27 DE ABRIL DE 1957 831
Quero deste lugar formular votos pela Loa viagem daquele ilustre membro do Governo, a quem a Madeira tanto deve, pelo cuidado e atenção que tem dedicado aos seus problemas, esforçando-se para que estes sejam sempre estudados com a maior celeridade e postas também rapidamente em execução as soluções adoptadas. Estou certo de que na sua próxima visita o Sr. Ministro das Obras Públicas mais uma vez constatará os sentimentos de respeitosa consideração e reconhecimento que lhe consagra, por forma unânime, a população da Madeira.
Tem esta em aberto uma grande aspiração: a construção do aeródromo, condição essencial para resolver o problema das suas comunicações e elemento indispensável à valorização do seu turismo.
Para a solução deste problema muito se tem progredido nos últimos meses, mercê do interesse que lhe têm dedicado o Sr. Ministro das Comunicações e a Direcção-Geral da Aeronáutica Civil.
Uma brigada de técnicos visitou recentemente a Madeira a fim de colher novos elementos de estudo, pensando-se construir muito brevemente uma pista que permita a descolagem de um pequeno avião que tenha por objectivo a recolha de informações de ordem meteorológica indispensáveis ao esclarecimento da melhor solução a adoptar, entre as várias que se julgam possíveis.
Tenho muita pena de que o Sr. Ministro das Comunicações, a quem ainda recentemente me referi nesta Câmara com expressões de merecido apreço e inteira justiça, não possa, por agora, deslocar-se à Madeira. Ficamos, entretanto, esperando a oportunidade da visita de S. Ex.ª, e estou certo de que o Sr. Ministro das Obras Públicas não deixará de transmitir ao seu ilustre colega no Governo as suas impressões pessoais, não só sobre as possibilidades técnicas do empreendimento, mas também sobre as grandes vantagens que resultariam da sua execução para o progresso e para o futuro daquela ilha, parcela rica e valiosa da Nação Portuguesa.
Sr. Presidente: oxalá que precisamente daqui a quatro anos, no encerramento da próxima legislatura, já concluídas ou em vias de conclusão as obras previstas de ampliação do porto do Funchal e das instalações destinadas ao fornecimento de combustíveis líquidos à navegação, possam os Deputados eleitos por aquele círculo agradecer ao Governo a construção do aeródromo na ilha da Madeira.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem! O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Rui de Andrade: - Sr. Presidente, meus prezados colegas: há muito que sou solicitado por um grupo de antigos empregados do Estado demitidos dos seus empregos por terem estado implicados em assuntos políticos em várias ocasiões.
Todos ou quase todos os que se encontraram nas mesmas situações foram considerados e obtiveram reformas, mas estes não.
Não tenho competência para saber se todos têm ou não razão, e é possível que alguns a não tenham. Sei porém, de alguns que certamente se sacrificaram, por terem cumprido ordens superiores ou espontaneamente, em defesa da boa doutrina nacional.
Julgo que, desde que contribuíram para o sucesso da actual situação, não devem ser esquecidos, porque seria uma ingratidão contra estes - já poucos - servidores da Nação, para os quais chamo a atenção, e por isso não quero deixar o Parlamento sem recomendar ao Governo uma atenta e benévola revisão deste problema. Junto mando a lista das pessoas que têm requerido o inquérito à sua situação.
Sr. Presidente, meus queridos e simpáticos colegas: perdoem se lhes vou roubar alguns minutos; quando se chega à minha idade já se não pode contar com muitos mais dias, e por isso, antes de nos separarmos, vou aproveitar esta última ocasião de nos acharmos juntos para lhes fazer as minhas despedidas. Muito obrigado pela gentil camaradagem.
Entrei nesta Casa pela primeira vez há mais de cinquenta anos. Desde então Deputado, nela presenciei os mais emocionantes momentos da vida política da Nação: morte de el-rei D. Carlos; queda da monarquia; assassinato de Sidónio; Monsanto; liquidação dos democráticos ; revoluções militares; 28 de Maio; obra de Salazar. Se toco neste ponto, é porque o que lhes vou dizer a seguir lhes lembro como exemplo.
Bem novo, com o mínimo de idade exigido por lei, por pedido do conselheiro João Franco e desejo de S. M. El-Rei D. Carlos e pela quase unânime vontade dos eleitores do distrito de Portalegre, onde trabalhava nas labutas do campo, vim sentar-me no centro desta Câmara, extremo esquerdo das direitas.
É já uma época bem afastada de nós, mas a grande alma de português de el-rei D. Carlos tinha animado nos novos de então extremo entusiasmo para colaborarmos com ele num esforço de ressurreição da nossa pátria.
El-rei D. Carlos tinha-se empenhado em levantar Portugal, e na África desenvolviam-se as gloriosas campanhas que, com a efectiva ocupação e pacificação, deviam obstar àquela espoliação que começara com o Congo e o interland das nossas províncias costeiras como tópicos mais evidentes.
Mouzinho - que conheci -, auxiliado por Azevedo Coutinho, Aires de Orneias, Couceiro, João de Almeida, os Gaivões, Mascarenhas, Freire de Andrade e tantos e tantos que foram do meu tempo e meus amigos e com os quais mais tarde tanto labutei, estava empenhado neste labor. E não era só a organização ultramarina, mas todas as questões nacionais: financeiras, culturais e reconstrutivas.
Quando el-rei D. Carlos estava no mais forte desta batalha de ressurreição foi abatido traiçoeiramente pelas costas, aproveitando a sua corajosa e leal confiança no povo português, por uns sicários a soldo de inconfessáveis interesses partidários e externos, gente que ainda hoje se move para preparar outra derrocada da obra que reconstruiu outro grande, que teve a sorte de, felizmente, nos vir salvar.
Ruiu toda a obra daquele grande rei, do qual tantos anos esteve ali em frente de nós aquela estátua que hoje está escondida num corredor da nossa biblioteca e que, se houvesse a coragem da gratidão, bem que pequena, deveria estar ela, pelo menos, à luz do sol numa praça.
Quando entro e vejo a sua falta, nunca me esqueço da última ocasião em que o vi, em Vila Viçosa, dois dias antes do assassinato, e lhe falei e o adverti, e das palavras que me respondeu: «Não, Rui; tenho de ir a Lisboa e irei». E foi e o mataram. Para a nossa geração, para Portugal, foi uma catástrofe.
Vai acabar este nosso mandato e o 28 de Fevereiro de 1908 aproxima-se, dia cinquentenário da grande tragédia, e por isso aproveito esta minha última estada para lembrar que não cumprirão o seu dever de gratidão aqueles portugueses que esquecerem este dia, de triste recordação, e não tiverem a coragem de comemorar dignamente essa data com aquele preito de homenagem que é devido e repudiando aquele delito de poucos, ao qual a generalidade do País foi estranha e que dês-