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686 DIÁRIO DÁS SESSÕES N.º 104

(...) o aproveitamento de um rio, como ainda no relevo dado a alguns aspectos de indiscutível interesse económico.

Os principais fins que o esquema visa são: o domínio dos caudais sólidos, a regularização das cheias, a rega, a produção de energia eléctrica e o abastecimento de água a vinte e um concelhos da região.

Valerá a pena determo-nos, em ligeira análise, em cada um destes aspectos:

1) CAUDAL SÓLIDO. - A solução do progressivo e gradual assoreamento do Mondego é tarefa complexa, competindo boa parte da mesma ao revestimento florestal e trabalhos de correcção torrencial já referidos. No entanto, as grandes barragens podem domar os perniciosos efeitos desta situação. Prevêem-se, no esquema referido, grandes capacidades para retenção dos carrejos, nas diferentes albufeiras, capacidades que totalizam quase 100 milhões de metros cúbicos.

2) Regularização Das Cheias. - Naturalmente que uma solução deste problema não poderá deixar de ter em conta obras de regularização fluvial a jusante de Coimbra, as quais aumentarão a capacidade de vazão do rio. Torna-se, por outro lado, indispensável a criação no curso médio e superior de albufeiras, convenientemente dimensionadas, que façam o abatimento das grandes pontas de cheia.
As albufeiras projectadas pela Companhia Eléctrica das Beiras (Dão, Mondego e Alva) dispõem de Dezembro a fins de Março de uma capacidade livre de 220 milhões de metros cúbicos para amortecimento das grandes ondas de cheia.
Tal capacidade, conjugada com uma vazão do leito do rio, a jusante de Coimbra, da ordem dos 1500 m3/s, teria permitido dominar todas as cheias que se verificaram no período de quarenta anos atrás referido.

3) REGA. - Considera-se a possibilidade de regar:

a) Os campos da Cova da Beira;
b) Os campos de Celorico;
c) Os campos de Coimbra e de Cantanhede ao Vouga.

Já o nosso colega Eng.º Araújo Correia (in Estudos da Economia, Aplicada, p. 137) defendeu a importância da rega dos campos da Cova da Beira, «área de bons terrenos de aluvião, conhecidos pela sua fertilidade e habitados por gente acostumada a regar. No momento actual, grande parte das suas possibilidades perdem-se por virtude da falta de água nos meses em que ela é mais necessária».
No plano da Companhia Eléctrica das Beiras considerou-se inicialmente a irrigação da Cova da Beira com água da albufeira de Asse-Dasse, desde que não fosse possível arranjar em condições mais económicas uma albufeira no Zêzere que preenchesse tal fim.
Uma terceira solução, também considerada posteriormente, consistiria em aumentar o armazenamento da albufeira de Vila de Soeiro de 12 para 45 + 1O m3, desviando através de um túnel de 3 km os 30 x 1O m3 de água indispensáveis ao regadio dos 5000 ha a 6000 ha de terrenos da Cova da Beira.

O Sr. Melo Machado: - V. Ex. dá-me licença

O Orador: - Com todo o prazer.

O Sr. Melo Machado: - V. Ex. reconhece que esse plano não se poderá realizar com inteira vantagem e proveito se não houver uma arborização uma florestação, como V. Ex. quiser perfeita e completa.
Se começa cada povoação a embirrar com os serviços florestais porque vão plantar árvores, não teremos nunca a solução ideal que V. Ex. tem estado a desenvolver. V. Ex. reconhece isso?

O Orador: - Eu disse há pouco que se devia intensificar a florestação de todos os campos da serra. Mas também defendo que não devemos tomar medidas abruptas que, em última análise, prejudiquem os povos e criem mal-estar. Parece-me lógico e humanamente aceitável que se conjuguem as duas coisas e que aos povos a quem são retirados esses campos sejam dadas outras possibilidades de vida.

O Sr. Melo Machado: - Todos esses trabalhos darão ocupação a muitos braços.

O Orador: - Foi o que eu disse há pouco.

O Sr. Vasques Tenreiro: - V. Ex. dá-me licença?
O Orador: - Com todo o gosto.

O Sr. Vasques Tenreiro: - Há momentos tive a ousadia de apoiar com bastante vivacidade a explicação de V. Ex. deu ao nosso colega que o interpelou, gora acrescento mais alguma coisa.
A volta da floresta, e da não floresta criou-se um clima de paixão que é pouco lógico. E como se se tratasse do Benfica e do Sporting, quando o que importa é jogar bem ... O que é importante é levar a floresta às serras, mas por processos suaves, dando em troca qualquer coisa às populações que as utilizam com gado. São povoações que vivem num estado de vida completamente ausente da floresta.
O nosso colega diz agora que as coisas se começam a fazer de outra maneira. Mas, se se começa a fazer de determinada maneira a partir de determinado momento, isso deve-se a observações pertinentes quanto a desvios que se praticam ou- praticaram quando se pretende lançar grandes empreendimentos. E muito grato ouvir uma pessoa, com especial autoridade, dizer que agora as coisas se passam de outra maneira. Estaremos assim todos de acordo e sem paixão.

O Orador: - Registo, com muito gosto, esse acordo.

Os campos de Celorico, numa área provável de 1000 ha, seriam irrigados com base na albufeira do Caldeirão, computando-se para tal fim um volume de água da ordem dos 8 x 1O m3.
Finalmente, os campos do Mondego e de Cantanhede ao Vouga, considerados no projecto de 1940 da Junta Autónoma das Obras de Hidráulica Agrícola, teriam sempre garantido, através do esquema da Companhia Eléctrica das Beiras, o volume de 340 x 10 m3 de água reputado indispensável para o conveniente regadio dos 50 000 ha previstos.
4) PRODUÇÃO ENERGIA ELÉCTRICA. - O plano da Companhia Eléctrica das Beiras apresenta dois sistemas: um constituído pelos escalões de Asse-Dasse, Vila Soeiro, Girabolhos, Ervedal II, Foz do Dão e Alva e outro pelos escalões de Asse-Dasse, Vila Soeiro, Girabolhos, Ervedal II, Ázere, Caneiro, Dão e Alva.
Trata-se essencialmente de aproveitamentos em cascata, sendo a grande unidade do sistema o aproveitamento de Asse-Dasse.
O total de energia garantida em 100 por cento dos anos, sem apoio exterior (e excluindo o escalão do Alva), é de 600 milhões de kilowatts-horas no primeiro sistema e 615 milhões de kilowatts-horas no segundo.