O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

8 DE MAIO DE 1959 693

forço que a todos incumbe de contribuir para aumentar a riqueza colectiva, melhorar a sua distribuição, satisfazer as mais prementes necessidades dos Portugueses, por mais de uma vez -devo confessá-lo- me senti na obrigação de trazer este caso à Câmara.
Entendi, porém, dever aguardar que o incidente se fechasse, tanto para não prejudicar, com alguma palavra mais dura ou atitude mais viva, as negociações que, entretanto, estavam a ser efectuadas, como, principalmente, para não colaborar, de alguma sorte, na manobra que estava no fundo de mais este espectacular gesto do Sr. General Humberto Delgado, gesto nada heróico e muito menos de autêntico portuguesismo.
Que se teve em vista com esta atitude?
Qual a génese deste procedimento? Que fins se pretendia visar?
Cuido que o tempo decorrido, os acontecimentos que se processaram desde então e as próprias palavras, com a habitual falta de comedimento, do Sr. General Humberto Delgado, nos revelam, com suficiente nitidez, os contornos de uns e outros.
A entrevista hoje concedida ao jornal O Século pelo Sr. Ministro do Interior esclarece, de resto, alguns aspectos que podiam não ser evidentes a todos.
É notório que o gesto do Sr. General Humberto Delgado, albergando-se na Embaixada do Brasil, constituiu uma manobra que pretendia afectar tanto as fraternas relações entre os dois países da Comunidade como preparar um mau ambiente internacional ao Governo do sen país e, ainda, criar um clima interno de emoção e efervescência políticas.
Interrogado pelo jornalista a este respeito, o Sr. Ministro do Interior manifestou a sua convicção de que a tentativa revolucionária descoberta em Março último estava articulada com a atitude do Sr. General Humberto Delgado, bem como com a de outros asilos políticos posteriormente procurados.
Com efeito, disse o coronel Arnaldo Schulz: Tudo indica que sim. A imprensa estrangeira já publicou declarações muito expressivas acerca das origens do conselho dado ao general Delgado para recorrer àquela tão espectacular como lamentável manobra. Sabia-se perfeitamente que o Governo não tinha nenhuma intenção de incomodar o general Delgado, à parte o castigo que lhe foi dado pela autoridade militar competente. Levando-o a pedir refúgio na Embaixada do Brasil, procurava-se cinicamente criar um conflito com o pais irmão. Não se contou, porém, com a serenidade, o bom senso e a amizade dos dois povos e dos seus Governos. É até provável que o objectivo de provocar a todo o custo uma alteração de ordem se destinasse mesmo a confirmar a alegação inicial do general Delgado, dando-se como comprovada a atmosfera revolucionária propicia à invocação do asilo diplomático.
Também os jornais estrangeiros já disseram que ele esteve sempre aguardando uma revelação e prevendo-a para dias e para horas».
A manobra não resultou em nenhum dos aspectos. Quebrou-se de encontro à amizade radicada em laços de sangue, de cultura, de língua e de história dos dois povos lusíadas ...

Vozes: - Muito bem !

O Orador:-... desfez-se perante a serenidade de dois Governos conscientes da sua missão no Mundo, do sentir das suas gentes, da medida e proporção das coisas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Frustrou-se no plano interno, porquanto os diferentes modos de pensar ou entender a vida não justificam, perante ninguém de bom senso e recta intenção, transformar a paz, em que graças a Deus temos vivido, em desordem, converter diferendos em massacres, resolver as ansiedades e as angústias dos homens criando um clima de intranquilidade e subversão.
As habilidades, por mais subtis que sejam, costumam deixar cair, mais dia menos dia, aqueles que delas se servem ou as usam como processo' de actuação no logro que preparam e acabam sempre por se tornar evidentes, mesmo aos mais ingénuos, mesmo aos mais apaixonados. É o caso.
Depois, mandaria o bom senso - quando existe - que se calassem, para evitar o ridículo de que inevitavelmente acabam por se cobrir.
Ridículo no presente, vergonha no futuro.

Sr. Presidente: os dois povos lusíadas já deram suficientes provas de mútuo conhecimento, de fraterna amizade, para que pudesse dizer-se que este incidente serviria para por à prova esses sentimentos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O povo brasileiro, povo estuante de energia criadora, a nação brasileira, segunda pátria de tantos e tantos portugueses que ali dão o melhor da sua capacidade para o prodigioso desenvolvimento daquele grande império do futuro, o povo e a noção brasileira, foram durante estes meses os mesmos que não hesitaram em acompanhar-nos, decidida, altiva, fraternamente, quando as pretensões indianas pareciam por em cansa uma parcela muito querida da nossa terra, terra a que por isso mesmo o Brasil estava também ligado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É com o maior e mais vivo sentimento de orgulho que registo aqui e neste momento esse facto, que nem por ser esperado deve deixar de ser referido com emoção sentida.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O Governo Brasileiro procedeu sempre e em tudo como lídimo intérprete dos sentimentos do seu povo, com inteira consciência da missão histórica dos dois povos, mostrando total compreensão e manifestando completa confiança na atitude honrada do Governo Português.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador:-Não teve, de resto, de que se arrepender. Ao Presidente da República Brasileira, que antes de iniciar o seu mandato nos deu a subida honra de visitar o nosso país e a todos os portugueses ofereceu assim ensejo para lhe manifestarem a muita estima e viva simpatia, ao Presidente Kubitschek de Oliveira desejo prestar neste momento -e cuido que a Cornara me acompanhará unanimemente - o preito das minhas homenagens de muito respeito e viva admiração, homenagens em que quereria envolver, com calorosa emoção, o povo e a pátria brasileira.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador: - Sr. Presidente: o general Humberto Delgado saiu livremente da Embaixada do Brasil e por suo livre vontade seguiu paro terras brasileiras.
Interrogado também a este respeito, o Sr. Ministro do Interior declarou: «Para Portugal, o Sr. General Humberto Delgado esteve, simplesmente, hóspede da Embaixada Brasileira, e foi nessa qualidade que sempre se lhe garantiu livre saída em qualquer momento. Foi assim que, em cumprimento do que fora inicialmente declarado