deduziu, com rigor matemático, determinadas conclusões.
A dúvida que se põe ao meu espírito - e peço ao Sr. Deputado Daniel Barbosa compreensão para ela, pois não sou um economista - é se o método que seguiu se ajusta às realidades económicas, sociais, históricas e psicológicas da vida portuguesa em que o Governo teve de actuar.
É que, se assim não for, não me parece que as conclusões finais, a despeito do frio rigor matemático com que foram deduzidas, correspondam a uma verdadeira interpretação da evolução da vida portuguesa.
Como mero observador que sou da vida portuguesa - e já vem de longe essa observação -, sinto, vejo, através da multidão de factos que considero, que é bem mais elevado o nível de vida em Portugal do que era há duas ou três dezenas de anos.
E, pensando em que medida o Governo para isso terá contribuído, de todos os sectores da vida surgem indicativos da sua contribuição, desde o equilíbrio das contas públicas, o saneamento da moeda, aproveitamentos hidroagrícolas, protecção à indústria, melhoramentos rurais, assistência médica, legislação social sobre o trabalho, contratos colectivos com garantia de salários mínimos, difusão da instrução, bolsas de estudo, desenvolvimento do ensino técnico, etc.
E tudo foi necessário fazer simultaneamente, porquanto tudo se encontrava em marasmo e estagnação.
Não cito números porque o tempo de que dispus não me permitiu a sua recolha. Mas eles estão publicados, muitos vulgarizados; e através deles se pode fazer a verificação do progresso realizado.
No entretanto, não deixarei de salientar que, no campo industrial, à acção directa do Governo se deve a criação de algumas novas indústrias, que representam, não só fontes ide riqueza, como também loca is de trabalho pura centenas de .técnicos saídos das nossas escolas superiores e absorção de mão-de-obra de operários qualificados, que nelas auferem salários mais elevados e outros regalias que não poderiam obter sem a sua existência.
Entre estas destaco a produção de azotados e a celulose, indústrias novas em Portugal, cuja produção representa anualmente centenas de milhares de contos; os aproveitamentos hidroeléctricos, que, lançados simultaneamente com a electroquímica, nesta encontram colocação para integral aproveitamento de toda a sua capacidade de produção.
Mas o nosso parecer das Contas Gerais do Estado de 1955 diz-nos alguma coisa que esclarece o desenvolvimento industrial dos últimos anos.
Refere-se ali, ia propósito do desenvolvimento da indústria, que o número de sociedades constituídas, que era, em 1950, de 6863, com um capital social de 2771 milhares de contos, passou, em 1955, para 8337, com 5399 milhares de contos.
Comenta-se no valioso parecer este facto, dizendo:

Deu-se, na verdade, aumento apreciável nos últimos seis anos, tanto no número de sociedades constituídas, como no seu capital social. As indústrias transformadoras ocupam agora a actividade de mais de 300 000 pessoas.
Ora este facto é seguro indicativo de progresso económico e também garantia de melhoramento de nível de vida para os que nessas novas indústrias trabalham.
E, quanto ao nível de vida de muitas das nossas classes trabalhadoras, não devem deixar de se considerar certas adjuvantes do salário auferido, como o abono de família, assistência médica gratuita, colónias balneares, cantinas escolares e tantas outras, que são coisas novas em Portugal e que, por certo, não entraram nos cálculos do Sr. Deputado Daniel Barbosa.
Se o progresso económico e a elevação do nível de vida não fossem fortes realidades, como explicar o aumento extraordinário, mesmo em relação ao aumento de população, da nossa frequência escolar no ensino médio, no secundário e no universitário?
Eu sei que todas estas generalidades que estou afirmando, reveladoras do nosso progresso económico e da elevação do nosso nível de vida, foram também reconhecidas e afirmadas pelo ilustre Deputado Daniel Barbosa nas brilhantes considerações produzidas no decurso do seu aviso prévio.
Mas é a comparação com o que se passa noutros países que impera no seu espírito e o estimula a solicitar aceleração no ritmo das realizações que mais impulsionam o progresso económico e a elevação do nível e vida.
Mas a tal propósito parece-me oportuno referir, embora na certeza de que o ilustre Deputado o considerou, o que diz o professor Hicks na sua Introdução ao Estatuto da Economia, quando se ocupa de realidade Económica e Teoria Económica» e trata da forma como foram recolhidos nos diversos países os factos utilizados pelo economista.
Escreve ele o seguinte:

Daqui resulta que são muito difíceis as comparações internacionais, o que constitui um obstáculo que devemos recordar permanentemente.
Por isso me permito não aceitar as conclusões que apenas se deduzem por raciocínios matemáticos formulados sobre dados estatísticos para estabelecer uma hierarquia de níveis de vida e de bem-estar social de povos de diferentes situações geográficas, tradições